A Federação Internacional de Futebol (Fifa) manobra para evitar uma reedição da polêmica envolvendo a braçadeira “One Love”, ocorrida na Copa do Mundo 2022. No ano passado, diversas seleções europeias anunciaram que utilizariam o adereço, como forma de demonstrar apoio à causa LGBTQIA+ e criticar a legislação homofóbica do país-sede daquele mundial, o Catar.
Como forma de colocar panos quentes na situação, a Fifa invocou a regra que proíbe toda e qualquer manifestação política em suas competições oficiais. Na Copa do Mundo Feminina 2023, a polêmica braçadeira seguirá banida. Jogadoras que contrariarem a regra poderão receber punições, como cartão amarelo.
A seleção inglesa feminina pretendia usar o adereço durante o Mundial, que será disputado na Austrália e na Nova Zelândia, de 20 de julho a 20 de agosto. Apesar de a “One Love” estar proibida, a Fifa resolveu flexibilizar sua regra e permitir que atletas manifestem apoio a determinadas causas sociais.
Capitãs de seleções poderão utilizar braçadeiras em apoio às causas que serão trabalhadas a cada rodada da Copa do Mundo Feminina 2023. Haverá ainda a possibilidade de apoiar uma questão específica ao longo de toda a competição.
A solução foi encontrada após uma consulta feita pela Fifa às federações nacionais e às atletas que disputarão o torneio. Entre as braçadeiras permitidas está a “unidas pela inclusão”, que não levará as cores do arco-íris, do movimento LGBTQIA+, mas sim tons que simbolizam raça e herança (vermelho/preto/verde) e todas as identidades de gênero e orientações sexuais (rosa/amarelo/azul).
Essas combinações de cores são inspiradas na bandeira pan-africana e na bandeira pansexual, respectivamente.
Outras causas permitidas
Outras causas que poderão ser apoiadas pelos times durante a Copa do Mundo Feminina 2023 são: “unir pelos povos indígenas”, “unir pela igualdade de gênero”, “unir pela paz”, “unir pela educação para todos”, “unir pela fome zero”, “unir pelo fim da violência contra a mulher” e “futebol é alegria, paz, amor, esperança e paixão”.
A postura mais flexível em relação a esse tipo de manifestação é favorecida pelo fato de os países que sediam o Mundial deste ano serem democracias liberais e que adotam postura tolerante (e até mesmo de apoio) em relação a causas relacionadas a direitos humanos.
O Catar, que recebeu a última Copa do Mundo masculina, possui um regime autocrático e fechado. As denúncias de violação aos direitos humanos marcaram o noticiário sobre o evento, muito antes de ele se iniciar.
Essa mudança de ares agora permite à Fifa posar de arauta das causas sociais, menos de um ano depois de barrar inúmeros protestos contra as violações ocorridas no país-sede da última Copa do Mundo masculina.
“O futebol une o mundo e nossos eventos globais, como a Copa do Mundo Feminina da Fifa, têm um poder único de unir as pessoas e proporcionar alegria, emoção e paixão. Mas o futebol faz ainda mais do que isso, pode destacar causas muito importantes na nossa sociedade. Depois de algumas conversas muito abertas com as partes interessadas, incluindo associações membros e jogadoras, decidimos destacar uma série de causas sociais – da inclusão à igualdade de gênero, da paz ao fim da fome, da educação ao combate à violência doméstica – durante todos os 64 jogos da Copa do Mundo Feminina da Fifa”, afirmou o presidente da entidade, Gianni Infantino.
A Federação Inglesa de Futebol (FA) anunciou que deixará para as jogadoras decidirem quais causas apoiarão durante o Mundial.
“Se pudermos ou não usar a braçadeira (‘One Love’), sabemos que ainda defendemos exatamente a mesma coisa”, disse a meio-campista inglesa Georgia Stanway, antes do anúncio feito pela Fifa.