Segundo dados do Ministério da Saúde, 30% dos brasileiros praticam esportes. Isso é pouco.
Enquanto milhões de nós somos ótimos espectadores (vide os recordes de torcedores nos estádios), poucos realmente levam uma vida ativa.
Neste contexto, há um mercado essencial para o crescimento esportivo, que é chamado de “endurance” nos EUA e de diversos nomes aqui no Brasil, como “esportes outdoor” ou “individuais de longa distância”. Na verdade, é a turma que nada, pedala e corre em diferentes espaços da cidade ou na natureza.
Atualmente, são 40 milhões de bicicletas no Brasil, 13 milhões de corredores e 11 milhões de pessoas que nadam com certa regularidade. Um universo inteiro. Somos o segundo maior mercado do mundo do aplicativo de resultados Strava, sabiam? Sim, a gente gosta de esportes solo, mas que permitam esse senso de comunidade.
Esse setor tem um mercado consumidor gigante, com players pesados de marcas esportivas. Recentemente, a Adidas lançou um tênis de R$ 4 mil, o Adizero Adios Pro Evo 1, considerado o mais leve de todos os tempos. Dizem que suporta uma maratona e adeus.
E há também os eventos. Segundo nossas contas, 7,5 mil deles, espalhados por diversos cantos do Brasil. São 140 por fim de semana, se você fizer uma conta de padaria. Cada um desses eventos emprega cerca de 90 pessoas temporariamente.
Todos são números que a gente descobriu depois de muita pesquisa e exercícios de estatísticas aqui no Ticket Sports.
É, caro leitor, esporte no Brasil não é só futebol não.
Do nicho para a sociedade
Temos um setor cheio de oportunidades, demanda por tecnologia e experiências de consumo e conexão.
Para acelerar a escalada da importância do setor de endurance, há fenômenos sociais, como envelhecimento populacional (no mundo todo), que tiram a capacidade de praticarmos esportes de alto impacto. Depois dos 30 anos, fica mais difícil se reunir com amigos para jogar bola, por exemplo.
Para se ter uma ideia, a média de idade desse pessoal que se inscreve nas provas é de 41 anos, e 48% são mulheres.
O que mais? A pandemia. Segundo a Nielsen Sports, cresceu em 13% o número de corredores no mundo durante a necessidade de distância social. As bikes voaram das prateleiras, e o legado vemos hoje, com um mercado mais pujante, que deveria atrair mais investimentos.
Há um dado da Organização Mundial da Saúde (OMS) que diz que cada US$ 1 investido em esporte economiza US$ 3 em gastos com saúde no mundo. Então, nesse meu texto de estreia como colunista aqui, na Máquina do Esporte, o objetivo foi trazer uma análise abrangente de dados do setor como parte de um plano para dominar o mundo, certo? Não.
Na verdade, o que quero deixar claro é que o endurance no Brasil muitas vezes fica reduzido a conversas sobre nichos de mercado. Algo que não é. É um segmento, uma potência que cria comunidades, mas se expressa por meio de experiências incríveis, negócios interessantes e consumo poderoso.
Furar a bolha é preciso
As marcas não endêmicas ainda olham pouco para oportunidades em eventos e espaços públicos em que o esporte de verdade está sendo praticado e em que vidas estão sendo mudadas.
Quem trabalha no segmento já deve ter visto a maioria desses números que compilei aqui. Basta ter lido algum texto ou ido em alguma palestra do setor nos últimos tempos.
Esse artigo, no entanto, não é para os mesmos de sempre. É para alguém que não estava de olho. Vale a pena prestar atenção nas inovações e ideias que existem dentro do endurance. São oportunidades tremendas para as marcas.
Em um mundo em que estamos com recessão de amizades, que as pessoas estão cada dia mais solitárias (apesar do celular), o esporte solo parece ser um dos pontos de encontro mais relevantes para a sociedade.
E bora falar sobre isso.
Daniel Krutman é empreendedor, publicitário e futurista. Formado em Comunicação Social, pós-graduado em Ciências do Consumo e mestre em Marketing Digital, ocupa atualmente o cargo de CEO da plataforma de vendas de inscrições Ticket Sports, além de ser fundador da The Squad Academy, hub de conteúdo para o esporte