Antonio Claret

No início deste ano, o Cruzeiro resolver adotar uma medida pouco usual no futebol brasileiro. O clube mineiro se desfez do acordo que mantinha com a Pro Entertainment para gerir de maneira independente todos os assuntos relativos aos seus produtos licenciados.

O resultado dessa mudança foi um grande crescimento no número de produtos oferecidos e a permanência da meta de atingir a marca de mil artigos licenciados até o início do segundo semestre de 2008.

“Nós conseguimos falar com mais facilidade com os parceiros. Aceleramos o crescimento de produtos licenciados, que era um dos nossos objetivos. Além disso, a receita do produto licenciado é toda do clube, pois não temos que pagar mais nenhuma empresa para fazer isso”, explica Antonio Claret, diretor de marketing do Cruzeiro.

Assumidamente fã do trabalho desenvolvido pelo marketing do Barcelona, o diretor do Cruzeiro exalta a penetração no segmento têxtil, além de lançamentos inéditos no futebol até então, como um leite licenciado.

“Nós tínhamos uma empresa, só que na verdade a mudança vai exatamente do trabalho, em função da marca, da nossa força. O Cruzeiro foi o primeiro a ter um leite, coisa que nem o Palmeiras teve na época da Parmalat. Conseguimos licenciar o Raposão com a Estrela, que é a principal indústria de brinquedos do país. Dificilmente teríamos esses acordos via terceiros”, dispara Claret.

Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, o diretor de marketing do Cruzeiro dá mais detalhes sobre a mudança que promoveu nos licenciados, fala da mudança inesperada de patrocínio durante a temporada, e se revolta ao ter uma das suas ações comparadas a do Atlético-MG, grande rival cruzeirense:

“Nem conheço o Atlético. Se eu for me inspirar nele, eu estou morto”.

Leia a seguir a entrevista na íntegra:

Máquina do Esporte: Como é feito o trabalho com os licenciados no Cruzeiro?

Antonio Claret: Nós estamos trabalhando há algum tempo diretamente, então não temos mais intermediários nos licenciamentos. O nosso departamento é que faz todos os contatos, tanto receptivo, quanto ativo. Nós falamos direto com as empresas e todo o processo de licenciamento é com o Cruzeiro.

ME: O que essa mudança de postura representou para os negócios do clube?

AC: Nós conseguimos falar com mais facilidade com os parceiros. Aceleramos o crescimento de produtos licenciados, que era um dos nossos objetivos. Além disso, a receita do produto licenciado é toda do clube, pois não temos que pagar mais nenhuma empresa para fazer isso.

ME: Quando foi iniciado esse processo e quais os resultados obtidos até o momento?

AC: Já estamos assim desde o meio do ano passado, mas começamos efetivamente em janeiro deste ano. Temos apenas nesse ano cerca de 300 itens, além de abrir um leque em alguns segmentos, como no têxtil, com uma linha de toalhas, cachecóis, entre outros.

ME: Os licenciados já têm uma representatividade dentro do orçamento do Cruzeiro?

AC: Eu diria que é uma fatia em crescimento, pode representar muito. Nosso espelho é o Barcelona, que tem uma receita fenomenal com os licenciados. Por isso assumimos o controle direto dos nosso trabalhos com os licenciados..

ME: Qual estrutura o clube dispõe para realizar esses trabalhos de maneira independente?

AC: Nosso departamento comercial tem um coordenador e outras quatro pessoas. Eu tenho uma pessoa que trabalha exclusivamente nessa questão e prepara todos os relatórios para mim.

ME: Mas não seria mais vantajoso para os negócios contar com uma empresa especializada, que tivesse uma equipe maior?

AC: Nós tínhamos uma empresa, só que na verdade a mudança vai exatamente do trabalho, em função da marca, da nossa força. O Cruzeiro foi o primeiro a ter um leite, coisa que nem o Palmeiras teve na época da Parmalat. Conseguimos licenciar o Raposão com a Estrela, que é a principal indústria de brinquedos do país. Dificilmente teríamos esses acordos via terceiros. Estamos lançando quase todo mês uma camisa alusiva, como aconteceu com o bicampeonato da Libertadores, do aniversário do recorde de público no Mineirão, do projeto “Essa Torcida Move o Time”. Então a gente acaba ganhando muita velocidade com esse sistema.

ME: O sr. acredita que trabalhar de maneira independente nas questões de licenciamento seja o futuro para os demais clubes brasileiros?

AC: Eu prefiro não falar de uma forma geral. Nós optamos por esse caminho porque eu venho de um segmento em que sempre estive ligado intensamente com as indústrias e os pontos de venda. Eu consigo falar fácil com as pessoas em relação a tudo e isso acaba facilitando para mim. Acho que um clube para fazer isso tem que ter uma estrutura e estar preparado para trabalhar muito mais. Seria muito cômodo deixar uma empresa fazer e esperar, mas não é o que optamos. Trabalhamos com metas e números.

ME: O Cruzeiro passou boa parte do último ano sem patrocínio. Os licenciados ajudaram de alguma forma a amortizar a ausência dessa importante receita?

AC: Como eu disse, o nosso objetivo é valorizar e transformar os licenciados em uma fonte de receita cada vez maior, assim como o Barcelona, que vende muitos produtos e não precisa de patrocínio. Estamos com isso, tentando crescer o leque de produtos. O torcedor sempre sugere novos itens, e nós buscamos atender essa demanda.

ME: Em relação ao patrocínio, uma troca de empresas, com o contrato ainda em vigor, não prejudica o trabalho de credibilidade da marca do clube?

AC: O torcedor não compra a camisa do patrocinador, mas sim a camisa do time. O nosso objetivo não era ter trocado a Xerox no meio do contrato, mas ele tinha essa brecha, sugerida por eles. Era um risco, tanto para nós, quanto para eles, que estavam entrando no futebol brasileiro pela primeira vez. Mas como recebemos uma proposta irrecusável, resolvemos trocar de patrocinador.

ME: Mesmo assim, essa situação não prejudica a imagem do clube no mercado?

AC: O Cruzeiro é uma empresa como qualquer outra. Ninguém perde um bom negócio com medo do que o mercado vai falar. O torcedor está para nos apoiar. Eles viram que a troca era para o bem do clube, que era para o Cruzeiro segurar os atletas e lutar pelo título do Brasileiro, então nos apoiaram. Se não tivéssemos um patrocínio a nossa altura, o presidente teria que vender atletas, pois o futebol, por si só, é deficitário. Claro que iríamos preferir fazer um contrato de cinco, dez anos, mas desde que fosse dentro da base que merecemos.

ME: O Cruzeiro lançou a campanha “Essa Torcida Move o Time” para motivar seus torcedores. Ela foi inspirada no modelo praticado pela Atlético Mineiro no último ano?

AC: Nem conheço o Atlético. Se eu for me inspirar nele, eu estou morto. Não me inspiro em outro clube. O foco é a nossa torcida e não temos nada a ver com outros clubes. Estamos fazendo porque a nossa torcida tem 6,7 milhões de pessoas, contra 3,6 milhões do adversário, segundo o Datafolha. A mídia supervaloriza os outros e esquece que a nossa torcida está ai. Tivemos mal no início do ano, mas as vendas de produtos não caíram, o que mostra a fidelidade do torcedor. Estou valorizando o que a gente tem, não o que o outro fez.

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