Vivo no universo do esporte há mais de 20 anos. Logo no meu início de carreira, ainda no curso de Rádio e Televisão, eu já tinha me colocado como meta participar de alguma forma da cobertura de pelo menos uma Olimpíada e uma Copa do Mundo. Tive sorte de fazer algumas escolhas certas e poder realizar este sonho em mais de uma oportunidade.
Sei que sou um privilegiado em poder dizer que estive em quatro edições de Jogos Olímpicos (Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012 e Rio de Janeiro 2016) e três Copas do Mundo (Alemanha 2006, África do Sul 2010 e Brasil 2014), mas o que sempre ouvi de colegas é que os Jogos Olímpicos de Sydney 2000, na Austrália, foram os melhores de todos os tempos em todos os sentidos, exceto a participação brasileira que ficou abaixo do esperado em relação ao número de medalhas.
Esta curiosidade sempre ficou na minha cabeça. Por que será que Sydney, na opinião de muitos, foi a melhor edição?
É uma pergunta difícil de responder, pois cada um tem o seu parâmetro e o seu sentimento em relação a cada um dos eventos. Eu, por exemplo, tenho muito carinho pelos Jogos de Atenas por ter sido a minha primeira participação em um evento desta magnitude e que acabou abrindo as portas para muitos outros que vieram depois.
No entanto, estive recentemente em Sydney nas minhas férias com a família e resolvi tentar tirar um pouco desta história a limpo. Pegamos uma tarde e fomos fazer uma visita ao Parque Olímpico, que, assim como na maioria das cidades anfitriãs de Jogos, fica afastado do centro da cidade. Pegamos o metrô e fomos sem nenhuma expectativa do que encontraríamos por lá.
Chegamos a uma estação onde me orientaram a pegar o trem em uma plataforma exclusiva para o destino Parque Olímpico. Achei estranho, mas seguimos as orientações e, depois de menos de cinco minutos, chegamos a uma estação meio deserta, mas superconservada e operante. Caminhamos alguns metros, e pude constatar que o Parque Olímpico de Sydney é um ambiente vivo e completamente integrado ao dia a dia da cidade e da região. Atualmente, ainda existem hotéis que, com certeza, abrigaram fãs ou jornalistas que estavam na cidade durante os Jogos; o Boulevard Olímpico é, atualmente, uma avenida de mão dupla que alimenta alguns edifícios de escritórios que estão na região; e todas as arenas olímpicas continuam sendo utilizadas e estão superconservadas.
Mas o melhor ainda estava por vir. Caminhando ao longo do Boulevard, chegamos ao Sydney Olympic Park Aquatic Center, o Parque Aquático usado nos Jogos, e pude notar famílias entrando e saindo do local em trajes de banho. Não acreditando no que vi, pedi à segurança para me deixar entrar para uma visita rápida como um fã de esporte e fui prontamente atendido.
Para minha surpresa, a piscina olímpica estava lá, sendo utilizada pela população para treinos, assim como a piscina de saltos ornamentais. De um outro lado, onde imagino que era a piscina de aquecimento dos Jogos, atualmente funciona um parque aquático que era exatamente o local que gerava a maior movimentação das famílias. Ou seja, o complexo aquático está apto a receber um evento de alto nível a qualquer momento, já que está superconservado, com arquibancadas em ordem e piscinas no melhor estado de conservação que poderiam estar, além de ser um excelente complexo esportivo para a comunidade.
Saindo dali, fomos ver outras arenas. O Tennis Center que está localizado no final do Boulevard Olímpico tinha recebido na semana anterior os jogos da United Cup, evento disputado por países nas cidades de Perth e Sydney, com a participação de Bia Haddad Maia, Carolina Meligeni Alves, Luisa Stefani, Thiago Monteiro, Gustavo Heidi e Rafael Matos, representando o nosso país. Mais uma instalação que continua sendo utilizada.
Outras arenas também continuam com a estrutura conservada e a agenda cheia, seja com eventos de esporte profissional, eventos culturais ou apenas abertos para utilização por parte da comunidade. O site do Parque Olímpico mostra em detalhes todas as atividades que podem ser desenvolvidas em cada uma das antigas arenas olímpicas que abrigaram grandes eventos de repercussão mundial e, hoje, continuam ativas para utilização da população.
E não paramos por aí. No site, existe também uma área para um “Master Plan 2050”, que visa a melhorar a sustentabilidade, a produtividade e o aproveitamento do espaço do Parque Olímpico de Sydney com a participação ativa da comunidade local sugerindo projetos e monitorando os avanços.
Posso dizer que a visita superou, e muito, qualquer expectativa que eu tinha do que encontraria por lá. Definitivamente, Sydney é, sem dúvida, um grande exemplo do que se convencionou chamar de legado olímpico.
Evandro Figueira é vice-presidente de mídia da IMG na América Latina e escreve mensalmente na Máquina do Esporte