Apesar de ser um dos principais clubes do país, com inúmeras conquistas dentro de campo e uma numerosa torcida, o Palmeiras não conseguia transformar isso em receita. A discrepância em relação ao trabalho feito por outros adversários fez com que o presidente do clube, Affonso Della Monica, classificasse o departamento de marketing palmeirense como “meio amador”.
Porém, após a reeleição de Della Monica, no início deste ano, esse cenário começa a mudar. A começar pela indicação de dois profissionais conceituados no mercado, que passarão a dirigir os trabalhos de marketing. Rogério Dezembro e Carlos Mira terão como grande desafio reestruturar e dinamizar essa área, mudando a imagem do clube.
“A prioridade é estruturar o departamento de marketing. O tempo todo o Palmeiras tem demanda por patrocínio, licenciamento, relacionamento com imprensa… No passado não tinha uma orientação estratégica para isso e o objetivo, que é passar a imagem para a sociedade de um clube contemporâneo e antenado, era perdido”, afirmou Carlos Mira, diretor de marketing do Palmeiras.
Dentro dessa filosofia, a intenção é tornar os departamentos mais unidos, aumentando a comunicação entre os profissionais e qualificando os trabalhos realizados.
“Precisamos interligar as ações. Existem ótimas iniciativas, mas estão isoladas. Eu não posso ter um produto futebol e um produto clube. Essas não são coisas dissociáveis”, diz o diretor de marketing do Palmeiras.
Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Carlos Mira conta sobre o papel de Luiz Gonzaga Belluzzo e José Carlos Brunoro no novo planejamento de marketing, diz que o clube seguirá com os trabalhos no G4 e explica porque prefere trabalhar com palmeirenses.
Leia a seguir a entrevista na íntegra:
Máquina do Esporte: Qual era a situação do departamento de marketing do Palmeiras antes de o sr. assumi-lo?
Carlos Mira: O departamento que existe desde a fundação do clube é o de comunicação, que era responsável pela comunicação interna e externa. Na década de 70, quando surgiu o termo propaganda, o estatuto do clube foi atualizado e foi criado o departamento de comunicação a propaganda. Já na década de 80, para atualizar do estatuto, surgiu o departamento de marketing. Era uma nova terminologia e uma nova tarefa a ser feita. Naquele momento errou-se, pois o departamento de marketing foi criado paralelamente, sem levar em conta o departamento de comunicação e propaganda. Sabemos que no marketing, duas de suas ferramentas são justamente comunicação e propaganda.
ME: Essa confusão prejudicou os trabalhos no clube?
CM: Quando foi criado o departamento de marketing, poucas pessoas tinham conhecimento técnico do assunto no clube para assumir a responsabilidade. Sendo assim, esse cargo Foi dado para a pessoa com o perfil mais próximo do desejado. O Palmeiras não tinha um técnico que enxergava o marketing como estratégico e passamos um bom tempo com o departamento sendo administrado em função de licenciamento de produtos. Essa é uma função, mas não tudo.
ME: E o que será feito para dinamizar o trabalho do departamento de marketing?
CM: Com a nova gestão, o grupo de administradores que está fazendo a gestão, que tem nomes como [Luiz Gonzaga] Belluzzo, [José] Cyrillo Jr., está colocando à frente do departamento de marketing, pela primeira vez, pessoas com habilidade, vocação e conhecimento técnico. Além de mim, convidaram também o Rogério Dezembro, diretor da Talent, agência que dispensa apresentação. Isso ajuda muito, porque as pessoas que se aproximam vão ter bons interlocutores no clube, pois sabemos falar o mesmo canal, com a mesma linguagem.
ME: Qual é a grande prioridade para este ano?
CM: A prioridade é estruturar o departamento de marketing. O tempo todo o Palmeiras tem demanda por patrocínio, licenciamento, relacionamento com imprensa… No passado não tinha uma orientação estratégica para isso e o objetivo, que é passar a imagem para a sociedade de um clube contemporâneo e antenado, era perdido.
ME: Como será feito o trabalho para que o Palmeiras tenha essa imagem?
CM: Precisamos ter um marketing integrado. Eu digo que o trabalho deve começar desde a telefonista, com a implantação de um call center, com informações para sócios, torcedores e imprensa, passando até por um grande projeto de rádio e televisão do Palmeiras, que pode ser na TV aberta, fechada ou na internet. Precisamos interligar as ações. Existem ótimas iniciativas, mas estão isoladas. Eu não posso ter um produto futebol e um produto clube. Essas não são coisas dissociáveis.
ME: Dentro da nova filosofia do marketing do Palmeiras, os trabalhos no G4 estão incluídos?
CM: Todas as entidades que possam potencializar as reivindicações do Palmeiras nós temos interesse. Entidades como o G4, o Clube dos 13, o movimento “Muda Palmeiras”… Vamos participar de todos.
ME: O fato de o departamento de marketing ter dois diretores pode gerar algum tipo de confusão nos trabalhos?
CM: O Palmeiras sempre teve dois diretores em seus departamentos, até porque o trabalho é voluntário. Para não tomar tanto tempo dos diretores, foi criado esse conceito. Nesse ponto, Rogério Dezembro e eu temos feito reuniões periódicas para definir as tarefas e responsabilidades de cada um. Eu devo continuar como coordenador do projeto Onda Verde, cuidar da parte de licenciamentos e ter o relacionamento com a imprensa. O Rogério cuidará dos patrocínios para o futebol, para os esportes amadores e para eventos pontuais.
ME: Neste ano foi criado o departamento de planejamento e novos negócios, que será comandado por Luiz Gonzaga Belluzzo. A presença deste profissional irá ajudar nos trabalhos de marketing?
CM: Ações de planejamento em geral são sempre bem vindas, e o Belluzzo é uma pessoa bem relacionada e tem feito uma série de sugestões de novos projetos. Vamos buscar implantá-los a medida do possível. Além disso, ele é uma pessoa notável e um pensador que não podemos abrir mão, independentemente de o departamento dele estar atrelado ao marketing ou não.
ME: Outro nome de destaque relacionado com o marketing palmeirense é o de José Carlos Brunoro? Ele terá algum tipo de função no departamento?
CM: Estamos recebendo uma série de propostas de companhias que possam terceirizar algumas coisas para o marketing, como assessorias especiais. Queremos empresas que façam trabalhos de comunicação visual, pessoas que possam trazer patrocínios e ser remuneradas, alguém que cuide da comunicação integrada, desde o site até o programa de relacionamento, entre outros. Nós já fizemos contato e o Brunoro pode ser um desses consultores nossos. Temos proposta, mas ainda não fechamos nada, pois além dele, existem muitas outras.
ME: Qual a diferença entre o trabalho realizado na empresa do sr. e no Palmeiras?
CM: Eu tenho uma empresa de transportes, a Mira Transportes, que é considerada uma das maiores do país. Mas eu tenho larga experiência em logística, que é uma das ferramentas do marketing. As empresas atuam no mercado por meio da logística e esse assunto eu conheço muito bem. Sempre apliquei para meus clientes e, no Palmeiras, e terei apenas novas nomenclaturas, mas o conhecimento é o mesmo.
ME: Para trabalhar no Palmeiras, na opinião do sr., é preciso ser palmeirense?
CM: Essa é uma opinião do Carlos Mira palmeirense. Eu prefiro palmeirense para trabalhar, pois só ele entende o alcance da paixão. Isso não deveria se misturar, pois temos que ser técnicos. Mas ninguém larga a empresa se não foi apaixonado. Temos que ser apaixonados.