Há esperança além dos posts hiperbólicos e apresentações futuristas do mundo dos games e do metaverso.
Toda vez que leio uma publicação no LinkedIn sobre o assunto, me lembro da música do Engenheiros do Havaí que diz “eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada“.
Um misto de linguagem para iniciados, de um olhar futurista, para aqueles escolhidos que decifraram o código. Imagino que os autores desses posts devam começar suas apresentações fazendo referências sobre “um pequeno passo para o Homem, um grande passo para a Humanidade“. Mas aposto que seu público ainda fique com as dúvidas mais frugais e terrenas sobre o assunto.
O fato é que me incomoda ter tanta coisa acontecendo por aqui, mas o conhecimento ser passado de forma cifrada e distante.
Fui atrás de exemplos brasileiros de games e esportes e fiquei bastante surpreso.
Os exemplos do futebol brasileiro já se acumulam. Diversos times e a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) transitam nesse mundo, em especial em títulos de características competitivas, como é o caso de FIFA, PES, Free Fire e League of Legends (LoL).
Eu sabia que o potencial dessas interações é gigantesco e fui atrás de exemplos (além do futebol) que acontecem no esporte brasileiro.
Afinal, via de regra, um jogo (em especial de celular) baseado nesse ou naquele esporte, tem muito mais público que a versão física e tradicional dessa modalidade.
A partir desse primeiro ponto de contato e interesse do público, abre-se a oportunidade de aproximação entre um futuro fã/praticante/consumidor daquela modalidade esportiva.
Ciclismo Virtual: das coisas que surgiram do empreendedorismo e pandemia
A primeira pessoa que me recebeu para bater um papo foi o Schubert Abreu, do Ciclismo Virtual Brasileiro.
Sabe aquele mundo maravilhoso de metarverso, presença de marca e outros que tais?
Isso está pronto e em pleno funcionamento no calendário esportivo da organização.
Schubert me explicou que a ideia de criar esse empreendimento veio das provocações criativas surgidas no mundo pandêmico que (ainda) vivemos.
Rapidamente identificou onde seu conhecimento do mundo esportivo (ele é comissário da Confederação Brasileira de Ciclismo e tem experiência como árbitro e gestor de triatlo) podia se juntar a empresas que ofereciam a possibilidade de você praticar ciclismo dentro de casa (e nem por isso deixar de ser algo sério, profissional e competitivo).
Na minha opinião, o Ciclismo Virtual Brasileiro chama a atenção por alguns motivos:
- Baseia-se em tecnologia da Rouvy e Technogym, empresas que oferecem softwares e sistemas de treinamento pensados para o ciclismo;
- Seus torneios acontecem virtualmente em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Maceió e Florianópolis. O bacana aqui é ver quão fiel é a experiência entre mundo real e o da tela de quem compete;
- Está de olho em cada passo que o mundo esportivo dá, em especial o mundo olímpico. Os sinais são cada vez mais claros de que o Comitê Olímpico Internacional (COI) trará o mundo dos games para cada vez mais perto do seu programa (basta ver o Olympic Virtual Series que aconteceu no ano passado);
- Segundo o estudo “Estimativa de frotas de bicicletas no Brasil“, mira em um mercado atual de 33 milhões de bicicletas no país;
- Oferece oportunidades para marcas fazerem parte desse metaverso de diversas formas, e você pode, inclusive, lançar uma bike com as cores da sua empresa dentro das competições.
Conheça mais no site da Ciclismo Virtual.
Entre Ping-Pong e Tênis de Mesa, a CBTM apostou no videogame
A discussão sobre quando usar ping-pong ou tênis de mesa sempre me deixou com a impressão de que, se houvesse um congresso para isso no Brasil, todos iriam embora sem chegar a um senso comum.
O que importa é que os termos são sinônimos em sua essência e ajudam a identificar uma modalidade que é parte da nossa cultura de lazer, esporte e entretenimento.
Para quem acompanha o que a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) tem feito, fica claro que há uma filosofia de observação e inovação que faz com que a associação com o jogo Ping Pong Fury seja apenas parte de algo maior.
Na conversa que tive com o gerente de marketing da organização, João Gabriel Leite, ele me contou os esforços que estão sendo feitos em termos de atrair e reter atletas, audiência e marcas.
E foi aí que ele explicou a aposta no mundo dos games:
- Adoção de um jogo mobile, o que permite cobrir um número maior de público (o celular é a plataforma mais usada no Brasil para se jogar videogame);
- O jogo foi utilizado como ferramenta de relacionamento em torneios oficiais da entidade;
- A oportunidade de manter a experiência e contato com a modalidade, não só apenas das formas já consolidadas (jogando ou assistindo um torneio, por exemplo);
- Conexão com as tendências do mundo esportivo (a exemplo do que vi também no Ciclismo Virtual).
Um jogo para chamar de seu
Não vou me comprometer com estatísticas, mas é quase certo que já exista um jogo que represente sua modalidade esportiva. Se não houver, ainda assim você pode apostar em um fantasy game, por exemplo.
Para você que não tem ideia de como usar o mundo dos games para alavancar a audiência e os negócios da sua modalidade esportiva, aqui vão algumas dicas:
- Procure por jogos da sua modalidade no Google Play (para jogos mobile), Steam (para jogos para PC) e nas lojas do Xbox e PlayStation;
- Com alguns nomes em mãos, procure por eles no YouTube e na Twitch. Isso te dará noção de quem fala sobre o jogo, como fala e qual o tamanho do interesse da audiência;
- Não caia na tentação de lançar seu próprio jogo, pelo menos não como estratégia inicial. Lembre-se que “lançar um joguinho“ é uma tarefa bem mais difícil do que parece (e não é o objetivo da existência da sua entidade);
- Entenda qual é o tamanho da sua base atual de atletas e fãs, e veja qual ganho (em números absolutos e relativos) você pode ter ao apostar em games;
- Converse com especialistas: no Brasil, já existe muita gente boa que entende dos dois mercados.
Alessandro Sassaroli, que, após seis anos como head da área de gaming do YouTube, se tornou evangelista do universo gamer, auxiliando marcas e pessoas a entenderem e se inserirem no universo dos e-Sports, escreve mensalmente na Máquina do Esporte