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Apostas dominam patrocínio no Brasileirão, valorizam contratos e miram R$ 1 bilhão em investimento

Nove dos 20 clubes que disputam Campeonato Brasileiro conseguem aumento de 100% ou mais com parcerias no setor

Bruno Henrique comemora gol contra o Vasco no Carioca: Flamengo é dono do maior contrato com empresa de apostas - : Paula Reis / Flamengo

Bruno Henrique comemora gol contra o Vasco no Carioca: Flamengo é dono do maior contrato com empresa de apostas - : Paula Reis / Flamengo

Os sites de apostas ampliaram ainda mais seu domínio nas camisas dos times que disputam o Campeonato Brasileiro a partir de 29 de março. Os acordos fechados para 2025 incrementaram a participação do segmento no patrocínio máster e valorizaram as parcerias em 61,9% nesta temporada.

No ano passado, os times da Série A arrecadaram R$ 600,2 milhões em contratos com casas de apostas. Neste ano, esse número já subiu para R$ 972 milhões. Esse montante não inclui o acordo do Mirassol com a 7k, que é mantido em sigilo.  

O número ainda deve subir mais, já que o Santos encerra o atual contrato com a Blaze em março. Com a contratação de Neymar, a expectativa do clube é que, mesmo que mantenha o atual parceiro, consiga uma boa valorização do acordo atual. O craque santista, aliás, é embaixador da Blaze.

Independentemente do Santos, nove das 20 equipes que disputam a competição conseguiram aumento de 100% ou mais em seus contratos com casas de apostas nesta temporada. Todas elas trocaram de marca em 2025.

Mercado regulado

A ampliação dos investimentos em marketing esportivo acontece no primeiro ano em que o mercado brasileiro está totalmente regulado.

Diante das regras impostas pelo governo federal, algumas empresas desistiram de atuar no país ou foram para a ilegalidade. Outras repensaram seus gastos com patrocínio por causa do ônus com pagamento de impostos e taxa de outorga de R$ 30 milhões para operar no Brasil.

Houve, porém, quem ampliou o orçamento com marketing e até quem decidiu chegar ao Brasil após a regulamentação. E, para conquistar clientes em mercado hiperconcorrido, a visibilidade proporcionada pelo futebol é fundamental.

Líder

Quem liderou em valorização foi o Palmeiras, que conquistou aumento de 441% ao trocar o Esportes da Sorte pela Sportingbet. A antiga parceira, porém, não tinha exposição na camisa do Verdão. Contava apenas com o patrocínio máster do time feminino, além de ativações digitais.

Já a nova patrocinadora assumiu o lugar da Crefisa. Comparando com a instituição financeira cuja dona é Leila Pereira, presidente do Palmeiras, o incremento foi mais modesto: 23%.

No entanto, o acordo com a casa de apostas liberou as demais propriedades do uniforme, que também eram ocupadas por Crefisa e FAM, outra empresa do grupo.

Já foram fechados acordos com a Sil Fios e Cabos Elétricos para as mangas (R$ 11 milhões) e a FictorAgro para as costas superior (R$ 25 milhões), em acordo que será anunciado em breve pelo clube. Contando esses novos acordos, a camisa do Palmeiras já foi valorizada em 68%.

Restam no mercado a região da clavícula, barra traseira e calção. O clube conversa no momento com empresas no ramo alimentício, construção e montadora.

Também conquistaram aumentos significativos em seus contratos o Sport Recife (267%), Atlético-MG (233%), Red Bull Bragantino (200%), Vitoria (178%), Grêmio (163%), Bahia (111%), Internacional (108%) e Botafogo (100%). Em alguns casos, as casas de apostas passaram a ocupar regiões mais valorizadas da camisa.

Palmeiras de Veiga (à dir.) foi quem conseguiu maior valorização de contrato com apostas - Cesar Greco / Palmeiras
Palmeiras de Veiga (à dir.) foi quem conseguiu maior valorização de contrato com apostas – Cesar Greco / Palmeiras

O Galo trocou a Betano, dona dos naming rights do Brasileirão e da Copa do Brasil, pelo H2bet em acordo de R$ 60 milhões. O compromisso é válido por três temporadas. Para a empresa, a atração pelo investimento no futebol não se limita à visibilidade da camisa de um clube tradicional.

“A força da relação entre o povo brasileiro e o futebol é imensa. Ser o patrocinador máster de um time da Série A não é apenas uma questão de visibilidade, mas sim um passo estratégico na construção da marca H2bet”, pondera Ueltom Lima, CEO do H2bet, em entrevista à Máquina do Esporte.

“Escolhemos o Atlético-MG não só pela grandeza da sua história, mas também pelo engajamento surreal de sua torcida”

Ueltom Lima, CEO do H2bet

Primeiro grande investimento da empresa no futebol, o H2bet mira a conquista de uma participação maior no mercado a partir do patrocínio ao Galo.

“O H2bet entra no cenário regulado já entre os dez maiores sites de apostas do Brasil, e no topo dos que mais crescem mês a mês. O investimento em marketing – e não só clubes – tem um objetivo claro: aproximar o H2bet das cinco maiores operações do país”, espera Lima.

Nordeste

Com número recorde de nordestinos na primeira divisão desde o início da era dos pontos corridos, em 2003, e um forte mercado para as apostas, as equipes da região também se valorizaram.

Apenas o Ceará, com contrato vigente com o Esportes da Sorte, não comemorou crescimento exponencial nos ganhos. Bahia, Vitória, Fortaleza e Sport Recife fecharam os maiores acordos da história de cada clube.

“Para a marca, é essencial estar ao lado de uma instituição que celebra a paixão pelo esporte”, declarou José Victor Valadares, diretor executivo de novos negócios da Ana Gaming, dona da marca da 7k, sobre o contrato com o Vitória.

“É um acordo que, sem dúvidas, traz visibilidade para a empresa e, ao mesmo tempo, nos proporciona dialogar com um público expressivo e engajado”, acrescenta o executivo, referindo-se ao time, que teve outra empresa de apostas, a Betsat, no uniforme em 2024.

O Fortaleza, quarto colocado em 2024 e classificado para a fase de grupos da Libertadores, trocou a Novibet pela Cassino, com valorização de 50%.

Bahia fechou o maior acordo de patrocínio máster do Nordeste - Letícia Martins / Bahia
Bahia fechou o maior acordo de patrocínio máster do Nordeste – Letícia Martins / Bahia

“Sempre buscamos nos alinhar a marcas que têm muita credibilidade no mercado, como é o caso do Fortaleza”, diz André Viana, CEO da Cassino, outra marca da Ana Gaming.

“A decisão de patrocinar o clube foi bem tranquila por tudo aquilo que a equipe tem apresentado em termos de gestão e de desempenho esportivo”

André Viana, CEO da Cassino

“O Fortaleza, além de ter uma torcida numerosa e fervorosa, vem acumulando anos seguidos de ascensão e de excelentes resultados no cenário nacional”, acrescenta o executivo, cuja empresa atrelou bônus ao Leão do Pici de acordo com o desempenho do clube e o engajamento obtido com os torcedores.

Já o Bahia trocou o Esportes da Sorte pela Viva Sorte Bet, no maior contrato de um clube nordestino em todos os tempos: R$ 40 milhões por ano.

O Sport Recife, por sua vez, que retorna à primeira divisão, assumiu a segunda colocação, após substituir a Betvip, empresa do grupo Pixbet, pela Betnacional, adquirida pelo mesmo conglomerado da Betfair, parceira de Cruzeiro e Vasco. O acordo com o time pernambucano prevê pagamento de R$ 33 milhões por ano.

Perdas e ganhos

Empresas tradicionais do setor têm perdido visibilidade na elite. É o caso da EstrelaBet, que estava nas camisas de Criciúma e Internacional na Série A em 2024. Neste ano, não estampa seu logo em nenhum uniforme.

Já o Pixbet chegou a ter quatro clubes em 2023: Corinthians, Flamengo, Juventude e Vasco. No entanto, apesar das perdas nos últimos tempos, tornou-se patrocinador máster do Rubro-Negro, no maior contrato do futebol brasileiro: R$ 115 milhões neste ano.

Por fim, o Esportes da Sorte também viveu um ano de perdas. Em 2024, era parceira de cinco equipes da elite: Athletico, Bahia, Corinthians, Grêmio e Palmeiras. Nos três primeiros ocupava o espaço máster.

No entanto, teve contratos rescindidos com Furacão (que acabou rebaixado) e o Tricolor de Aço; além de ter finalizado parcerias com o Imortal e o Verdão. Apesar disso, permanece no espaço principal do uniforme corintiano e comemorou o acesso de outro parceiro, o Ceará.

“Apoiar o esporte e, sobretudo, o futebol brasileiro é um dos pilares da nossa empresa. Temos contratos estratégicos, com grandes equipes e que nos permitem um alcance gigantesco em termos de marca”, defende Sofia Aldin, CMO do Grupo Esportes da Sorte.

Para a executiva, em uma concorrência acirrada, é essencial manter o nome na cabeça dos fãs de futebol, principais clientes das empresas de apostas.

“Por mais que o público já nos conheça e saiba da qualidade dos nossos serviços, estar presente nas camisas é fazer parte de uma paixão, [é] uma forma de nos conectar genuinamente aos torcedores, além de criar ações exclusivas e de ajudar os times a construírem uma história vitoriosa”

Sofia Aldin, CMO do Grupo Esportes da Sorte

Alfa entrou no patrocínio máster de Grêmio e Inter e encerrou 24 anos de Banrisul na propriedade - Lucas Uebel / Grêmio
Alfa entrou no patrocínio máster de Grêmio e Inter e encerrou 24 anos de Banrisul na propriedade – Lucas Uebel / Grêmio

Desafio do interior

Todos os clubes da elite brasileira contam com um patrocínio da área de apostas nesta temporada. Em 2024, apenas o Cuiabá, rebaixado para a Série B, não teve parceiro do segmento.

No patrocínio máster, o domínio será ainda maior. No ano passado, as apostas detinham 75% das exposições na área mais nobre dos uniformes. Em 2025, 90% dos times da Série A expõem uma marca de jogos de azar nessa propriedade.

As exceções são dois clubes do interior paulista, cujos parceiros principais são marcas de bebida: Red Bull Bragantino (Red Bull) e Mirassol (Guaraná Poty).

No time de Bragança Paulista, controlado pela empresa de energéticos, a Betfast ocupa a manga e a barra traseira. Já a equipe de Mirassol, que estreia na Série A em 2025, conta com a 7K na barra frontal.

Patrocínio máster

No patrocínio máster, os últimos a aderirem à onda foram Grêmio e Internacional, que anunciaram na semana passada acordo com a Alfa, substituindo o Banrisul, que era dono do espaço havia 24 anos.

O acordo prevê o pagamento de R$ 50 milhões por temporada, além de bônus que podem fazer esse montante chegar a R$ 215 milhões somando os três anos de contrato.

“É uma honra para a Alfa firmar essa parceria. Sabemos da responsabilidade que isso representa e estamos comprometidos em contribuir para o sucesso das instituições, sempre com respeito à história e à paixão dos torcedores”, afirmou Arthur Silva, sócio e CEO da Alfa.