Inchaço da Champions League mostra o peso do negócio para o esporte

Real Madrid derrotou o Borussia Dortmund e ergueu a taça da Champions League pela 15ª vez na história em 2023/2024 - Reprodução / X (@realmadrid)

Real Madrid derrotou o Borussia Dortmund e ergueu a taça da Champions League pela 15ª vez na história em 2023/2024 - Reprodução / X (@realmadrid)

A Champions League, principal competição entre clubes de futebol do mundo, retorna, nesta terça-feira (17), com novidades. E daquelas que deixariam qualquer cartola brasileiro com inveja dada a complexidade para o fã entender quais são os critérios de classificação para o torneio.

Em 2024, a Uefa mudou radicalmente o sistema de disputa, igualando-se aos fantásticos cartolas brasileiros no quesito inventividade. Agora, existe uma salada de frutas de potes, sorteios e chaveamentos para decidir a posição dos times e saber quais serão os classificados para a fase decisiva.

Em resumo, para tentar entender: até a temporada passada, a fase de grupos da Champions tinha 32 times divididos em 8 grupos de 4 times cada. As equipes se enfrentavam dentro de seus grupos, e os dois primeiros de cada um avançavam para as oitavas. Eram seis jogos para definir os classificados.

Agora, serão 36 times sem divisão de grupos. Não há um confronto entre todos eles dentro de grupos específicos, mas uma divisão por “níveis” em quatro potes distintos. Um sorteio entre os times dos potes decidiu os quatro adversários que cada clube enfrentará. A classificação para o mata-mata será definida da seguinte forma: os oito primeiros colocados avançarão direto. Do 9º ao 24º haverá um mata-mata em dois jogos. Os oito classificados se juntarão às outras oito equipes. E então começará a fase de oitavas de final do torneio.

Tudo isso tem justificativa. Antes, eram 125 jogos para definir os 16 classificados para a fase derradeira da competição. Agora, serão 160 partidas para decidir quem estará nas oitavas.

Esse “inchaço” promoverá um aumento de receita para a Uefa, quando a Champions League parecia ter batido no teto com relação à possibilidade de ganhos. A única forma da entidade conseguir pedir mais dinheiro a parceiros de mídia e patrocinadores foi ampliando o número de jogos do torneio.

Essa é a mesma lógica aplicada pela Fifa para fazer do Mundial de Clubes um produto tão lucrativo quanto é a Champions League para a Uefa. Ao montar a nova competição entre clubes de todo o mundo, a entidade que comanda o futebol mundial inflou ao máximo o torneio. Com isso, ganhará mais com patrocínio e venda de direitos de transmissão.

Não adianta a gritaria de atletas, treinadores e profissionais da saúde. As entidades esportivas sempre tentarão chegar ao limite do aceitável para faturar mais com mídia e patrocínio.

Não é por acaso que há Estaduais, Regionais, Copa do Brasil e Brasileirão por aqui. Da mesma forma, a NBA tem uma fase pré-playoffs que faz as equipes jogarem mais de 70 partidas para chegar às decisões. Agora, a Uefa infla sua competição mais rentável.

E os clubes, por que não se rebelam? Aumenta-se a arrecadação da entidade e, por consequência, a divisão de receita entre os times. Assim, não há como reclamar. Trabalha-se mais, ganha-se mais.

Até a NFL, que não modificava a quantidade de jogos de seus times há muito tempo, repensou essa atitude em 2021/2022, quando acrescentou um jogo a mais para cada equipe na temporada regular. Desde então, são 18 rodadas transmitidas pela TV (com cada franquia jogando 17 vezes), e a maior arrecadação por jogo transmitido no planeta. Mas – e ele sempre aparece – a moda da NFL agora é fazer os atletas rodarem o mundo para jogar essas poucas partidas. O desgaste existe, a disparidade esportiva de se atuar em terrenos desconhecidos aparece, mas os atletas precisam aceitar em nome do negócio.

A nova Champions League é um exemplo de como o negócio interfere cada vez mais no esporte. E de como isso precisa servir de alerta. Será que o gestor esportivo percebeu que, em troca de alguns milhões, o torcedor terá de gastar mais para ver seu time, ou que o atleta terá de jogar mais para ser campeão e, assim, correr mais risco de desgaste e lesão?

Quanto isso pode interferir, lá na frente, no próprio negócio?

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo

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