Os ídolos do esporte como negócio

Um dos maiores motivadores para trabalhar na indústria do esporte é a paixão que temos por determinada modalidade, clubes, ídolos, etc.

Quando as pessoas começam a trabalhar na indústria do esporte, é muito normal que aquele fanatismo pelos ídolos que competem comece a ser substituído aos poucos pela obsessão de fazer o “negócio” do esporte que você está envolvido dar certo, prosperar e assim outros ídolos começarem a surgir, os “craques” dos negócios do esporte, aqueles que te inspiram a fazer direito, criar, inovar e marcar época.

Na semana passada, esse mundo dos negócios do esporte perdeu um de seus grandes ídolos: Dietrich Mateschitz.

Mesmo que você nunca tenha ouvido falar no nome dele, tenho certeza de que conhece e admira sua obra. Compartilho aqui um pedacinho de sua história de empreendedor de sucesso presente em livros e documentários.

Em 1982, Dietrich viajava a trabalho como executivo de uma multinacional. Cansado pela diferença de fuso em uma viagem para a Tailândia, ele experimentou uma bebida chamada “Krating Daeng”. O nome da bebida pode ser traduzido para Red Gaur, sendo Gaur o nome de uma espécie de Bisão do Sudeste Asiático, ou seja, Red Bull.

A bebida surtiu efeito e ajudou Mateschitz a se recuperar do jetlag. Impressionado com o resultado, ele trouxe algumas latas do produto para sua casa na Áustria e, sendo conhecedor profundo do mercado de bens de consumo, teve a ideia de lançá-lo como uma nova categoria de produto: a bebida energética. 

Dietrich apresentou a ideia para diversos investidores que decidiram não apostar por achar que o produto teria pouco ou nenhum interesse fora do mercado asiático. O executivo sabia que não existia mercado naquela época, então decidiu criar um. 

Ele investiu o próprio dinheiro, associou-se aos donos originais da Krating Daeng, fez ajustes de sabor na fórmula e lançou o Red Bull com sucesso na Áustria em 1987. O produto enfrentou restrições na Alemanha, mas logo se popularizou na Europa e foi ganhando territórios ano após ano, conquistando jovens, até chegar nos Estados Unidos finalmente em 1997.

O modelo de produção e distribuição adotados por Dietrich era diferente do tradicional e contava com parceiros terceirizados, o que permitia que a empresa se concentrasse na construção de marca e nas vendas. Sendo uma marca de consumo jovem, no início apostaram em se posicionar como uma bebida de festa por meio de seus “Student Brand Managers”, estudantes universitários que eram responsáveis por promover o produto para seus grupos de amigos. Quem não se lembra dos New Beetle com as latas de Red Bull acopladas na parte traseira andando pela cidade?

Com o tempo, a marca foi amadurecendo, ganhou cada vez mais espaço e passou a não só a patrocinar propriedades esportivas como também criar suas próprias equipes, eventos e conteúdos. Hoje, a Red Bull tem duas equipes de Fórmula 1, cinco times profissionais de futebol, um time de hóquei no gelo, eventos como “Wings For Life Run”, “Red Bull Air Race”, “Crashed Ice Challenge”, o novíssimo “PoolClash”, milhares de atletas patrocinados como Ítalo Ferreira, Tainá Hinckel, Leticia Bufoni, Carlos Burle, Pedro Scooby, Lucas Fink, Adriano de Souza e tantos outros, sem contar a Red Bull Media House, empresa de conteúdo e mídia. 

O jeito Red Bull de falar com esporte foi além do storytelling e inaugurou o storyperforming, uma forma de não só se associar com histórias de interesse, mas criar suas próprias histórias. Daí a importância da Red Bull Media House e seu grande sucesso com filmes virais. Quem não recebeu no chat o vídeo do Felix Baumgartner pulando do espaço ou do avião do Peter Besenyei atravessando o túnel na Turquia?

A complexidade, profissionalismo e forma admirável da abordagem transformaram o que era a estratégia de marketing para vender latas em um negócio. O Red Bull Bragantino é um exemplo próximo e nítido do sucesso do plano. Mr. Mateschitz, ou “Didi” para os mais próximos, nos deixou, mas seu legado seguirá firme “dando asas” a cada profissional da nossa indústria.

De um fã!

Ivan Martinho é CEO da World Surf League (WSL) na América Latina e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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