Elizabeth Guedes

Um mercado competitivo exige estratégias diversas para a obtenção do sucesso. Na disputa com inúmeras universidades de todos os perfis que se espalham pelas cidades brasileiras, algumas exceções tem se aproveitado do crescimento da indústria esportiva para captarem novos alunos e uma imagem diferenciada.

Um desses casos é a Anhembi Morumbi, que lançou, na última semana, sua nova unidade na av. Paulista, em São Paulo. O espaço, que oferecerá especializações não-convencionais, foi inaugurado com a apresentação do MBA que será ministrado em parceria com a Escola de Estudos Universitários do Real Madrid.

Mais do que um simples curso, a universidade espera atestar uma imagem inovadora e antenada que vem construindo nos últimos tempos. Por isso, não impõe limites para os tipos de novidades que pode apresentar em um futuro próximo.

?Nós já estamos pensando em trabalhar com diversos cursos de saúde aplicada ao esporte, além de coisas menores de direito e patrocínio. Além disso, temos um Conselho formado por pessoas influentes, que irá nos dizer quais investimentos podem ser feitos nesse sentido?, disse Elizabeth Guedes, em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte.

Essa preocupação com o extra-campo no futebol reflete a importância que o mercado vê na capacitação dos profissionais da área. Em tempos de preparação para a organização de uma Copa do Mundo, uma mudança na mentalidade dos dirigentes faz-se cada vez mais necessária.

?Hoje em dia o Brasil ainda não trata o futebol como uma atividade econômica. E isso tem de mudar antes do Mundial, porque não podemos receber todo mundo aqui com essas imagens de vandalismo, violência e roubalheira?, avaliou.

Leia a íntegra da entrevista a seguir:

Máquina do Esporte: Qual a importância dessa parceria com o Real Madrid para vocês?

Elizabeth Guedes: Eu acho muito importante, porque é a primeira internacional dessa unidade da av. Paulista, que vai funcionar quase que como uma entidade autônoma. Ela vai nos dar a oportunidade de abrirmos novas carreiras, como a de DJ, de quiroprata. Agora, por exemplo, estamos investindo no entretenimento. A gente não pode ensinar futebol, mas pode falar de legislação, por exemplo. Hoje, poucos clubes acompanham a evolução do meio. Nós somos o país do futebol e não evoluímos, então a ideia é adaptar a medicina, a saúde e o direito ao esporte. E nós ainda vamos buscar outros parceiros.

ME: Mas você não acha que mesmo no Brasil está havendo uma profissionalização?

EG: Eu acho que sim. Hoje você vê o que são os europeus, e percebe o quanto você pode melhorar. No Brasil, você percebe que alguma coisa mudou quando um time tem um dono, como é o caso do Brasiliense [comandado pelo ex-senador Luiz Estevão]. Ele deixou de ser uma agremiação e está pensando mais como empresa. Agora, o Brasil ainda está atrasado. O mundo já trouxe grandes profissionais de todas as áreas, já entendeu que tem de gerir de uma forma empresarial. Nós queremos trabalhar o esporte como uma forma de espetáculo e como business.

ME: E esse tipo de parceria também pode fazer bem para o marketing da própria Anhembi Morumbi, certo?

EG: Eu não dúvidas, e acho que essa guinada começou com a parceria com o Instituto Laureate. Eles tem uma parceria com o Real Madrid, então eu não pago nada pelo curso e até mesmo pela vinda do Jorge Valdano ao Brasil. Com isso, você determina uma mudança importante de momento. E esse campus ainda vai ter uma ligação com outras entidades.

ME: Que cursos vocês vão oferecer imediatamente?

EG: Olha, nós estamos pensando em trabalhar com nutrição esportiva, medicina, fisiologia e psicologia, tudo na área de saúde. Aí ainda teremos cursos menores de direito e patrocínio. Eu acho que temos de ter professores de todos os tipos aqui.

ME: E mais adiante, que outras novidades a Anhembi Morumbi pode apresentar?

EG: Nós montamos um Conselho muito influente, que inclui, entre outras pessoas, gente como José Trajano e Juca Kfouri [jornalistas da ESPN Brasil]. A nossa ideia é que eles digam o que pode ser feito. Se precisar, por exemplo, faremos um curso para árbitros, vamos montar parcerias com escolas para ampliarmos a prática esportiva. Vamos buscar lugares com o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] baixo para realizarmos esse projeto, que consiste em levar as crianças para o clube Espéria para que elas possam brincar. Mais até do que jogar bola, e pensar em ser profissional, a criança vai lá para poder brincar e se divertir.

ME: Voltando ao futebol, você acha que a proximidade da Copa do Mundo vai estabelecer uma data limite para profissionalização da gestão?

EG: Acho que sim, mas vai ter de ser bem antes da Copa, porque não vai ter como a gente receber todo mundo com cenas de violência, vandalismo e roubalheira. O futebol vai ter de virar uma atividade econômica. Como a beleza natural é um cartão de entrada brasileiro no exterior, o futebol tem de ser. Ele tem de ter uma forma de captação ativa, com head hunters. Porque do jeito que está hoje, o maior mercado serve para vender, e não para gerar emprego. Agora, nós somos um povo criativo e saberemos mudar.

ME: Mas existe uma teoria de que a parte técnica do esporte não pode ser aprendida nas escolas, e sim nos campos, com a experiência de vida. Você concorda com isso? É possível aplicar conceitos teóricos, por exemplo, à avaliação de jovens jogadores?

EG: O jogador brilhante não aprende na escola, mas todo o entorno, que ajuda ele chegar lá, passa pela educação. A escola de bairro e a ONG terão de fazer parcerias com universidades. E tem mais. O engenheiro tem de ter um raciocínio lógico, uma certa habilidade, um conjunto de qualidades que sabemos definir. Então eu também consigo estabelecer esses parâmetros para o esporte. Hoje tem head hunter de todo o porte. Tem gente querendo atender todo mundo no mercado. E todo mundo ama futebol, mais até que o Carnaval.

ME: Nós falamos muito de futebol até agora. A Anhembi não vai trabalhar com nenhuma outra modalidade?

EG: Vamos. E por isso fizemos esse acordo com o Espéria, porque lá eles vão nos oferecer um pacote de 25 esportes. Com esse acordo, o clube vai buscar uma vantagem competitiva, porque ele vai ter a oportunidade de oferecer um contrato para as crianças que forem para lá. E nós poderemos ampliar os nossos trabalhos, já que o Real Madrid só trabalha com o futebol.

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