Antes de mais nada, preciso começar esse texto citando o fato de que minha coluna era na semana passada e havia combinado com o Erich Beting e o Gheorge Rodriguez que essa semana estaria em Doha, no Catar, e escreveria sobre as ativações de marca na Copa do Mundo. Com a tragédia da última sexta-feira (9), optei por cancelar minha ida e redesenhei a pauta da coluna.
A eliminação para a Croácia nas quartas de final deixa muitas marcas. Nós, brasileiros, temos por característica acharmos culpados e vilões. Mas particularmente sempre tentei extrair algo de bom ou ao menos algum alento, mesmo nas situações de profunda tristeza.
Por isso, trouxe para a coluna desta quarta-feira (14) um tema que acredito ser fundamental para o novo ciclo.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem um livro em branco com o início dessa nova fase a partir de janeiro. O fim da Era Tite permitirá que a diretoria da entidade elabore um planejamento e faça uma gestão da sua imagem para que qualquer treinador que chegue precise se adequar àquelas definições preestabelecidas.
A CBF tem a oportunidade na mão de fazer um trabalho de branding, ativação e aproximação com os brasileiros que antes não poderia. Afinal, o presidente Ednaldo Rodrigues pegou o avião já no ar, sem opções para grandes mudanças.
Agora, ele é o piloto. O avião está no chão e tem tudo para decolar com esse voo em 2026 com 220 milhões de brasileiros.
Reparem nas características do Voo Hexa 2026:
– BAGAGEIRO / PATROCINADORES
A CBF praticamente duplicou a receita de patrocínio de 2018 para 2022. Existe uma fila de empresas que sonham patrocinar a entidade, porém apenas patrocinar não basta.
Qual é o planejamento de cada uma dessas marcas? De que forma elas pretendem usar esse direito de imagem da seleção para aproximar os brasileiros? A participação e o envolvimento dos patrocinadores serão cruciais para chegarmos em 2026 com um engajamento e um envolvimento jamais vistos.
Não adianta fechar um contrato de patrocínio desse tamanho e não pensar na importância de investir em ativação. Todos os patrocinadores têm capacidade e condições de criar experiências, gerar conteúdo, ativações que viralizem, aproximem, engajem e emocionem os brasileiros.
E isso precisa começar em 2023. Não adianta esperar chegar a Copa.
– COMBUSTÍVEL / COFRES DA CBF: Vamos combinar, né, que dinheiro não é problema por ali. Agora, é hora de investimento nesse avião.
– PASSAGEIROS: Que faço questão de dividir como em um Boeing 747.
– PRIMEIRA CLASSE / OS ATLETAS
Eles precisam entender o papel deles na sociedade. Possuem um canhão na mão com suas redes sociais. A gestão das suas imagens será fundamental para potencializar essa aproximação com os brasileiros.
Boa parte precisa fazer um trabalho de imagem que vai muito além de um assessor de imprensa. É um trabalho de branding. Eles são produtos do futebol.
O mundo ter mudado e com isso os nossos ídolos saírem daqui muito cedo, fazendo a carreira toda fora do Brasil, é um dos principais fatores desse distanciamento. Perde-se relação, afeto e empatia. Afinal, “quem é aquele cara que está jogando de quem eu nunca ouvi falar?“.
Você que está lendo meu texto provavelmente tem alguma ligação com o mercado esportivo. Agora, me responda: se o Gabriel Martinelli ou o Bremer se sentarem na mesa ao lado no restaurante em que você está com a sua família, você saberá que são eles?
Imagina quem não acompanha futebol como a gente?
O Neymar terá um papel fundamental nesse processo. Chegará em 2026 com 34 anos e totais condições para liderar esse processo de aproximação dos atletas com os brasileiros.
Precisamos humanizá-los. São ricos, ganham muito dinheiro, mas são gente da gente. Pensem comigo: se você fez Direito, foi para ser advogado; se fez Medicina, foi para ser médico; e, no meu caso, se fiz Comunicação, foi para ser publicitário.
Esses caras se tornaram jogadores de futebol porque sonham ganhar uma Copa do Mundo.
– CLASSE ECONÔMICA / NÓS, BRASILEIROS
Precisamos valorizar os brasileiros apaixonados pela seleção, os que sofrem pela seleção o mesmo que pelo seus clubes. Temos que valorizar o trabalho do Movimento Verde Amarelo, a festa, as músicas, o prazer de torcer pela única seleção pentacampeã do mundo. Destacar caras como Tiago Leifert e influenciadores que fazem esse papel de amor à seleção.
Tenho certeza de que esse voo tem a capacidade de comportar 220 milhões de brasileiros confortavelmente.
– TRIPULAÇÃO / COMISSÃO TÉCNICA
A escolha do técnico é um dos principais pilares dessa aproximação.
Não adianta colocar lá um cara que não esteja alinhado com o propósito e com o objetivo do Voo Hexa 2026. Não só no aspecto campo, mas principalmente fora dele. Tem que ser um cara que aproxima, não que afasta.
Pensem comigo: na próxima Copa, serão 48 seleções. Então, as Eliminatórias serão uma piada. Se antes era fácil se classificar, agora já é possível afirmar que estamos classificados.
A comissão precisa entender isso. Mais jogos apenas com atletas do Brasil, para aproximar do público brasileiro, mas de uma forma que não afaste os principais atletas que jogam na Europa.
Por ser publicitário, às vezes eu vejo oportunidade onde a princípio não existiria. Por que não fazer um processo de escolha de um técnico em que se definam as características de acordo com a Diretoria de Seleções? Dessa forma, a partir do momento em que pilares como metodologia de trabalho, currículo, salário, gestão de equipe, liderança, etc. se equivalerem, abram uma votação popular com os três previamente alinhados.
Já pensou o novo treinador ser escolhido por nós, brasileiros?
Louco, né? Mas vou falar o que sempre falei quando pensava nas ações fora da caixinha nos clubes por onde passei: por que não?
É a seleção brasileira. O maior patrimônio do futebol.
A CBF tem tudo o que precisa para fazer uma Copa do Mundo histórica em 2026. Mesmo se o campo não ajudar, o extracampo pode ser como jamais foi visto desde 1930.
Prezado Ednaldo, portas em automático!
Bernardo Pontes, executivo de marketing com passagens por clubes como Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Corinthians e Flamengo, é sócio da Alob Sports, agência especializada em conectar atletas e personalidades esportivas a marcas, também sócio da BP Sports, agência com foco em intermediação e ativação no esporte, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte