Gustavo Resende

Sem dinheiro na mão, mas com forte poder persuasivo, o público infantil já se revelou muito rentável para o mercado de consumo. Cada vez mais as grandes marcas se associam aos jovens para fazer com que seu poder de convencimento dentro de casa gere um aumento nas vendas fora do lar.

Segundo números da agência TTK Tática Marketing Esportivo, mais de 40% das compras dos pais são influenciadas de alguma maneira pelos seus filhos, enquanto 65% ouvem a opinião das crianças sobre os produtos comprados para a família.

Apoiada nesses números e com as grandes perspectivas do mercado, a TTK resolveu desenvolver projetos esportivos voltados exclusivamente para o público estudantil. Hoje, o nicho de mercado da agência mostra-se bem sucedido, com o investimento de empresas como Perdigão, Schin Guaraná, Penalty e Rádio Transamérica em projetos ligados ao público infanto-juvenil.

“O público infantil é de vital importância para as marcas. Além de terem diversos produtos voltados exclusivamente para eles e serem os consumidores do futuro, o envolvimento dos pais nas atividades dos filhos nesta fase é muito grande. Portanto, uma marca que aposta neste público, acaba ganhando em dobro, pois atinge tanto os pais quanto os filhos”, afirma Gustavo Resende, sócio-diretor da TTK.

Mas para fidelizar um público exigente e atrair novos investidores, a empresa teve que buscar novas soluções para seus eventos. Dessa forma surgiu a idéia de uma clínica sobre skate, que conseguiu inclusive mudar a cultura de alguns colégios.

“O futebol é básico e todo mundo faz. Então nós pensamos em algo diferente e surgiu a idéia do skate que, teoricamente, tem uma imagem marginalizada. Fizemos em algumas escolas e elas não gostaram, alegando que era algo contraditório, pois elas não permitiam que os alunos andassem de skate na escola. Mesmo assim, muitas gostaram da idéia e inclusive algumas passaram a dar aulas para os alunos”, explica Resende.

Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, o executivo conta sobre as diferenças em realizar eventos focados nos estudantes de escolas públicas e particulares, qual o investimento necessário para realização de um projeto para esse público e os motivos pelos quais as empresas preferem investir em eventos esportivos em vez de projetos culturais ligados às crianças e jovens.

Leia a seguir a entrevista na íntegra:

Máquina do Esporte: Como surgiu a idéia de explorar o mercado infantil e juvenil?

Gustavo Resende: Foi uma oportunidade que a gente enxergou no início da empresa. Desde que éramos jovens, eu e meu sócio participávamos de vários torneios infantis, então nós vimos como um filão legal trabalhar com o público infantil e tornar o processo mais profissional. Normalmente, as competições são muito amadoras, organizadas pelos próprios professores, o que acaba sendo um desperdício, já que é um público muito qualificado e que não estava sendo explorado. Pegamos a Futcup no início, com oito escolas, como Santa Cruz, Santo Américo [escolas freqüentadas pela classe A em São Paulo], e todas com alto poder aquisitivo e transformamos em um produto rentável. Além de desenvolver um projeto de comunicação.

ME: Qual é a resposta do mercado com esses produtos criados que envolvem os alunos das escolas?

GR: No início era muito difícil de vender, pois não envolvia mídia e, consequentemente, atingia pouca gente. Mas hoje os projetos já envolvem mais de 70 mil alunos, então fica muito mais fácil oferecer para quem quer atingir esse público.

ME: Por que os trabalhos são feitos apenas em escolas particulares? É porque reúne crianças e jovens com um poder aquisitivo maior?

GR: Hoje trabalhamos apenas com escolas particulares, pois o apelo comercial é muito maior, até pelo poder de consumo deste público. No entanto, sempre focamos nas necessidades dos nossos clientes. Adaptamos e modelamos os projetos de acordo com o que eles querem. Inclusive já estamos planejando um projeto que envolve tanto escolas particulares quanto públicas.

ME: Mas ao envolver estudantes do ensino público e particular, o produto não fica mais difícil de ser vendido, pois são públicos distintos?

GR: As empresas investidoras também querem apoiar o desenvolvimento do esporte, mas elas precisam ter retorno sobre seus investimentos, e é por isso que o público de escolas particulares, clubes privados se sobressaem em relação às escolas públicas. Mas acredito que possam existir eventos com os dois públicos, tanto pelo lado social, como porque existem marcas que precisam falar com diversos tipos de público. Ou seja, dependendo da necessidade do cliente, não precisamos segmentar tanto.

ME: Qual é o investimento necessário para realizar um evento esportivo para estudantes?

GR: Isso é muito relativo. A Copa Guaraná, por exemplo, que teve como padrinhos o Kaká e o Ronaldinho, possivelmente investiu milhares de reais [NR: o evento custou cerca de R$ 3 milhões]. Eventos um pouco menores giram em torno de R$ 300 mil. Já eventos de um mês você consegue fazer com R$ 50 mil. Depende muito do tipo de projeto que o cliente quer fazer. É aquele mesmo negócio se você for comprar um carro. Você pode gastar pouco ou muito, depende do modelo. Não existe um padrão.

ME: Normalmente, as empresas organizam campeonatos de futebol como estratégia para atrair o público estudantil. Como surgiu a idéia de fazer uma ação baseada no skate?

GR: Essa foi uma idéia muito legal. O futebol é básico e todo mundo faz. Então nós pensamos em algo diferente e surgiu a idéia do skate que, teoricamente, tem uma imagem marginalizada. Fizemos em algumas escolas e elas não gostaram, alegando que era algo contraditório, pois elas não permitiam que os alunos andassem de skate na escola. Mesmo assim, muitas gostaram da idéia e inclusive algumas passaram a dar aulas para os alunos.

ME: Por ser uma idéia nova, foi difícil encontrar alguma empresa para ser parceira do projeto.

GR: Na verdade essa idéia surgiu do interesse de um patrocinador. A SP Surf já tinha o interesse nesse público infantil. Fizemos um evento pequeno em uma escola e eles acabaram patrocinando. Teve um retorno bom para eles, mas o futebol não é o ramo deles. Então vieram com essa idéia, de fazer um campeonato de skate. Um campeonato não dava, porque a molecada não sabia andar. Então optamos por fazer clínicas de skate.

ME: Para um investidor, por que é melhor investir em uma atividade esportiva em vez de uma cultural, por exemplo?

GR: As empresas hoje investem no público infantil por meio do esporte por ser uma maneira muito sutil e saudável de conversar com eles. Por meio de uma ação como essa, as empresas têm a oportunidade de estar presente nos momentos de lazer e entretenimento de toda a família, onde estão mais suscetíveis a estas mensagens. Além disso, o esporte promove emoção, desafios, vitórias e espírito de equipe, que outras ferramentas que envolvam entretenimento não conseguem alcançar.

ME: Qual o retorno que as empresas têm em investir em atividades esportivas ligadas ao público infantil, uma vez que esse universo não gera renda própria?

GR: O público infantil é de vital importância para as marcas. Além de terem diversos produtos voltados exclusivamente para eles e serem os consumidores do futuro, o envolvimento dos pais nas atividades dos filhos nesta fase é muito grande. Portanto uma marca que aposta neste público acaba ganhando em dobro, pois atinge tanto os pais quanto os filhos.

ME: Vocês fazem ações, durante esses eventos para estudantes, focadas nos pais que vão acompanhar seus filhos?

GR: Esse é um outro objetivo de um dos nossos patrocinadores, que é a Perdigão. O público deles é a família. Então nós sempre pegamos a necessidade do cliente para criarmos ações em cima. Nós já criamos projetos especiais nos eventos para o Dia dos Pais e o Dia das Mães. Então, tentamos sempre atingir ao máximo os objetivos dos nossos patrocinadores.

ME: Além de realizar eventos com jovens e crianças, você tem planos de atingir outros nichos?

GR: O nosso foco é mesmo o público infantil, mas estamos desenvolvendo também produtos derivados do que já temos. Organizamos torneios ao longo do ano e agora estamos usando o mesmo público, algo dentro do nosso universo, promovendo as atividades esportivas nas férias, como forma de entretenimento. O outro “braço” da TTK, se é que posso chamar assim, é a utilização do esporte como forma de relacionamento para as empresas. Tanto para clientes importantes como para seu canal e força de vendas, público interno. Organizamos eventos, gestão de camarotes, entre outras ações.

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