Entendo que o título desta coluna possa gerar algum tipo de discussão quando se avaliam as variadas perspectivas dos direitos de mídia de uma competição. Portanto, em alguns aspectos um pode valer mais do que o outro, e por isso vou tentar fazer uma análise em pontos que sejam possíveis de se comparar.
Atualmente, o valor dos direitos domésticos (apenas território nacional) do Campeonato Brasileiro é de cerca US$ 540 milhões. Já o valor da Liga Saudita é bem inferior, próximo dos US$ 100 milhões. A diferença neste quesito é enorme e joga a favor do Brasileirão, mas, em outras frentes, o nosso principal campeonato está bem para trás.
Até o início deste ano, a Liga Saudita não despertava nenhum interesse internacional, ou seja, sua exposição se limitava apenas ao mercado doméstico e alguns países próximos que tinham interesse local por conta de suas competições continentais. Algo como o interesse aqui no Brasil pela Liga Argentina por conta da participação de equipes portenhas na Conmebol Libertadores e na Conmebol Sul-Americana.
A ida de Cristiano Ronaldo para lá logo após a Copa do Catar foi mais um passo deste movimento que busca aumentar a visibilidade da Arábia Saudita além dos territórios vizinhos no Oriente Médio. Digo que foi apenas mais um passo pelo fato de que o país já é sede de uma etapa da Fórmula 1, por exemplo, desde 2021. Além disso, tem acordo vigente para sediar a Supercopa da Espanha desde 2022 e, a partir de 2024, também sediará a Supercopa Italiana por pelo menos quatro anos.
Os esforços não param por aí. Em 2027, será sede da AFC Cup, correspondente asiática da Copa América, assim como dos Jogos Asiáticos de Inverno em 2029 e dos Jogos Asiáticos em 2034.
Mesmo com CR7, a Liga Saudita continuou com um interesse bem limitado fora dos seus mercados usuais, pois o nível do campeonato não prometia muita coisa, apesar do astro português por lá. O ponto de virada foi a janela de transferências do verão no Hemisfério Norte que trouxe outros grandes nomes para ajudar Cristiano Ronaldo na promoção e desenvolvimento do torneio. As contratações de nomes como Karim Benzema, N’Golo Kanté, Roberto Firmino, Kalidou Koulibaly e, posteriormente, Neymar, além dos técnicos Jorge Jesus, Luis Castro e Steven Gerrard, deram o tom do que seria a temporada 2023/2024 e foi com isso que a Liga Saudita cresceu e despertou interesse pelo mundo, chegando a valores de direitos de transmissão bem significativos, ultrapassando com folga o que valem os direitos do Campeonato Brasileiro no exterior.
Não venho aqui defender que, para o interesse no Brasileirão crescer, os clubes devem contratar estas grandes estrelas, porque isso não é factível para a maior parte das ligas em todo o mundo, inclusive por aqui. Teremos mesmo que tomar o caminho mais longo e demorado, o tal plano de longo prazo. Precisamos de um produto unificado, com grandes parceiros para divulgação e promoção do conteúdo lá fora. Temos que nos preocupar com a qualidade dos estádios (iluminação, gramado, público, etc.), em criar uma identidade visual e buscar alcançar os fãs de futebol, independentemente da nacionalidade.
Fecho com a resposta à minha pergunta do título: sim, hoje, no mercado exterior, infelizmente, o Sauditão vale mais do que o Brasileirão. Mas acredito que, a longo prazo, podemos virar esse jogo e de maneira muito mais sustentável.
Evandro Figueira é vice-presidente da IMG Media no Brasil e escreve mensalmente na Máquina do Esporte