Caio Umehara

Com mais de oito mil quilômetros de costa litorânea, o Brasil é o cenário ideal para os adeptos do surfe. Apesar disso, o país não conseguiu formar nenhum campeão mundial da modalidade e encontra dificuldades para expandir-se dentro do mercado internacional nesse segmento. A ajuda para o desenvolvimento vem de grandes marcas que decidem fincar raízes em território tupiniquim.

A australiana Rip Curl é um desses exemplos. Especializada em surfwear, a empresa está entre as três mais importantes do mundo e aposta no apoio ao esporte para fixar sua marca no país. O principal investimento em solo nacional, porém, está na base. A companhia mantém desde 2000 um circuito próprio para revelar talentos capazes de abrir a contagem de títulos no World Championship Tour (WCT).

“Houve um tempo ainda em que o esporte era marginalizado, tido como “coisa de vagabundo”, o que atrapalhou um pouco o processo de desenvolvimento do surfe”, afirma Caio Umehara, coordenador de marketing da Rip Curl.

A gradativa mudança do cenário, observada nos últimos cinco anos, pode ganhar um aliado de peso. Segundo ele, a Rede Globo pode se tornar a principal parceria na divulgação do surfe no Brasil.

“Temos informações de que a Globo quer adquirir os direitos do WCT, mas ainda precisa de um investidor e, principalmente, adequar os campeonatos à sua grade de programação. O surfe é muito diferente das outras competições às quais ela está acostumada. Nós dependemos da natureza para realizar as etapas”, diz o executivo.

Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Umehara faz um balanço sobre o mercado do surfe brasileiro, cita os Estados Unidos como principal referência internacional e destaca os principais investimentos da Rip Curl dentro do esporte.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

Máquina do Esporte: O mercado de surfe ainda é muito restrito no Brasil? Quais são as dificuldades para quem atua nesse ramo?

Caio Umehara: Esse tema é muito discutido por todo mundo que trabalha no ramo. O Brasil não tem um campeão mundial, apesar do talento e da criatividade dos surfistas brasileiros. Isso dificulta um pouco o trabalho. Falta um Guga para o surfe nacional e, para isso, é preciso realizar um trabalho de base específico para o tipo de praia que nós temos aqui. Houve um tempo ainda em que o esporte era marginalizado, tido como “coisa de vagabundo”, o que atrapalhou um pouco o processo de desenvolvimento do surfe. De cinco anos para cá, o cenário começou a mudar. Existem escolinhas com treinadores capacitados em vários pontos do país.

ME: Se houvesse maior atenção das emissoras de televisão ao surfe, a possibilidade de crescimento seria maior?

CaU: Tentamos achar uma fórmula ideal para realizar as transmissões na TV, precisamos de um formato que agrade o telespectador. Temos informações de que a Globo quer adquirir os direitos do WCT, mas ainda precisa de um investidor e, principalmente, adequar os campeonatos à sua grade de programação. O surfe é muito diferente das outras competições às quais ela está acostumada. Nós dependemos da natureza para realizar as etapas. Se o contrato for realmente assinado, será um grande impacto para o surfe no Brasil.

[NR: A Máquina do Esporte entrou em contato com a assessoria da Globo, mas foi informada de que a pessoa apta a responder sobre esse assunto não estava na emissora]

ME: Quais são os principais pólos do surfwear no Brasil?

CaU: O mercado está concentrado nas grandes capitais, principalmente do Sul e Sudeste. São Paulo e Rio de Janeiro são os principais centros, não apenas em relação a surfistas e competições, mas de todo o entorno também. É onde encontramos mais estrutura, espaço para comercialização dos produtos e até locais para o desenvolvimento dos atletas.

ME: Qual é a principal referência global para o mercado do surfe brasileiro?

CaU: Os Estados Unidos ditam as tendências em todo o mundo. Eles são o principal mercado de surfwear, o melhor exemplo. A Califórnia é uma grande referência, sedia uma das principais feiras de surfe do mundo. São eles que dão o ritmo do mercado internacional.

ME: Como a Rip Curl faz seu planejamento de mídia? Quais os meios de divulgação da marca?

CaU: Fazemos de tudo um pouco. Temos anúncios em TV, internet, mídia especializada e eventos. Porém, concentramos nossos esforços nos pontos-de-venda. Essa é uma ferramenta muito interessante, porque é onde o consumidor percebe a diferença para os concorrentes, analisa melhor o produto. Nesse mercado ainda não existe cultura de pesquisas, de posicionamento das marcas. Ainda assim, posso afirmar que nós estamos entre as três maiores marcas de surfwear do mundo.

ME: Quanto a empresa investe em marketing esportivo anualmente e para onde, especificamente, vai esse aporte?

CaU: Nosso investimento em marketing esportivo representa de 20% a 25% do total da empresa. A Rip Curl é uma marca internacional, com sede na Austrália. Patrocinamos, em média, dez eventos em todo o mundo, sendo que três fazem parte do WCT: duas etapas no masculino e outra no feminino. Há dois anos, conseguimos uma licença inédita para patrocinar um evento móvel, chamado Rip Curl Pro Search, uma das nossas principais apostas. Essa competição não tem sede definida, nós vamos atrás da onda perfeita. Em 2005, fomos para as Ilhas Reunião [localizadas a leste de Madagascar]. No ano seguinte, realizamos essa etapa no México. A última edição aconteceu no final de junho, no Chile.

ME: E como é feito o direcionamento desses investimentos no Brasil?

CaU: Nós já tivemos o patrocínio de grandes eventos no Brasil. Uma decisão do grupo, porém, fez com que nós direcionássemos nossa atuação para os jovens talentos do surfe nacional. Nosso foco é recrutar a nova geração de surfistas do país, com a organização da principal competição para atletas até 16 anos: o Rip Curl Grom Search, que já está na nona edição. Esse campeonato acontece no mundo todo e o prêmio para o vencedor é o direito de competir na final internacional.

ME: A atuação da marca está restrita a eventos ou existe o patrocínio a atletas também?

CaU: A nossa marca possui uma equipe de atletas patrocinados. Dois deles participam do WCT: Raoni Monteiro e Jacqueline Silva. Na divisão de acesso temos o Jean da Silva e o Bruno Santos, eleito pela revista Fluir como o melhor brasileiro da atualidade. Nossa equipe júnior contém quatro nomes: Jessé Mendes, Felipe Braz, Nathaly Martins e Camila Cássia. Recentemente, fechamos com outro nome importante do cenário nacional, o Eric de Souza. Fora do âmbito das competições, nós temos o Ricardo Bocão, apresentador do canal Woohoo, especializado em surfe, que é o embaixador da marca.

ME: Há a intenção de ampliar o leque para outras modalidades?

CaU: A Rip Curl é uma empresa voltada exclusivamente para o mercado do surfe. Mas apoiamos atletas de outros esportes de prancha, como skate e wakeboard. A tetracampeã brasileira dessa modalidade, Mariana Martins, faz parte do grupo de atletas patrocinados pela nossa marca.

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