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Romário, calado, é um poeta

A "porrada neles" de Raphinha mostra que, na era dos cortes em busca de audiência, é preciso ser responsável na hora de perguntar

Romário e Raphinha, durante entrevista para a RomárioTV, no YouTube - Reprodução / RomárioTV

“Porrada neles”.

A estapafúrdia declaração do atacante brasileiro Raphinha, dois dias antes do jogo do Brasil contra a Argentina, que selou a classificação dos argentinos à Copa do Mundo de 2026 e mais uma derrota brasileira nas Eliminatórias para o Mundial dos Estados Unidos, Canadá e México, caiu como uma bomba e apimentou um clássico que deveria ser morno. Raphinha falou isso à RomárioTV, após uma pergunta feita pelo ex-atacante da seleção brasileira.

Se era necessário dar porrada nos argentinos, Romário apimentou um clássico que não teria nada de mais e acabou trazendo para a seleção brasileira uma responsabilidade que simplesmente não existia no final das contas.

O que se viu dentro de campo nesta terça-feira (25) no Mâs Monumental foi uma derrocada absurda da seleção brasileira. A maior derrota na história das Eliminatórias. E Romário não estava lá para assumir a responsabilidade que ele gerou para o time.

Na era dos “likes”, dos cortes e da informação totalmente fragmentada, a declaração de Raphinha é a prova de que temos que ter mais cuidado, não só na hora do “media training”, mas também com o que a gente consome em conteúdos de tempo curto.

Raphinha foi um dos três entrevistados por Romário no programa de TV do ex-atacante no YouTube. Ele, Endrick e Rodrygo falaram sobre várias coisas da seleção brasileira, mas uma frase que durou menos de 10 segundos foi o que mudou toda a história de um jogo que já tinha tudo para ser difícil, mas não tão difícil como foi.

Romário, calado, é um poeta. Ele mesmo disse essa frase, mas sobre Pelé. Agora, o ex-camisa 11 deveria parar para pensar. Por que colocou uma responsabilidade em cima dos jogadores (que, se fosse um jornalista qualquer, seria execrado pelo que fez) e ainda com o peso de ter sido colocada por um dos maiores artilheiros da história da seleção brasileira?

Romário deveria entender a responsabilidade do que está fazendo, e não só buscar o “like”, não só buscar o corte, não só buscar a audiência.

Romário foi genial ao conseguir trazer toda a atenção para o seu canal de TV. As pessoas buscam o conteúdo ali produzido.

Ele, com certeza, será sempre um excelente entrevistador, até pelo jeito despojado com o que fala na mídia.

O problema é que os seus convidados, a partir de agora, tomarão muito cuidado com o que dirão para o Baixinho.

Romário, calado, teria sido melhor.

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo