Duda Kroeff

A política do Grêmio, que não passava por forte turbulência desde 2004, quando o clube caiu para a Segunda Divisão, sofreu um baque nas últimas semanas. Marcado por uma disputa ?fratricida?, o processo que determinou o substituto de Paulo Odone fez Duda Kroeff, apoiado pela diretoria de futebol, emergir como novo mandatário do clube para o próximo biênio, com a missão de consolidar a restauração de imagem iniciada pela última gestão.

Por telefone, o futuro comandante do Grêmio conversou com a Máquina do Esporte e apresentou um pouco do seu projeto para 2009 e 2010. Satisfeito com várias iniciativas dos seus predecessores, Kroeff fala em poucas mudanças radicais, e apresenta um discurso marcado por elogios e promessas de melhoras, que devem passar, prioritariamente, pela Arena Grêmio, que pode ser tocada por Odone.

?Essa é uma opinião pessoal [de que o atual presidente é nome certo para o trabalho]. Eu acho isso, mas o Conselho é que vai definir. Eu vejo com bons olhos o que já foi feito, e entendo que este é o grande projeto do futuro do Grêmio?, disse Kroeff.

A nova praça esportiva pode se transformar no grande motor do reposicionamento do clube, que conseguiu recuperar a auto-estima da torcida e o respeito do mercado nos anos seguintes à queda para a Série B. Essa retomada, porém, ainda passa pelo equilíbrio financeiro e uma renovação nas fontes de receita.

?A dívida ainda empaca o Grêmio em algumas coisas. Mas eu confio na minha equipe, que tem vários especialistas, e acho que eles vão me ajudar a encontrar soluções para esse problema?, disse o dirigente.

Leia a íntegra da entrevista:

Máquina do Esporte: No começo da semana, você disse que Odone era seu nome favorito para a Grêmio Empreendimentos, que vai cuidar do novo estádio. E o próprio Odone nos confirmou que aceitaria esse cargo. Qual vai ser o desfecho dessa situação?

Duda Kroeff: Essa é uma opinião pessoal, mas é o Conselho Deliberativo do clube que vai definir. Minha opinião é de que o Paulo Odone é o mais indicado para o cargo.

ME: E como o senhor vê o que foi feito até agora nesse projeto?

DK: Eu vejo com muito bons olhos, pois ele está sendo muito bem tocado. É o grande projeto do futuro do Grêmio. Eu estou apoiando totalmente, e quero que tenha sempre muita transparência. Isso é importante. A única alteração que eu faria é na capacidade do estádio. Eu ouvi muitos pedidos de pessoas nas ruas para que aumentasse. Hoje está previsto 53 mil lugares, mas se fosse possível fechar em 60 mil seria o ideal, porque aí seria maior que o do rival [o Beira-Rio, do Internacional, tem 56 mil lugares]. É um estudo que vale a pena ser feito, e estou inclinado a fazê-lo.

ME: E qual é a sua avaliação do marketing nessas últimas gestões? No ano que vem, o Inter prepara uma grande ação para o projeto de sócio-torcedores. O que o Grêmio pode fazer para vencer essa disputa?

DK: Eu tenho dito aqui que o trabalho que foi feito pela gestão anterior é muito bom. Para o ano que vem nós estamos atentos a tudo, até para o que o Inter vai fazer. Mesmo sendo o ano do centenário deles, não tem porque o Grêmio ter menos sócios. Todas as pesquisas falam que a nossa torcida é um pouco maior que a deles. Eu não tenho problema em imitar tudo aquilo que eles fizerem de bom.

ME: No geral, o que pode ser melhorado no marketing?

DK: Nós temos alguns planos para incrementar esse setor. Acho que o trabalho está sendo muito bem feito pelo César Pacheco [atual vice-presidente de marketing]. Tenho a impressão de que a marca Grêmio é forte, e ela vem sendo mal aproveitada. Tenho uma idéia de profissionalizar ainda mais o marketing. É um plano que ainda não pode ser revelado em detalhes.

ME: Tem a ver com a contratação de alguma empresa de consultoria?

DK: Acho que é algo nesse sentido sim.

ME: Quanto à gestão do futebol, o Grêmio se ressente, como todos os outros clubes brasileiros, de que não consegue segurar suas promessas no Brasil por muito tempo. Tem um jeito de mudar essa história? A culpa é só da Lei Pelé ou uma mudança estrutural também facilitaria nesse processo?

DK: Eu não acho que a Lei Pelé seja o problema. É só fazer um contrato longo com o jogador que não muda nada. A culpa está na gestão meio amadora que a maioria dos clubes brasileiros tem. É também o poderio econômico do primeiro mundo, que não podemos negar. Só que, apesar da crise, que nem afetou tanto o Brasil, estamos caminhando para um patamar mais elevado, e aí a coisa vai depender de uma gestão mais profissional. Acho que o caminho é por aí mesmo. A chave é ter um equilíbrio financeiro. Se o Grêmio chegar lá, dá para segurar os jogadores por mais tempo. É difícil segurar indefinidamente, mas o que não pode é ir assim como o Alexandre Pato [ex-jogador do Inter, que jogou apenas quatro jogos como profissional pelo clube] foi, tão rápido.

ME: E quanto o Grêmio está longe dessa estabilidade?

DK: Olha, está um pouco longe, viu. A dívida empaca o Grêmio. Mas eu tenho uma equipe preparada que pode cuidar bem disso. Eu sou um empresário rural. Entendo de esportes, mas de finanças, nem tanto. Eu conto com a minha equipe para diminuir a dívida de alguma forma. Temos de enxugar as despesas. Toda vez que vender um jogador não temos de gastar em coisas pontuais, como novas contratações. Temos de diminuir a dívida. Hoje já existe o condomínio de credores aqui no Grêmio. Vários credores aderiram, e toda vez que um jogador é vendido um valor vai para lá. Eles parcelam o crédito deles em um tempo maior.

ME: Falando em novas fontes de renda, o senhor assume o clube num período político complicado, quando o Clube dos 13 já negociou os valores dos próximos três Campeonatos Brasileiros. Como o Grêmio pode atuar na entidade para que consiga melhorar sua situação?

DK: Eu te diria que, em primeiro lugar, a minha confiança particular no Fábio Koff [ex-presidente do Grêmio e atual mandatário do C13, que apoiou Kroeff no pleito gaúcho] é total e absoluta. Tudo que é possível fazer pelo Grêmio e pelos outros clubes sei que ele está fazendo. Eu confio nessa incrementação do marketing do Grêmio. Acho que isso vai nos ajudar nesse sentido. E dentro do C13 penso que ?a união faz a força? é uma máxima verdadeira.

ME: Só que esse não é o panorama atual, com clubes se unindo em organização paralela. Tem como mudar isso?

DK: Essa é uma negociação difícil, mas eu tenho a plena conviccção de que o Fábio Koff está fazendo o possível. Sei que isto estaria muito pior sem ele, mas acho que ainda não está como deveria ser. Eu até aceito que os clubes de maior torcida ganhem um pouco a mais, mas a coisa tem de ser equilibrada.

ME: Esse é um problema que também afeta o Grêmio e outros clubes fora do eixo Rio-São Paulo no que diz respeito a patrocínios. Apesar dos resultados expressivos nos últimos anos, o Grêmio ainda não tem um contrato próximo dos maiores do país [atualmente recebe cerca de R$ 3 mi do Banrisul]. Como mudar esse panorama?

DK: Olha, o Grêmio não está entre as quatro maiores torcidas do país mas está bem próximo, na sexta colocação. E acho que você tem de olhar para a questão da regionalização. O Grêmio tem uma força impressionante aqui no Sul. Para todo mundo que tem interesse de vir para cá, o Grêmio é uma vitrine sensacional. Temos de nos valer disso para fazer as empresas compreenderem que não adianta só os quatro maiores fazendo quadrangulares. Eles precisam de clubes como nós. E acho que o fato de o Grêmio ser conhecido por ser sério, sem confusões administrativas, vai chamar a atenção do mercado.

ME: O processo que a gestão Paulo Odone começou, em 2004, de revitalização da marca Grêmio, pode ser consolidado agora?

DK: Sem dúvidas. Minha esperança é essa. Só gosto de corrigir uma injustiça. O Flávio Obino [presidente no biênio 2003/04] foi muito ruim para o futebol, mas para o financeiro, não. Ele pegou um Grêmio praticamente quebrado. Todos têm culpa no processo. Eu digo que a melhor coisa da gestão Odone foi a recuperação da auto-estima do torcedor. Todo aquele processo na Série B, e a forma como subiu. É lógico que aí tem um pouco de sorte e magia, mas aquilo realmente impulsionou a gente.

ME: O senhor disse que leu a matéria da Revista Máquina do Esporte sobre o Campeonato Inglês na edição número 6. Aquela revolução dos clubes vai ser um modelo para o Grêmio, que terá uma nova arena nos próximos anos?

DK: Quando eu li a reportagem na revista de vocês fiquei muito animado. Na época, eu estava me tornando candidato, mas ainda tinha dúvidas se era aquilo que eu queria, e aquela reportagem me animou muito. Mostrou o quanto pode nos levar longe o sonho dessa nova arena, que ela pode criar uma gestão mais moderna. Você vê o Newcastle, que é um clube de cidade pequena e que não ganha título há anos, faturando tudo aquilo [129,4 milhões de euros ao ano segundo levantamento da Deloitte]. É quatro vezes o que o Grêmio fatura!

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