Eduardo Stefano

O Campeonato Paulista é, tradicionalmente, um dos mais experimentais do país. No passado, o torneio serviu de laboratório para ações que não vingaram, como uma em que instituía o “tempo técnico”, e outras que prosperaram, como o spray usado pelos árbitros. Neste ano, a grande novidade foi a implantação de um sistema de comunicação via rádio, e a responsável por essa iniciativa foi a Motorola.

Apesar de a imagem dos juizes de futebol estar manchada após o escândalo envolvendo o paulista Edílson Pereira de Carvalho, a empresa firmou o primeiro patrocínio do país visando os árbitros.

“Fomos ousados e corajosos. A nossa ação tem um pouco de ousadia e irreverência”, afirma Eduardo Stéfano, vice-presidente de Network & Enterprise da Motorola.

Essa ousadia, porém, foi coroada. O sistema foi aprovado pelos árbitros e a empresa já negocia com quatro outras federações para implantar o mesmo sistema. Os próximos estados a contar com o dispositivo podem ser Rio de Janeiro, Santa Catarina e Bahia. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é o próximo alvo.

“Ainda não tivemos contato [com a CBF], mas acredito que seja um caminho natural para acontecer”, explica o executivo.

Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Eduardo Stéfano diz que os erros dos árbitros no início do Campeonato Paulista não prejudicaram a imagem da empresa, que a Motorola pretende ampliar sua atuação no futebol com parcerias com clubes e que está disposto, inclusive, a investir nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, desde que seja contatado.

Leia a seguir a entrevista na íntegra:

Máquina do Esporte: Por que a Motorola resolveu fechar parceria com os árbitros paulistas?

Eduardo Stéfano: Fomos ousados e corajosos. A nossa ação tem um pouco de ousadia e irreverência. A nossa mentalidade é a de sempre acreditar que podemos levar tecnologia aos usuários mais inusitados possíveis. A Federação [Paulista de Futebol] sempre busca inovar e implantar uma dinâmica nova em seus campeonatos. A Grupo de Comunicação e Marketing da Federação já vinha sendo sondada para usar a mesma solução que teve na Copa do Mundo. Eu percebi a oportunidade que teríamos e o que fiz foi viabilizar de uma forma profissional o produto da Motorola.

ME: Como está sendo a aceitação por parte dos árbitros e assistentes?

ES: Tem sido um grande sucesso. Tenho acompanhado semanalmente, por meio de pesquisas, a opinião dos árbitros e assistentes. Eu faço perguntas simples como “Qual a praticidade do equipamento?”, por exemplo. De 170 respostas, 167 responderam excelente ou ótimo. Quando alguém fala regular ou ruim, nós vamos checar o que aconteceu. Normalmente faltou uma fita adesiva ou o aparelho não foi bem instalado. Mas procuramos sempre resolver isso.

ME: Os árbitros aprovaram o aparelho, mas a utilização dos rádios comunicadores tem auxiliado em lances duvidosos?

ES: Uma das perguntas da nossa pesquisa pergunta se os rádios comunicadores ajudaram no desempenho no jogo. De 150 respostas, 148 afirmaram que sim. Isso já validou o rádio comunicador como uma ferramenta adicional para a arbitragem, assim como o vibrador para os auxiliares. Eles já se acostumaram a usá-lo. Com treinamento, eu acredito que isso também irá acontecer com os rádios. A execução desse projeto é a chave do sucesso.

ME: O retorno institucional com essa parceria já pôde ser sentido?

ES: Ainda não. Projetamos no final do primeiro trimestre deste ano, quando estiver terminando o Campeonato Paulista, conseguiremos medir o reflexo comercial dessa parceria. Apesar de o nosso grande objetivo não ser esse, o retorno vai acontecer naturalmente. A estratégia é mostrar ao mercado, aos meus parceiros de negócios, como revendedores, que podemos levar a aplicação para lugares que ainda não foram explorados. Eu estou capitalizando em cima disso.

ME: Os erros dos árbitros neste início de campeonato, como o caso em que um árbitro esqueceu da bola ao começar um jogo, prejudica de alguma maneira a imagem da empresa?

ES: De maneira nenhuma. O árbitro é sempre um personagem polêmico. Naquele jogo do São Paulo [contra o Paulista, no dia 24 de janeiro], o árbitro havia avisado o assistente pelo rádio que iria ter mais um minuto. O assistente, porém, não levantou a placa. Depois da confusão [o Paulista teria empatado o jogo após o árbitro indicar o fim do jogo] o Muricy foi reclamar que o rádio não funciona. Mas isso nem teve repercussão. Nós estamos tendo um grande apoio para essa iniciativa, inclusive da imprensa.

ME: Com esse sucesso entre os árbitros, a Motorola pensa em buscar parcerias deste tipo com outras federações?

ES: As coisas estão acontecendo mais rápido do que esperávamos. Já iniciamos conversa com quatro federações regionais, como catarinense, baiana e carioca. Eles querem que nós façamos a mesma coisa que fizemos em São Paulo. Estamos negociando, mas o importante é executar bem o plano e não abrir mão da qualidade. Assim nós iremos medir no médio prazo e ver que agregamos valor.

ME: E uma parceria com a CBF?

ES: Ainda não tivemos contato, mas acredito que seja um caminho natural para acontecer. Esperamos que nós consigamos mostrar no Paulista que o produto contribui para que as partidas tenham um bom nível. Após isso, seria um privilégio receber um contato da CBF. Mas estou pedindo para a minha equipe que encante os nossos atuais clientes, que no caso são Federação Paulista, Comissão de Arbitragem e os próprios árbitros.

ME: Com essa nova investida no futebol, a Motorola pensa também em negociar algum acordo com os clubes?

ES: Eu gostaria sim. Estamos abertos para conversar e tentar compor com os principais clubes do país. Nosso objetivo é negociar com aqueles que queiram aprimorar a comunicação. Apesar disso ainda não tivemos nenhum contato, apesar de algumas especulações.

ME: Além de investir no futebol, a Motorola planeja alguma ação em outra esporte, principalmente focada nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro?

ES: Nós não teremos nenhuma ligação com o Pan. Ninguém além do futebol nos contatou. Mas estamos abertos. Tudo que for possível levar como solução de mobilidade, sem fio e sem barreiras, a gente vai procurar levar.

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