Morte de recordista envelhece maratona e pende balança para Adidas na disputa por tempo Sub-2h

Kelvim Kiptum exibe a bandeira do Quênia após bater o recorde da maratona - Reprodução / Instagram (@kelvinkiptumcheruiyot)

A morte precoce de Kelvin Kiptum, de 24 anos, recordista mundial da maratona, em um acidente de carro no último domingo (11), não apenas tirou das ruas o maior talento surgido na prova nos últimos 20 anos. Também adiou um pouco mais o sonho de ver o homem superar a marca dos 42,195km em menos de 2 horas.

“Pretendo quebrar a marca de 2 horas em Roterdã e conseguir o ouro nos Jogos Olímpicos de Paris”, afirmou Kiptum, duas semanas antes do trágico acidente que pôs fim à sua vida e à do treinador Gervais Hakizimana, durante uma viagem entre Eldoret e Kaptagat, no oeste do Quênia, local de treinamento da maior parte da elite de corredores do país.

Atleta da Nike, Kiptum disputaria a maratona holandesa em 14 de abril e pretendia ser um dos selecionados pela Federação Queniana de Atletismo para buscar seu primeiro ouro nos Jogos Olímpicos da capital francesa, apenas quatro meses depois, em 10 de agosto.

Sua consagração como atleta do ano pela World Athletics, entidade que comanda o atletismo mundial, no final de 2023 foi uma excelente notícia não só para o atletismo como para a mais tradicional prova da modalidade.

Recordes

Recordista mundial na Maratona de Chicago, então com apenas 23 anos, Kiptum foi o atleta mais jovem a atingir esse feito nos últimos 20 anos, período em que a prova passou por profundas transformações.

Em 2003, a Federação Internacional de Atletismo estabeleceu as regras para oficializar os recordes mundiais nas provas de rua, incluindo a maratona.

Três anos depois, foi criado o milionário circuito das Majors, com premiação milionária ao seu campeão. A profissionalização das provas de rua é apontada como a principal razão para que os fundistas se desinteressem em disputar competições de pista e passem, desde muito jovens, a correr maratonas.

A evolução dos tempos se acelerou. Em 2003, Paul Tergat rompeu a barreira das 2h05. Cinco anos depois, Haile Gebrselassie estabeleceu recorde inferior a 2h04. O teto de 2h03 foi quebrado por Dennis Kimetto em 2014.

Quatro anos depois, outro queniano, Eliud Kipchoge, estabeleceu recorde na faixa de 2h01. Finalmente, no ano passado, Kiptum ficou a 36 segundos de quebrar a barreira das 2 horas.

Tigist Assefa foi a boa notícia da Adidas em 2023 – Reprodução / Instagram (@worldathletics)

Nike x Adidas

O crescimento do interesse em torno da maratona e a popularização das corridas de rua ao redor do planeta despertaram o interesse de Nike e Adidas, as duas principais marcas de material esportivo do planeta. A modalidade, antes dominada pelas japonesas Asics e Mizuno, viu o mercado gradualmente se concentrando nas gigantes ocidentais.

O Sub-2h virou obsessão. Tanto que a Nike chegou a promover um evento apenas para que a marca fosse quebrada por Kipchoge, em condições especiais. No entanto, sem obedecer às regras estabelecidas pela World Athletics, esse tempo não foi oficializado.

Para a Nike, a despedida precoce de Kiptum também fez com que a disputa com a Adidas por calçar o corredor que será o responsável por atingir esse feito histórico pendesse para a marca das três listras. Sem a principal estrela da distância, o Top 10 da prova em 2023 passa a ter cinco corredores patrocinados pela Adidas, três pela Nike e dois pela Asics, hoje mera coadjuvante nessa disputa.

Mais do que isso, a faixa etária entre esses corredores da elite da maratona subiu de 29 anos (com Kiptum) para 31 (sem o queniano no pelotão). Dos dez melhores corredores da distância na última temporada, sete têm 30 anos ou mais, estando longe do auge físico. É o caso de Kipchoge, antigo detentor do recorde mundial.

O queniano, atleta da Nike, possui o segundo melhor tempo da última temporada sem contar com as marcas de Kiptum (2h02min42s), obtido com a vitória na Maratona de Berlim. No entanto, pouca gente acredita que o corredor, aos 39 anos, tenha fôlego para atingir a façanha do Sub-2h.

O líder dessa classificação é Sisay Lemma, vencedor da Maratona de Valência 2023 com 2h01min48s. O etíope, de 33 anos, é atleta da Adidas.

O único fundista deste Top 10 que tem idade para ainda ter uma boa evolução na carreira é outro etíope que calça Adidas: Tadesse Takele, de 21 anos. O atleta foi o terceiro colocado em Berlim 2023 com o tempo de 2h03min24s.

Tecnologias

As apostas para atingir esse feito vêm de novas tecnologias desenvolvidas nos laboratórios esportivos de Nike e Adidas. A Nike aposta no Alphafly, usado por Kiptum em Chicago. A terceira geração do tênis chegou ao mercado no mês passado (foi utilizado pelo queniano antes de ter sido posto à venda ao público).

O produto possui Air Zoom, placa de fibra de carbono Flypate e espuma ZoomX para dar maior estabilidade nas passadas e propulsão aos corredores. O equipamento segue a tendência minimalista dos tênis de corrida de rua, pesando apenas 220 gramas em sua versão masculina.

Segundo a Nike, o tênis percorreu mais de 32 mil quilômetros no período de testes nos laboratórios da marca.

Já a Adidas investe no Adizero Adios Pro Evo 1, que foi utilizado pela etíope Tigist Assefa para bater o recorde mundial na última edição da Maratona de Berlim (2h11min53s).

Segundo a empresa, o produto, que pesa apenas 138 gramas, é 40% mais leve do que qualquer tênis anteriormente criado pela marca. De acordo com a Adidas, essa diferença de peso pode reduzir o tempo de um maratonista em até 20 segundos, o que é uma eternidade no mundo competitivo.

O tênis, que teve remoção da palmilha, também traz uma nova geração da tecnologia Lightstrike Pro, que proporciona maior retorno de energia aos atletas. O solado possui nova tecnologia para otimizar a tração, e o cabedal em mesh gera mais leveza ao material.

Procuradas para se pronunciar sobre o atual momento da disputa pelo tempo Sub-2h na maratona, tanto Adidas como Nike não quiseram se pronunciar.

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