O título desta coluna foi a melhor analogia que encontrei para representar a grandeza da chegada oficial de Carlo Ancelotti, contratado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para ser, desde a última segunda-feira (26), o novo treinador da seleção brasileira de futebol. Nessa comparação que fiz, há quem dirá, e eu tendo a concordar, que a simbologia de Ancelotti é ainda maior considerando o tamanho que o futebol tem no país, quando comparado ao basquete.
Permeada por notícias negativas nos últimos anos e analisando a história da seleção brasileira, a CBF teve uma decisão corajosa ao trazer um treinador estrangeiro, naquele que foi o último ato de Ednaldo Rodrigues no comando da entidade. A seleção é um patrimônio nacional e impõe a qualquer presidente da CBF o peso do futebol brasileiro na sua essência esportiva, cultural e religiosa no Brasil.
Em meio às recentes discussões sobre a presença de um treinador estrangeiro na seleção, especialistas, treinadores e atletas em atividade ou aposentados divergiram entre opiniões e visões controversas, mas todos se calaram diante do nome inquestionável de Carlo Ancelotti.
A contratação do treinador italiano pela CBF é um movimento que transcende a performance esportiva, contribuindo também para a reconstrução da imagem da entidade, a recuperação da credibilidade e a implementação de um trabalho de alto nível, aproximando-se das melhores referências do futebol mundial. A sua chegada reacende uma oportunidade de transformação estrutural no futebol brasileiro.
Gestão de estrelas e egos
Carlo Ancelotti é extremamente habilidoso na gestão de estrelas, incluindo grandes nomes como Neymar, Vinicius Júnior e Rodrygo, entre outros, cujos egos e exigências são gigantescas. A dimensão do treinador é uma enorme vantagem na condução de um processo de mudança na relação com os jogadores.
Liderança calma e diplomática
Assim como Phil Jackson no basquete, Ancelotti se destaca por sua tranquilidade e sabedoria. Em momentos de crise, ele tem a capacidade de manter o controle emocional do elenco, um aspecto crucial para a seleção brasileira, que frequentemente enfrenta pressão no Brasil e no exterior.
“Os jogos são vencidos pelos jogadores, mas o equilíbrio emocional é criado pelo técnico”, já disse Phil Jackson.
“O treinador é como um maestro. Não precisa fazer barulho, precisa harmonizar o talento”, já afirmou Carlo Ancelotti.
Modelos táticos e estratégias adaptáveis
Ancelotti é conhecido pela sua habilidade em adaptar os sistemas táticos aos jogadores disponíveis, sem se apegar a um único estilo de jogo. Essa flexibilidade pode extrair o melhor dos jogadores convocados.
Nova filosofia e cultura de trabalho
A experiência de Carlo Ancelotti contribuirá para reflexões sobre toda a estrutura da CBF e do futebol brasileiro, incluindo o calendário, as relações com todos os agentes (clubes, atletas, treinadores, imprensa), as infraestruturas de trabalho, os planejamentos de treinamentos e as estratégias de comunicação, entre outros aspectos. Essas abordagens podem colaborar para um ambiente mais profissional e organizado.
Naturalmente, o foco da contratação de Carlo Ancelotti é a performance da seleção brasileira nas Eliminatórias e, em 2026, na Copa do Mundo da Fifa. Todavia, o maior legado do treinador pode estar fora de campo, isso se as entidades e todos os profissionais envolvidos no ecossistema do futebol brasileiro aproveitarem o conhecimento e a visão deste profissional para construir um movimento de desenvolvimento e transformação da modalidade no país.
Espero que tenhamos a humildade de abraçar e absorver todo o conhecimento e a experiência de Carlo Ancelotti. Afinal, agora, toda a população brasileira já alimenta a expectativa da volta de uma saudosa alegria no dia 19 de julho de 2026, diretamente do MetLife Stadium, em Nova Jersey, nos Estados Unidos. Avanti, Brasil!
Alvaro Cotta é diretor de marketing da Liga Nacional de Basquete (LNB)