Depois do frisson com o retorno do Brasil aos campeonatos de primeira linha de monopostos com o nascimento da F4 Brasil em 2022, o mercado nacional se agita de olho no que promete ser uma grande novidade para 2023: o surgimento do TCR Brasil.
Com calendário inaugural de seis etapas em paralelo com a terceira edição do TCR South America, o campeonato nacional terá promoção chefiada por Mauricio Slaviero, executivo que comandou a Stock Car durante anos antes de partir para a Europa com a missão de desenvolver a primeira categoria de turismo 100% elétrica do mundo, a ETCR.
O TCR Brasil promete surfar no êxito conquistado pelo TCR South America, cuja evolução da primeira para a atual temporada é nítida. A “Libertadores da América do asfalto” tem reunido grids de 19 carros em 2022, com sete montadoras diferentes representadas. O pacote de mídia é atrativo, com as corridas transmitidas ao vivo pelos canais Disney em toda a região, além de cobertura regular nos principais portais especializados em esporte a motor.
A competição promete ainda mais para os próximos meses, uma vez que a Toyota está na reta final da gestação de seu Corolla TCR. A Toyota Gazoo Racing da Argentina está à frente do desenvolvimento do modelo, que poderá competir em todas as pistas em que há eventos TCR pelo mundo.
E são muitas.
Introduzido em 2014 pelo executivo Marcelo Lotti, o conceito TCR realiza atualmente dezenas de campeonatos e explodiu pelo mundo todo em menos de uma década. Desde o WTCR, a Copa do Mundo de TCR e o FIA Motorsport Games, ambos com a chancela da entidade máxima do esporte a motor no mundo, passando por sete campeonatos regionais, 13 nacionais e outros oito de endurance, é a modalidade de carros de turismo mais difundida no planeta. São mais de 1.200 carros competindo, um recorde na cena global do esporte a motor.
A beleza dessa pulverização está na simplicidade do conceito e no rígido controle de custos.
Hoje, há 26 modelos de carros TCR homologados, produzidos por 15 montadoras diferentes (a Toyota será a 16ª da lista). Qualquer um desses veículos pode competir em qualquer evento no mundo, uma vez que os regulamentos técnico e desportivo são os mesmos, seja no Campeonato Alemão, dos Países Bálticos, Chinês, Ibérico, Europeu, Asiático, Escandinavo ou Sul-Americano. Além de promover intercâmbio entre equipes e pilotos, isso proporciona um mercado secundário salutar, uma vez que uma equipe brasileira, por exemplo, pode comprar um carro usado de um time de TCR de qualquer parte do mundo.
Outro pilar do controle de custos é o chamado “customer racing”. Isso significa que não há equipes “de fábrica” com seus orçamentos infinitos correndo contra garagistas de budget apertado. As montadoras envolvidas no conceito TCR desenvolvem os carros em suas unidades esportivas e os vendem para operação de equipes privadas.
E há um teto de custo para os modelos zero quilômetro, que são todos carros do segmento C, hatchback ou sedans de motor até 2.0 litros turbo e tração dianteira. São versões de corrida de modelos acessíveis ao consumidor médio de carros de passeio, o que garante bastante apelo do público, já que o motorista realmente pode “ver o seu carro na pista”. Aqui estamos falando de carros como Honda Civic, Fiat Tipo, Hyundai Elantra, Peugeot 308, Audi RS3 e Volkswagen Golf, por exemplo.
Nem por isso falta espaço para inovação, como aliás aponta o já mencionado ETCR. Já foram realizados testes combinando motores a combustão e elétrico no conceito TCR, solução que no futuro estará disponível para os campeonatos sem a necessidade de enormes investimentos por parte das equipes. Os carros do HTCR, o TCR híbrido, em breve poderão ser equipados com kits de performance para garantir um “boost” elétrico por meio do uso do botão de ultrapassagem, por exemplo.
Pilotos e equipes brasileiros estão ouriçados com a expansão do conceito TCR e a chegada do TCR Brasil, que tem todos os predicados para seguir a trilha de sucesso de seus irmãos pelo mundo. Agora, cabe aos patrocinadores mapearem as melhores oportunidades para escreverem juntos o capítulo verde e amarelo de uma história de sucesso presente em autódromos nos quatro cantos do planeta.
Luís Ferrari é CEO da Ferrari Promo e escreve mensalmente na Máquina do Esporte sobre o esporte a motor