Quem tem mais de 30 anos e gosta de futebol sabe da importância do amor pelo seu clube, as cores, os escudos, as conquistas e o estádio. No entanto, a nova geração de torcedores está mostrando que esse jogo mudou. Em tempos de acesso rápido e fácil, sem fronteiras e superexposição nas redes sociais, muitos torcedores, especialmente os mais jovens, escolhem seguir jogadores, não clubes. E essa nova relação está mexendo com tudo.
Hoje, vemos a inversão de uma lógica. Não são mais os clubes que dão visibilidade para os ídolos; são os astros que conseguem potencializar a imagem e o alcance do clube. Podemos tirar como exemplo o caso do PSG com a chegada de Lionel Messi. Em poucos dias, o clube francês ganhou mais de 20 milhões de seguidores nas redes sociais e viu as vendas de camisas explodirem. Já o Al-Nassr, da Arábia Saudita, virou assunto no mundo todo só porque contratou Cristiano Ronaldo. Atualmente, conseguimos ver camisas do time saudita circulando até mesmo no Brasil.
Cristiano Ronaldo, aliás, tem mais de 660 milhões de seguidores no Instagram, número muito maior que qualquer clube do mundo ou até mesmo 8 vezes mais que a soma dos 50 principais clubes do Brasil.
Estudos apontam que os jovens até 24 anos têm mais propensão a acompanhar jogadores e não só clubes. Antes, isso poderia ser considerado quase um crime para torcedores de futebol, mas, hoje, é mais do que normal torcer para um jogador e não para um clube. Ou seja, torcer hoje é muito mais pessoal. A paixão pelo futebol continua forte, mas agora ela tem nome, rosto e perfil no TikTok e/ou Instagram.
Esse novo tipo de torcedor já tem até nome no mundo esportivo: são os “star-centric fans” (“torcedores centrados em estrelas”, em tradução livre). Eles não têm um time fixo e costumam mudar de camisa junto dos ídolos. Quando Messi foi para os Estados Unidos, por exemplo, o Inter Miami virou febre mundial. Quando Cristiano foi para a Arábia, o Al-Nassr apareceu nas manchetes do planeta. Quando Neymar foi para o Al-Hilal, as camisas azuis do time saudita começaram a circular em todo o mundo.
É uma tendência que cresce com a força das redes sociais. Os ídolos estão a um clique de distância e falam direto com seus fãs, sem precisar passar pelo clube. Isso cria uma conexão forte, quase pessoal. Hoje, ter um ídolo no elenco é fundamental, pois valoriza a marca do clube, aumenta o engajamento, atrai patrocinadores e fortalece a torcida, especialmente entre os mais jovens.
Os ídolos estão mudando o futebol. Eles trazem novos torcedores, aumentam o engajamento das torcidas e até mexem com o caixa dos clubes. A relação torcedor-clube ainda existe, claro. Mas, cada vez mais, ela passa primeiro pela admiração por um jogador.
Por isso, os clubes brasileiros precisam investir na criação e principalmente na retenção de seus ídolos. Mais do que formar jogadores para vender, é hora de formar referências, símbolos e histórias que fiquem na memória do torcedor. Os ídolos já não são apenas peças do clube; são o motor que move torcidas, negócios e a cultura do futebol moderno.
Quem souber abraçar essa tendência colherá os frutos na nova era do futebol.
Romulo Macedo é mestre em Gestão da Experiência do Consumidor e especialista em Gestão Esportiva, com papéis relevantes em diversos eventos esportivos mundiais