A cada torneio que a Federação Internacional de Futebol (Fifa) promove, é comum algum dirigente vir a público afirmar, com um tom de voz variando entre o embargado e o protocolar, que a edição em questão teria sido a maior de todos os tempos. Aplicada à Copa do Mundo Feminina 2023, disputada na Austrália e na Nova Zelândia, uma declaração com tal conteúdo nada teria de demagógica ou de forçada.
A edição é de fato a maior da modalidade em todos os tempos, não apenas pelo evento em si, mas por toda a repercussão que gerou e também por estar alinhada ao Zeitgeist (termo em alemão, que pode ser traduzido como “o espírito do tempo”) de uma época caracterizada de maneira decisiva pelo empoderamento feminino, fenômeno que transcende a esfera política e se irradia pelos campos da cultura, da economia, da mídia e do esporte.
Este Mundial ficará marcado por uma grande transição, que poderia ser classificada de evolução ou talvez de revolução. Pela primeira vez, desde a Copa do Mundo da China, disputada em 1991, a grande decisão contará com equipes que nunca haviam avançado para além da disputa pelo terceiro lugar da competição.
Esta foi a edição que viu grandes favoritas (Estados Unidos, Alemanha, Noruega e Japão) ficarem pelo caminho, dando espaço para que novas candidatas a potências da modalidade pudessem emergir. A Copa do Mundo Feminina 2023, de certa forma, premia os investimentos de Inglaterra e Espanha no futebol feminino.
Palcos das duas mais ricas e badaladas ligas de futebol masculino da atualidade (Premier League e LaLiga), os dois países promoveram mudanças consideráveis em seus principais campeonatos femininos recentemente. E esse movimento, coincidentemente ou não, acaba por se refletir no desempenho de suas seleções na Copa do Mundo da Austrália e da Nova Zelândia.
Reformulação
A principal competição profissional de futebol feminino da Inglaterra é a Women’s Super League (WSL), que está em sua 13ª edição (ao passo que a competição masculina tem mais de 130 anos, considerando-se suas diferentes fases; a Premier League, com esse nome, já possui 29 temporadas).
O maior campeão é o Chelsea, com seis títulos. O clube de Londres é o vencedor dos últimos quatro troféus. Arsenal, Manchester City e Liverpool também já ganharam a Super League.
Em 2018, o futebol feminino inglês passou por uma grande reformulação em suas quatro principais divisões. Atualmente, os clubes ingleses reúnem atletas de destaque na modalidade e que estiveram presentes neste Mundial, casos da australiana Sam Kerr, do Chelsea,e da jamaicana Khadija Shaw, do Manchester City. Sem contar com Ellen White e Lucy Bronze, também do City, e Fran Kirby, do Chelsea.
A Women’s Super League 2023/2024 tem patrocínio do Banco Barclays, que detém os naming rights da competição. O torneio conta com 12 clubes. A Adidas fornece material esportivo para Arsenal, Manchester United e Leicester, enquanto a Nike é parceira de Brighton, Liverpool e Tottenham. Por fim, o Aston Villa tem contrato com a Castore, o Bristol está com a O’Neill’s, o Manchester City veste Puma, o Everton usa Hummel, e o West Ham tem parceria com a Umbro.
Vale lembrar que, a partir da década de 1920, o futebol feminino enfrentou uma série de proibições no Reino Unido com base em teorias pseudocientíficas, que afirmavam que a modalidade ameaçava a saúde e a moralidade das mulheres. Apenas nos anos 1970, as restrições foram banidas.
Profissionalização
Na Espanha, a Liga F, que organiza a primeira divisão feminina do país, tem passado por mudanças profundas nos últimos tempos. O campeonato nacional da modalidade existe há 36 anos. Porém, apenas na temporada 2022/2023 é que ele se profissionalizou, adotando a denominação atual.
A Finetwork possui os naming rights da competição. O maior campeão é o Barcelona, que venceu a última edição e acumula oito troféus. O clube catalão, aliás, foi o primeiro a romper a recente hegemonia do Lyon na Champions League Feminina, tendo conquistado duas das últimas três edições da competição continental.
Atualmente, a Liga F conta com 16 clubes, com os seguintes fornecedores de materiais esportivos: Adidas (Madrid CFF e Real Madrid), Castore (Athletic Bilbao e Sevilla), Hummel (Betis, Eibar e Tenerife), Joma (Sporting de Huelva), Macron (Levante e Real Sociedad), Nike (Atlético de Madrid e Barcelona) e Puma (Valencia).
Como principal destaque dentro de campo, a Liga F conta com Alexia Putellas, do Barcelona, vencedora do Prêmio Fifa The Best e da Ballon D’Or (da revista France Football) em 2021 e 2022.
Seleções mais valiosas
Hoje, em termos de valorização do elenco, a Espanha leva ligeira vantagem em relação à Inglaterra. A seleção ibérica ficou em segundo lugar no ranking feito pela revista Forbes para a Copa do Mundo da Austrália e da Nova Zelândia, com o conjunto de suas atletas avaliado em € 4,09 milhões.
A lista é encabeçada pela Alemanha, que foi cotada em cerca de € 4,25 milhões. A Inglaterra aparece na terceira colocação, com seu quadro de jogadoras avaliado em € 3,65 milhões.
Patrocinadores das seleções
As seleções finalistas da Copa do Mundo Feminina 2023 contam com parcerias com diversas marcas. Na Espanha, a presença de empresas locais é mais notória, ao passo que, na Inglaterra, há forte participação de corporações globais. A lista de patrocinadores é a seguinte:
Espanha
Principais: Iberdrola, 3D Factory e Adidas (material esportivo)
Outros: Iberia, Halcon Viajes, Cervezas Victoria, Alimentos Despaña, El Ganso, Sanitas, Seur, Sangre de Toro, Mitsubishi Eletric, Renfe, Sierra Cazorla, Wimu e Artero
Inglaterra
Principais: EE, Budweiser, Google Cloud e Nike (material esportivo)
Outros: Kind, LG, Lucozade Sport, M&S, Nationwide, Nuffield Health, Weetabix e Xbox
Patrocinadores individuais das principais atletas da Espanha
Alexia Putellas (Nike, Cupra Racing, Oakley, Allianz, Mango, Spotify, MartiDerm, Lego, Iberdrola e Visa)
Aitana Bonmatí (Nike, Springfield e Niche B)
Jennifer Hermoso, Teresa Abelleira e Salma Paralluelo (Adidas)
Patrocinadores individuais das principais atletas da Inglaterra
Alex Greenwood (Under Armour, Go Henry, Boast Elite, Abbott Lyon e The Fold)
Beth Mead (Nike, Elle UK e McDonald’s)
Leah Williamson (Nike, Dyson e Toca Social)
Lucy Bronze (Nike, Cupra Racing e Visa)
Recorde de audiência e de público
A Copa do Mundo Feminina 2023 registrou recorde de público, com 1,5 milhão de ingressos vendidos. A marca anterior pertencia ao Mundial de 2015, disputado no Canadá, que teve 1,35 milhão de entradas comercializadas.
Mesmo no Brasil, que viu a seleção nacional ser eliminada na primeira fase, o torneio registrou recordes de audiência na TV aberta, na TV por assinatura e no streaming.
Nos meses que antecederam o início da competição, a Fifa chegou a fazer jogo duro com grupos de mídia da Europa por conta dos baixos valores oferecidos, à época, pelos direitos de transmissão.
A Fifa anunciou, nesta sexta-feira (18), que as receitas do Mundial foram de US$ 570 milhões. A entidade também informou que pagará US$ 152 milhões em premiações para federações e atletas pelo desempenho na competição.
A final da Copa do Mundo Feminina 2023, entre Espanha e Inglaterra, será neste domingo (20), no Estádio Olímpico de Sydney, na Austrália, a partir das 7h (horário de Brasília).