O vídeo já corre pela internet desde a noite desta quinta-feira (6). Luighi, atacante do Palmeiras Sub-20, é insultado por um bípede com uma criança no colo enquanto deixa o campo após ser substituído em mais uma vitória tranquila do time paulista na Copa Libertadores da categoria.
O jogador fica inconformado com o gesto do “torcedor” imitando um macaco e imediatamente alerta o árbitro da partida. Que nada faz, como é de praxe em casos de racismo envolvendo jogadores de futebol mundo adentro.
Só resta a Luighi se sentar, aos prantos, no banco de reservas. A câmera de TV registra o choro do garoto de apenas 18 anos que acaba de ser ofendido, enquanto a bola rola até o apito final da arbitragem.
Ao término da partida, o repórter oficial da Conmebol, organizadora do torneio, vai entrevistar o atacante do Palmeiras. E pergunta, com naturalidade, o que ele tinha achado do jogo. Toda indignação volta a consumir Luighi, que faz um desabafo sincero.
“Não, não. É sério isso? Vocês não vão me perguntar sobre o ato de racismo que ocorreu hoje comigo? É sério? Até quando vamos passar por isso? Me fala, até quando? O que fizeram comigo é crime, não vai perguntar sobre isso?”.
A resposta inteira de Luighi é uma aula de História na prática. Ela reforça o quanto as pessoas sofrem com o racismo no dia a dia e simplesmente são ignoradas. Humilhações, desrespeitos e barbaridades são cometidos diariamente contra pessoas de pele preta, nos mais diversos lugares, sem que a indignação tome conta de quem faz parte do mesmo mundo que habitamos.
O racismo é um crime. Só que, na sociedade ainda involuída em que vivemos, segue sendo apenas mais um caso, uma estatística, uma “suspeita”, um tiro nas costas de um trabalhador que “parecia” ter sido o assaltante que havia roubado o celular da mulher de um policial.
A diferença, em um jogo de futebol, é que geralmente o crime é transmitido ao vivo e em cores, para todo mundo, e quem poderia ter o poder de polícia para fazer justiça naquela hora não está nem aí para o caso.
Luighi é mais um que levanta uma bandeira que deveria ser de todos. Sua revolta é a de qualquer um que entende que não há diferença entre as pessoas.
Ou melhor. Há.
Luighi é um jogador ainda em formação. Mas que provou ser um craque além da bola. Coisa que o bípede que o insultou no Paraguai não conseguirá nunca ser. E, humilhado pela competência do camisa 9 do Palmeiras, acha que imitar um macaco, para ele, é algo que vá fazê-lo ser alguém “superior”.
Caro bípede que provavelmente tem o cérebro do tamanho do de um macaco (desculpe, macaco, nada contra você), lamento informar que Luighi provou nesta quinta-feira ser um dos grandes caras que vieram a esse mundo para produzir algo de bom.
Resta saber se o Palmeiras e sua presidente farão algo que vá além de uma nota de repúdio.
Porque não dá para ficar tão passivo diante de um crime.
O Palmeiras deveria sair da Libertadores e levar, junto, os clubes brasileiros, que hoje sustentam a existência da competição.
Até quando ficaremos tão calmos?
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo