Christian Ambros

A crescente onda de fusões e aquisições chegou às escolas de idiomas. Conforme empresas ganham musculatura com a união de várias marcas, têm de direcionar investimentos para tornar escolas pouco consolidadas em negócios lucrativos. Nesse contexto, enxergam no esporte uma alternativa para ampliar o alcance entre o público.

A Fisk, maior marca no cenário de escolas de idiomas no Brasil, já investe em modalidades esportivas desde os anos 1980, mas tem enfrentado o crescimento da concorrência. O grupo Multi, dono da marca Wizard, investiu em aquisições e já tem sete marcas – Skill, Alps, Quatrum, SOS, Bit Company e People, além da original.

A concorrência ganhou a liderança enquanto conglomerado e avançou para o mercado esportivo, mas, oficialmente, não tem incomodado a Fisk. “O que eles fazem hoje nada mais é do que o que já fizemos nos últimos anos e ainda fazemos”, explica Christian Ambros, diretor da Fundação Richard Hugh Fisk, à Máquina do Esporte.

De acordo com o dirigente, a atuação da Fisk no esporte já dura 32 anos e, como pioneira, teve ações adaptadas por concorrentes. O único hiato sem exposições em televisão, entre 1998 e 2003, aconteceu por mudanças estratégicas internas. Desde então, a escola aposta na exposição por meio de clubes para crescer.

Atualmente, patrocina Grêmio Prudente, em São Paulo; Avaí, em Santa Catarina; e Ceará, no Nordeste. O intuito para a próxima temporada é fechar com mais um clube e, assim, fechar um quadrado estratégico de investimentos. Ainda não há, entretanto, certezas a respeito de quais serão os times mantidos e qual será o novo nome.

O essencial, diz Ambros, é proporcionar aos franqueados de todo o Brasil a possibilidade de ativar patrocínios a clubes locais. Dessa maneira, a companhia espera crescer 15% em número de alunos até o fim do ano e manter esse ritmo nos próximos anos. Com 500 mil alunos em 1.002 escolas, a perspectiva é otimista.

Confira, a seguir, a íntegra da entrevista:


Máquina do Esporte: Por que o investimento no esporte é interessante para escolas de idiomas?

Christian Ambros: Quem começou a fazer esses investimentos foi a Fisk, pioneira, nos anos 1980. A Fisk investe no esporte desde aquela época. Participávamos do futebol de praia, beach soccer, vôlei e diversas outras modalidades. Desde aquela época o mister Fisk entendeu que estar alinhado ao esporte faz bem para as pessoas e para a empresa. Pensando na visão do aluno, por que não aprender outro idioma e associar a marca ao esporte?

ME: Por que a Fisk tem direcionado investimentos para o futebol?

CA: A Fisk não atua somente no futebol. Patrocinamos corridas de rua, como a Maratona de São Paulo e a Meia Maratona do Rio de Janeiro. A Fisk patrocina as principais corridas do Brasil. O futebol, por ser paixão nacional, e as corridas de rua. Buscamos modalidades que fazem bem para a saúde, que trazem qualidade de vida. Apoiamos, gostamos e incentivamos os alunos a praticá-las. O futebol é a paixão nacional e todo brasileiro gosta. Isso dá uma visibilidade de marca muito interessante. Temos uma estratégia muito bacana porque patrocinamos apenas times brasileiros. Há outras empresas que investem fora, mas nós focamos no futebol brasileiro para incentivar o esporte no país.

ME: Nota-se que, no futebol, o principal foco da Fisk é a exposição da marca. Por quê?

CA: Hoje temos três times patrocinados: Avaí, Ceará e Prudente. Entendemos que é uma exposição positiva. As pessoas vão aos estádios com suas famílias, assistem aos jogos, então é uma forma de incentivar o esporte e tornar a marca cada vez mais forte e consolidada.

ME: Aparentemente, a Fisk tem diluído investimentos entre vários clubes de futebol, alguns de menor expressão, como Prudente e Avaí. Por que a empresa adotou essa postura?

Se você pensar em um clube de ponta, de maior proporção, que esteja sempre disputando títulos, os custos são muito maiores e para a empresa não é viável. Então buscamos parceiros com os quais consigamos trabalhar em conjunto. Por a Fisk ter escolas em todos os Estados, quando optamos por um time do Nordeste, conseguimos atingir todos os franqueados do Nordeste e permitir que eles façam ações e incentivem os alunos. Quando, no Sul, patrocinamos o Avaí, as escolas estão lá para trabalhar esse patrocínio. Esses clubes sempre jogam contra outros maiores, também. Sempre jogaram e sempre jogarão com grandes times do Brasil e a exposição da marca acontece. Quando eles jogam contra times maiores, também temos exposição.

ME: Como vocês ativam os patrocínios? Como fazem para mostrar aos alunos que são patrocinadores deste ou daquele time?

CA: Todas as unidades da Fisk têm recebido uniformes dos times para que façam ações com os alunos. Nós mandamos também material de comunicação: banners, faixas, entre outros. Nós fazemos com que as informações cheguem nos alunos também por meio da newsletter bimestral que liberamos. Nela, há todas as informações sobre o que a marca Fisk faz. Todas as corridas que patrocinamos, todos os times que apoiamos, além de temas pedagógicos. O aluno está antenado com o que acontece na rede. Também há uma área para o aluno usar computadores, onde ele pode acessar a internet para fazer lições. As informações estão expostas nesse lugar.

ME: Qual a participação de mercado da Fisk atualmente e quanto vocês pretendem atingir por meio do esporte?

CA: Se falarmos em única marca, a Fisk é a maior do setor. Mas temos uma concorrente com sete marcas, que adquiriu marcas recentemente, então ela tem um grupo maior que o da Fisk. A marca Fisk é líder. Se considerar o grupo, somos a segunda maior rede. Hoje, representamos 500 mil alunos por ano, em um montante de 1.002 escolas. Pretendemos manter e sustentar um crescimento de 15% até o fim do ano em número de alunos. Esse número, 500 mil, é referente a janeiro. Eu diria que vamos superar a meta, mas ainda não temos números. Devemos conseguir esse crescimento com certeza.

ME: O que motivou a Fisk a se afastar do esporte por algum tempo?


CA: A Fisk nunca ficou fora do esporte. Tivemos um período intenso nos anos 1980, depois nos anos 1990, e em 1998 recuamos um pouco e mudamos de estratégia, por questões internas. Mas ficamos afastados somente da exposição em televisão e retornamos em 2003. Durante esse período, não ficamos fora do esporte. Temos vários casos. Posso citar um exemplo interessante de uma aluna que morava no Tatuapé, em São Paulo, era paraplégica e nadava. Ela fazia natação e nós patrocinávamos essa menina. Hoje, ela vai para as Paraolimpíadas. Então há vários projetos internos que são feitos. Além de esportivo, é social. Nesse período que saímos, por todo o Brasil, tivemos outras ações. Tivemos um judoca no Paraná, da cidade de Maringá, que ganhou medalha olímpica. Temos vários investimentos e isso nunca foi interrompido. A exposição só foi interrompida em televisão.

ME: Qual a influência do período de grandes eventos esportivos no Brasil para a decisão da Fisk de investir no esporte?

CA: Na verdade, durante esse período de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, pouquíssimas marcas terão capacidade financeira de fazer investimentos. O que reforça é a exposição da marca e o aumento de demanda. Todo mundo que quer trabalhar na Copa ou nos Jogos precisa de inglês e espanhol, e isso tem gerado demanda para a nossa empresa. Essas pessoas tendem a procurar a marca. Mas ainda não tenho números para mostrar o quão grande tem sido essa procura.

ME: Como a Fisk interpreta investimentos de outras escolas de idiomas no esporte, como Wizard e CNA? A forte concorrência muda de alguma maneira o planejamento da Fisk?

CA: Não, porque a Fisk, por ter mais de 50 anos de mercado, sempre foi pioneira. O que eles fazem hoje nada mais é do que o que já fizemos nos últimos anos e ainda fazemos. É natural. A concorrência está aí. Eles observam o que dá certo ou não e fazem também. O que CNA e Wizard fazem, como placa em estádio, nós já fizemos por 15 anos. Eles estão no segundo ano, se não me engano. A Wizard faz algumas corridas, patrocina times de segunda divisão, tudo o que já fizemos e continuamos fazendo. A diferença é que cada um direciona para um lado. A concorrência é saudável. E é algo que nos alegra, porque, se todos copiam, é porque fizemos certinho. Não temos nenhum problema em relação à concorrência.

ME: A aposta de escolas de idiomas no esporte tende a ser perene ou é algo passageiro?

CA: Falo pela Fisk. Estamos há 52 anos no mercado e estamos desde os anos 1980 no esporte. De 52 anos de existência, há 32 investimos em esporte, então posso dizer que é algo consolidado, perene e vai continuar. Se as outras continuarão, teremos de esperar para ver. Já vi muitas coisas da concorrência nascerem e morrerem pouco tempo depois. O foco da Fisk é em investimentos perenes e de longuíssimo prazo.

ME: Para 2011, quais Estados deverão receber mais investimentos? Quais são as metas a serem cumpridas?

CA: Temos mais um clube que está com negociações bem alinhadas. A ideia é que tenhamos um clube em cada canto do Brasil, para fechar um quadrado, que é uma estratégia que pretendemos adotar para criar oportunidades para escolas de todo o país.

ME: Então, se vocês patrocinam Avaí, Prudente e Ceará, pode-se esperar por um time de que região? Noroeste?

CA: Depende das renovações. Não sei se todos serão renovados. Podemos, de repente, manter um clube e trocar três, trocar os quatro, manter dois e trocar dois, tudo depende das renovações. O Prudente já está no segundo ano e pode continuar, mas a renovação começa a partir do mês que vem. A nossa estratégia é ter quatro equipes em pontos diferentes. Nas corridas, também teremos renovações a caminho, mas as coisas acontecem no tempo certo.

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