Super-humanos? Ou somos todos deficientes?

Nadador chinês Guo Jincheng cria uma espécie de bolha de ar como escudo contra a resistência da água - Getty Images

Assisti à prova dos 50 metros livres dos Jogos Paralímpicos de Paris, em que o chinês Guo Jincheng conquistou o ouro. Fiquei impressionado com sua técnica: ele cria uma espécie de bolha de ar como escudo contra a resistência da água, combinando o movimento da cabeça com as batidas das pernas em um ritmo e com uma precisão que me fazem questionar quem são, de fato, os deficientes. Já nadei por muito tempo e não consigo me imaginar alcançando algo perto desse nível de ritmo e agilidade. 

Guo é um atleta de ponta. Ele terminou a prova em 29 segundos e 33 centésimos, quebrando o recorde mundial paralímpico da categoria. Para mim, ele é um super-humano, pois o recorde mundial olímpico dos 50 metros livres, de Cesar Cielo, é de 20 segundos e 81 centésimos. Pense na potência de um atleta sem dois braços que fica a apenas 8 segundos e 52 centésimos do melhor tempo da história da natação mundial olímpica. Isso me faz refletir sobre até onde as novas gerações de atletas paralímpicos poderão chegar. 

Outro super-humano é o nosso campeão Petrúcio Ferreira, que detém o recorde mundial paralímpico dos 100 metros rasos no atletismo, categoria T47, com 10 segundos e 29 centésimos. O recorde mundial olímpico dessa prova é de Usain Bolt, com 9 segundos e 58 centésimos. Ou seja, Petrúcio está a apenas 71 centésimos desse recorde. Uma demonstração clara do nível técnico do nosso campeão. 

Eu ainda poderia falar de Gabriel Araújo, Carol Santiago e Jerusa Geber, pois o Time Brasil nos encheu de orgulho ao conquistar o 5º lugar geral na competição, nossa melhor colocação na história, com o maior número de medalhas (89) e ouros (25). Fiquei impressionado ao perceber, nas matérias que li e nas reportagens que assisti, o quanto o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) estava ciente desses números e esperava por esses resultados. 

Fico tentando entender o segredo por trás do sucesso do nosso time paralímpico. Sei que muito se deve aos investimentos feitos desde a criação do CPB em 1995 e a programas como o Bolsa Atleta e o Plano Brasil Medalhas, que garantem apoio financeiro e estrutural aos nossos atletas. Hoje, contamos com treinadores e profissionais cada vez mais qualificados e experientes no esporte paralímpico, e a visibilidade conquistada nas Paralimpíadas ajuda a ampliar o reconhecimento, atrair mais patrocinadores e incentivar mais pessoas com deficiência a praticar esportes. 

Aprendi com Emicida a dar voz aos atletas, não às suas cicatrizes. Mas, ao observar as histórias de superação e resiliência dos nossos campeões, é impossível não se inspirar e refletir sobre os nossos próprios limites. Para mim, todos nós somos deficientes. 

Nesta Paralimpíada, vejo atletas de alto nível, alguns que considero super-humanos, desafiando limites e nos surpreendendo com resultados e conquistas. Penso se, em um futuro próximo, não veremos mais atletas paralímpicos competindo nas Olimpíadas, como aconteceu com a mesa-tenista brasileira Bruna Alexandre, que participou tanto da Olimpíada quanto da Paralimpíada de Paris. 

Apesar das conquistas e recordes, acredito que a Paralimpíada deveria estar mais próxima do grande público. Parabenizo o Sportv por abrir o sinal do Sportv 2 para os Jogos Paralímpicos e alcançar a liderança em 70% de suas transmissões, mas acredito que essas competições deveriam estar na TV aberta, onde o potencial de alcance é muito maior. Quem sabe o sinal possa estar disponível para um público ainda maior em Los Angeles 2028

Destaco os patrocinadores do Comitê Paralímpico Brasileiro — Havaianas, Asics, Toyota, Braskem, Ajinomoto e Loterias Caixa — pelo apoio e investimento no Time Brasil. Este suporte está ajudando a posicionar o Brasil como uma das potências do esporte paralímpico mundial. 

No ano passado, tive a chance de ouvir a história de uma família que encontrou no esporte a motivação para o desenvolvimento do filho com deficiência. As competições trouxeram novos desafios, e a mudança na rotina trouxe mais alegria para eles. Quando vejo os resultados do Time Paralímpico Brasileiro, percebo que estamos vivendo um ciclo virtuoso que nos permite sonhar com ainda mais sucesso.

Parabéns, atletas do Time Paralímpico Brasil. Pelo menos para mim, vocês são super-humanos!

Regi Andrade é um vendedor de ideias especializado na área comercial de veículos de comunicação, tendo trabalhado em TV aberta, TV fechada, internet, jornal, rádio, revistas e eventos. Hoje, como diretor comercial da Máquina do Esporte, orienta clientes a maximizarem seus investimentos em mídia e patrocínios por meio de projetos de comunicação, além de contribuir com artigos sobre publicidade e patrocínio

Sair da versão mobile