A Copa do Mundo do Catar tem mostrado o amadurecimento da produção de conteúdo além daqueles produzidos pelas TVs. Acompanhar grandes eventos esportivos em diversas telas e pela internet não é necessariamente algo novo. Isso já tem acontecido com torneios regionais e continentais aqui no Brasil. Mas o sucesso que a Cazé TV está tendo nesta edição do torneio da Fifa mostra que o público tem apetite não só por maiores pontos de consumo de conteúdo, mas também de formatos e envelopamentos editoriais que fogem do que foi feito até aqui pela indústria esportiva.
Somos um dos mercados em que os influenciadores digitais têm um protagonismo bastante importante. Deixaram de ser o exército de uma pessoa só e contam com estrutura que até outro dia não era pensada para esse tipo de profissional.
Quando os resultados vêm a público, não é de se estranhar que muitas instituições esportivas, veículos de comunicação e gente com apetite de empreender comecem a se movimentar buscando resultados semelhantes.
A fórmula passa por criar perfis em plataformas de vídeo (gratuito), investir algum dinheiro em produção e buscar um personagem que possa estar à frente do conteúdo e rapidamente gerar views e seguidores.
São premissas simples, porém tão desafiadoras como fazer dieta. Todo mundo sabe a regra: gastar mais calorias do que se come. Ainda que frugal, nem todo mundo colhe o resultado esperado dessa fórmula. E assim é com conteúdo esportivo também.
Você sabe por que está produzindo conteúdo?
A produção de vídeos, sejam eles gravados ou ao vivo, é algo que demanda apoio de gente especializada em diversas frentes. Captação, edição, transmissão, distribuição, marketing de influência e SEO, entre outras coisas.
Não é à toa que empresas como LiveMode e NWB estão por trás de projetos tão vitoriosos no mercado brasileiro. Além de times com profissionais que já tinham experiência no mercado de produção e do futebol, trouxeram vivência de quem trabalha na internet brasileira há anos.
Entenderam como formatar produtos e formatos que parassem em pé frente às equações financeiras que regem esse mercado. E, além da capacidade técnica e de entrega, contam com o relacionamento com plataformas de vídeo como o YouTube. Graças à proximidade com esse tipo de empresa, conseguem montar projetos comerciais que, ao chegarem ao mercado, se aproximam de marcas ávidas por se conectarem com quem vê cada vez menos televisão.
Empresas como Google, Meta, Kwai e TikTok, por outro lado, têm atenção e recursos limitados (para não dizer escassos) para desenvolver audiência e monetização de todos os parceiros que batem às suas portas.
Em um levantamento rápido, estão nessa fila: os times de futebol brasileiros (com expressão nacional e regional), as confederações e federações, o Comitê Olímpico do Brasil (COB), veículos esportivos, atletas, ligas e times. A lista não é pequena. E as plataformas, por sua vez, atendem a uma ínfima parte de parceiros para fazer negócios em conjunto.
Simplesmente não dão conta de tudo, até porque isso está longe de trazer o dinheiro que todo mundo sonha em ver sendo gerado em seus canais. Ainda mais para as empresas californianas e chinesas, que têm um apetite gigantesco por cifrões.
Se uma instituição esportiva pretende se dedicar seriamente à produção de conteúdo em vídeo, por mais antagônico que pareça, a primeira coisa que deve sair do topo de prioridades é a de rentabilização imediata do conteúdo. Redes sociais e plataformas de vídeo oferecem uma oportunidade única de proximidade e relacionamento com fãs, torcedores, praticantes e aficionados. Muitas vezes se tornam a única opção para quem acompanha um esporte que não é o queridinho da massa.
À medida que se estabelece uma agenda de conteúdo diária (assim como uma dieta, a dedicação aqui é a mesma), mais relevante a iniciativa será para o público daquela modalidade. Ao ter um canal dedicado e direto com esse público, a tendência é que o custo de aquisição de novos usuários e manutenção dos existentes caia.
Além disso, janelas de oportunidades se abrem de acordo com a realidade da instituição: pode-se focar, por exemplo, em conteúdos em outras línguas ou ser uma fonte de comunicação com jornalistas.
Quando essa fórmula operacional parar de pé, quando houver identificação, frequência e interação do público, é que o passo para gerar receitas deve ser dado.
O sucesso de um canal Desimpedidos ou da Cazé TV não é fruto do acaso. Longe disso.
Quem não era do meio, agora quer ser. É o caso da recente parceria de Galvão Bueno com a Play9, empresa que conta com João Pedro Paes Leme (ex-executivo de esportes da Globo), Marcus Vinícius Freire (ex-atleta e dirigente olímpico) e Felipe Neto (um dos maiores empreendedores da economia criativa do Brasil).
Quem está investindo em conteúdo esportivo no mundo digital, está vindo para ganhar o campeonato.
Alessandro Sassaroli é diretor comercial de gaming na Webedia Brasil e escreve mensalmente na Máquina do Esporte