A Running USA Conference, o maior evento do segmento de corrida dos Estados Unidos, aconteceu na semana passada em Orlando, na Flórida. Mais de 500 pessoas participaram, sendo grande parte organizadores de provas e fornecedores dessas experiências.
O evento acontece há 20 anos, sempre tratando os temas mais relevantes do mercado local, que calculamos ser aproximadamente 10 vezes maior que o brasileiro.
O evento é bastante local, mas encontramos gente do México, Canadá e de federações europeias de atletismo. Brasileiros? Os únicos representantes eram Ticket Sports e Fotop, ambos com estande na feira de negócios que contou com cerca de 50 expositores superendêmicos.
Além da feira de negócios, o evento de três dias teve diversas palestras e especialistas, que são os carros-chefes do evento. Um summit clássico.
Expectativas e a posição do Brasil
Havia tempo que não aprofundava de forma objetiva o mercado americano. Há alguns anos, a sensação era de que sempre estávamos alguns anos atrasados nos debates, maturidade de mercado e movimentos de crescimento.
Um exemplo: em 2014, cresceu o número de maratonistas nos EUA, e sabíamos então que, em dois ou três anos, aqui aconteceria igual.
Então, participar desse evento é, em tese, olhar um pouco para o futuro.
Na prática, no entanto, não foi bem assim. Talvez as pautas debatidas sejam sim à frente do que vivemos no Brasil, mas não há uma maturidade tão significante de mercado, tão descolada da nossa realidade. A verdade é que não devemos muito aos yankees, não.
O evento, por exemplo, carece em oferecer sofisticação, tecnologias mais revolucionárias e mercado pujante. É um tratamento de comunidade, com dificuldades semelhantes às brasileiras de gerar receitas.
Mas algumas coisas são diferentes, mesmo.
Enquanto aqui estamos sempre lutando arduamente por patrocínios, há uma estabilidade maior nesse tópico por lá. Há também uma grande diferença de como tratam eventos e ações de caridade, um elemento quase indissociável do segmento de running.
Corridas são sinônimos de caridade na América. Enfim, existem diferenças claras de abordagem.
A experiência de sermos os únicos brasileiros por lá foi interessante nesse sentido. Dá para sentir quando alguns temas eram tratados como óbvios, enquanto, para nós, ainda é uma luta. Por outro lado, voltamos com uma boa autoestima. Falando de Ticket Sports, estamos colados com relação a produto, posicionamento e estratégias de crescimento.
Principais tópicos
Ao fazer uma curadoria das palestras e, principalmente, analisar as conversas mais legais que tivemos durante o evento, podemos pinçar os principais tópicos debatidos por lá. Todos eles referentes ao que interessa para organizadores de eventos e experiências.
Novas receitas: muito se falou sobre como conseguir novos canais de receitas para eventos. Nesse tema, o consenso era testar e começar pequeno. Muitos organizadores atestam que não lutam por receitas novas porque consideram “pequenas demais”. A conversa foi: é por aí que se constrói uma linha de receita grande. Seguros, fotos, novos serviços, todos foram elementos debatidos.
Uso de inteligência artificial (IA) generativa: foi surpreendente como o assunto é novo para a grande maioria dos executivos do setor. Vimos isso como novidade no final de 2022, e vários projetos já estão engatilhados. Mas há uma crença de que não cabe para o esporte. A conferência trouxe exemplos, ferramentas e outros esportes que já usam para inspirar esse segmento.
Clima: há muita preocupação com gestão de crises causadas pelo clima adverso nos eventos. Foi um dos temas mais relevantes do evento, com diversos talks a respeito. Como se preparar para climas cada vez mais complexos? Esse assunto chegou devagar ao Brasil em 2023 e deve ser algo a explorar.
Dados para patrocinadores: há um novo paradigma de qualificação ao invés de quantidade. Antes, vendia-se audiência. Atualmente, vende-se qualidade. Entregar o máximo de dados, recortes e insights para os patrocinadores é sinônimo de renovação, novas vendas e crescimento de receita. Importa menos quantas pessoas correram e mais quem é cada um, como cativar.
Sucessão e continuidade: um mercado já maduro requer conversas sobre próximos passos de eventos tradicionais, então, houve conversas sobre valuations e aquisições, ainda distantes da realidade nacional.
Setor em crescimento
Além dos temas mais recorrentes, houve também uma atualização nos dados de comportamento de mercado e crescimento de corredores e no tamanho dos eventos. Dados da RunSignUp, maior plataforma de inscrições dos EUA (e uma das nossas inspirações) dão conta dessa melhoria de performance do setor.
Como temos dados do Brasil, vamos também seguir com alguns comparativos:
O número de atletas cresceu em 10% com relação a 2022. No Brasil, tivemos 16% de crescimento (o que talvez se explique pela base menor). 2023 foi também o primeiro relato de crescimento pós-2019, último ano pré-pandemia, com importante 1% de incremento após cinco anos.
Houve também um crescimento de atletas que completaram meias-maratonas, com incremento de 13%. As mulheres são 53% do mercado americano.
Entre as notícias menos otimistas, um dado chamou a atenção: 5% das empresas que fizeram corridas em 2022, não fizeram em 2023. Ou seja, quebraram.
De qualquer forma, o evento apresentou um clima geral de otimismo, viés de profissionalização e muitas semelhanças com as dores do mercado brasileiro. Foi interessante notar essa perspectiva mundial de crescimento e perceber que é um padrão nas conversas com diferentes empresários de diferentes nacionalidades.
O ano começa com a Running USA Conference reunindo uma comunidade fortalecida por bons negócios e foco em atrair novos atletas. No Brasil, estamos de olho, inspirados e inspirando.
Daniel Krutman é empreendedor e publicitário. Formado em Comunicação Social, pós-graduado em Ciências do Consumo e mestre em Marketing Digital, ocupa atualmente o cargo de CEO da plataforma de vendas de inscrições Ticket Sports, além de ser fundador da The Squad Academy, hub de conteúdo para o esporte