Carlos Alberto Galvao

A marca Ironman já virou praticamente sinônimo de triatlo. O evento criado pela World Triathlon Corporation (WTC) se destaca pelo rigor nos percursos que os triatletas são submetidos, mas também ganha cada vez mais força no mundo dos negócios, movimentando milhões todos os anos.

No Brasil, a empresa responsável pela marca é a Latin Sports. No último mês, a empresa realizou mais uma edição do Ironman Brasil Telecom em Florianópolis, e a movimentação total beira os R$ 20 milhões. Uma das maiores beneficiadas é justamente a capital catarinense.

“O Ironman tem um impacto financeiro em Florianópolis que chega a nove milhões e meio de reais. Nesta edição foram mil e trezentos atletas participantes. Historicamente, cada um viaja com mais três ou quatro pessoas e ficam entre seis a oito dias na cidade. A estimativa é que cada um gaste cento e quarenta reais por dia com hospedagem, alimentação, entre outros quesitos. Atualmente, o Ironman é o evento esportivo mais importante de Santa Catarina”, afirma Carlos Galvão, diretor executivo da Latin Sports.

Para realização da última edição do Ironman, a Latin Sports investiu R$ 1,5 milhão, mas contou com uma receita de R$ 2,5 mi, somando apenas patrocínios e inscrições. Além disso, mesmo sem um parceiro de mídia, o evento gerou um retorno para as empresas envolvidas no evento.

“A estimativa é que esse ano [o retorno de mídia] beire os cinco milhões e meio de reais. No ano passado foi de quatro milhões”, completa Galvão.

Com essas cifras, o Ironman tem desempenho similar ao da Stock Car, que movimenta pouco mais de R$ 200 milhões nas suas 10 etapas [o evento de triatlo acontece apenas uma vez por ano]. Mesmo assim, o executivo diz que a competição ainda tem espaço para crescer mais.

“Eu acredito que ainda caibam mais patrocínios. A nossa missão, não só como Ironman, mas também como empresa de marketing esportivo, é fazer com que cada vez mais empresas que já investem em alguma mídia comecem a destinar um pedaço deste investimento para mídias não tradicionais, como o Ironman”, completa Galvão.

Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, o executivo, que é um dos participantes do “1º Fórum ESPM de Marketing Esportivo”, explica o motivo da mudança do evento de Porto Seguro para Florianópolis, fala sobre a criação de uma nova categoria do Ironman e critica as empresas que não ativam os patrocínios ligados ao evento:

“De uma forma geral, as empresas não fazem a lição de casa como deveriam”.

Leia a seguir a entrevista na íntegra:

Máquina do Esporte: Por que o Ironman Brasil Telecom é realizado todos os anos em Florianópolis?

Carlos Galvão: Entre 1998 e 2000, o Ironman Brasil Telecom era realizado em Porto Seguro. Mas os organizadores perderam a licença e a Latin Sports assumiu o projeto. A primeira providencia foi migrar o evento de Porto Seguro para outro lugar. Tínhamos três opções (Ribeirão Preto (SP), Rio de Janeiro e Florianópolis) e optamos por Floripa. Além de ser uma capital, é uma cidade relativamente pequena e, no nosso entendimento, tinha uma infra-estrutura, mão-de-obra e todos os aspectos logísticos necessários para o evento. Os números mostram que fizemos a escolha certa.

ME: Caso o evento acontecesse também em outras cidades, não ajudaria a difundir a modalidade?

CG: Eu acho que não. Desde 2006, o evento se consolidou. Se a gente migrasse de cidade em cidade, nunca teríamos o envolvimento da comunidade e as pessoas não iriam entender o evento. Com uma sede fixa, conseguimos corrigir eventuais falhas do ano anterior na edição seguinte. Além disso, em Floripa nós já fazemos o evento no automático. Sabemos como funciona a Polícia Militar, a Polícia Rodoviária, como a Marinha irá colocar os seus recrutas. Então, só com o tempo você consegue ajeitas essas questões e por isso que, no meu entendimento, é impossível migrar o evento.

ME: Qual o impacto financeiro do Ironman Brasil Telecom na cidade?

CG: O Ironman tem um impacto financeiro em Florianópolis que chega a R$ 9,5 milhões. Nesta edição foram 1,3 mil atletas e, historicamente, cada um viaja com mais três ou quatro pessoas e ficam entre seis a oito dias na cidade. A estimativa é que cada um gaste R$ 140 por dia com hospedagem, alimentação, entre outros quesitos. Atualmente, o Ironman é o evento esportivo mais importante de Santa Catarina.

ME: Além do Ironman Brasil Telecom, a Latin Sports também é responsável pelo Ironman Brasil 70.3. Qual a diferença entre os dois eventos?

CG: No ano passado, a World Triathlon Corporation [WTC], dona da marca e organizadora do Ironman, resolveu investir em um novo nicho de mercado. Com isso, lançaram o circuito 70.3, que é a soma da distancia de todas as disciplinas em milhas. É uma prova menos difícil, pois é a metade da distância tradicional. Mas para não denegrir o nome, eles criaram esse nome, o que foi uma grande jogada de marketing. No meio entre atletas, todos já falam “70.3” para se referir a este evento. Aqui no Brasil, nós fizemos em Brasília e vamos continuar lá com esta competição.

ME: Mundialmente, quanto se movimenta com merchandising e outras ações do gênero relacionadas ao Ironman?

CG: No mundo, esse número chega a US$ 350 milhões (R$ 700 milhões) em produtos licenciados. Isso vai desde um carro da Ford, que lança o Explorer Ironman, até a Timex, que lança o modelo Ironman, a Unilever, a Cannondale, entre outras. São produtos que vão desde desodorante a óculos, passando por roupa de borracha, balança eletrônica, entre outros.

ME: Qual a arrecadação e quanto é gasto na realização do Ironman no Brasil?

CG: Entre patrocínios e inscrições, que são as duas fontes de receita de qualquer evento do nosso segmento, conseguimos levantar R$ 2,5 milhões por ano. No total, o custo para a realização do Ironman é de R$ 1,5 milhão por edição.

ME: Atualmente, a Brasil Telecom, a Volkswagen e a Track&Field são as principais patrocinadoras do Ironman. O evento comporta outras grandes empresas ou isso poderia atrapalhar a relação com os atuais parceiros?

CG: Eu acredito que ainda caibam mais patrocínios. A nossa missão, não só como Ironman, mas também como empresa de marketing esportivo, é fazer com que cada vez mais empresas que já investem em alguma mídia comecem a destinar um pedaço deste investimento para mídias não tradicionais, como o Ironman. As empresas sabem que funciona, que podem capitalizar em cima do evento. Elas têm como levar o mote para dentro da empresa, pois o Ironman remete a perseverança, motivação, raça, entre outros. Eu acho que o funcionário não precisa ser um Ironman, mas se tiver o espírito, com certeza ele vai ter um desempenho melhor.

ME: Você falou sobre os benefícios do Ironman no endomarketing. Mas porque as empresas que investem no evento não fazem ações para ativar esta cota?

CG: De uma forma geral, as empresas não fazem a lição de casa como deveriam. As empresas querem uma exposição na arena, mas a gente sabe que não é suficiente. Se forem gastos R$ 100 mil com uma cota, deveriam gastar R$ 250 mil ativando em outras mídias para dar suporte a este investimento, por exemplo. Lamentavelmente, salvo algumas raras exceções, a empresa dá o dinheiro do patrocínio e não faz mais nada. Depois eles esperam que o retorno venha da gente. As empresas têm que entender que o retorno não depende só de nós.

ME: O Ironman não tem nenhum parceiro de mídia. Como é feita a divulgação do evento?

CG: A gente tem uma mídia espontânea muito boa. Tivemos matérias na ESPN e Sportv, além de mídia impressa. O nosso mote desperta atenção, o nome do evento é forte e a competição já está consolidada, apesar de não termos nenhum parceiro.

ME: E sem um parceiro, qual é o retorno de mídia que as empresas têm?

CG: A estimativa é que esse ano beire os R$ 5,5 milhões. No ano passado foi de R$ 4 milhões.

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