Durante o período que antecedeu a disputa da Copa do Mundo de 2010, o brasileiro que comprasse a camisa da sua seleção recebia o objeto dentro de uma garrafa PET. Naquele ano, a marca produziu os uniformes que entraram em campo na África do Sul com uma nova tecnologia, que focava na preservação ambiental.
O tecido dri-fit das camisas era produzido a partir de garrafas PET usadas, material que é reciclado, mas, derivado de petróleo, nocivo ao meio ambiente caso não receba o devido tratamento.
A preocupação com o meio ambiente tem sido nos últimos anos uma das principais bandeiras da Nike. Por trás desse processo, que vem se intensificando nos últimos anos, está a vice-presidente global de sustentabilidade Hannah Jones, que falou com a Máquina do Esporte em entrevista exclusiva cedida em Nova York.
Para Jones, existe uma série de vantagens comerciais na aposta na sustentabilidade. Segundo a executiva, investir em sustentabilidade agrega valor à marca, além de ser economicamente vantajoso. “O velho paradigma é de que sustentabilidade é igual a um menor desempenho e representa um negócio custoso. Eu acho que o que nós estamos dizendo é que nós somos a Nike, e esses paradigmas estão completamente equivocados”, afirmou.
A executiva aponta que a sustentabilidade será a grande questão enfrentada pelas empresas na próxima década. Por isso, a Nike tem investido na área com maior intensidade nos últimos anos. Cita, como exemplo, a parceria com a empresa holandesa Dyecoo, que produz um material de tingimento que não utiliza água. Sobre a sustentabilidade, Jones é efusiva: “Nossa intenção é liderar esse processo”.
Leia a entrevista na íntegra:
Máquina do Esporte: Por que é tão importante para a marca, para a empresa, ter uma área de sustentabilidade tão desenvolvida quanto tem a Nike?
Hannah Jones: Nós temos trabalhado com sustentabilidade há cinquenta anos, mas nos últimos cinco, seis anos, nós realmente nos focamos em novas visões e estratégias sobre o que nós vamos fazer. Nós realmente acreditamos que o mundo terá que mudar; o mundo precisa ser mais sustentável. Eu sempre cito uma verdade dita pelo Pelé: “Eu não vou onde a bola está, eu vou onde a bola estará”. E nós realmente acreditamos que a bola estará na sustentabilidade.
ME: E como a Nike começou esse processo?
HJ: Nós começamos essa jornada olhando para fora e dizendo que nós precisaríamos fazer isso com sucesso. Sustentabilidade é o maior desafio mundial entre as inovações. Então nós precisamos estabelecer que esse será também o nosso maior desafio nas inovações. Nós não podemos nunca comprometer performance pela sustentabilidade. Isso seria errado para a performance, errado para o atleta e errado para a sustentabilidade. Então o que nós dizemos para nossos desenvolvedores e nossos designers é para pensar em inovação pelos caminhos da sustentabilidade, da mesma maneira que se pensa na performance. Foi isso o que nos fez chegar onde estamos hoje. Esse processo foi uma jornada, mas atualmente isso é incrível para nós.
ME: O futuro das marcas está na inovação, na sustentabilidade?
HJ: Com certeza. Acho que em curto prazo será indispensável na maneira de se fazer negócios. Acho que muito da sustentabilidade funciona quase como um licenciado da marca. Quando você fala com os consumidores jovens, eles já esperam por isso. E eu acho que nós podemos ir além; a sustentabilidade vai ser tornar bastante competitiva. Essa será a caça nas novas tecnologias, novos materiais e novos modos de pensar em como se fazer o seu negócio, em como trazer produtos para o mercado. E depois reciclar e trazer de volta esse produto ao mercado. Essa vai ser a história que será lida na próxima década. Nossa intenção é liderar esse processo.
ME: É possível dizer que chega a ser mais barato para uma empresa apostar na sustentabilidade?
HJ: Há uma troca nisso. O que está claro é que qualquer companhia que pensa nisso terá, seja em curto prazo, médio prazo ou longo prazo, um retorno em criação de valores, então definitivamente ela terá que pensar em sustentabilidade. Sustentabilidade é agregar valor. No curto prazo, você foca em eliminar desperdícios. Desperdício é um dinheiro que você joga fora. Então toda vez que você elimina desperdício, você economiza, você aumenta sua eficiência. O velho paradigma é de que sustentabilidade é igual a um menor desempenho e representa um negócio custoso. Eu acho que o que nós estamos dizendo é que nós somos a Nike, e esses paradigmas estão completamente equivocados, é o contrário disso.
ME: O que nós podemos imaginar em 2016 em relação à sustentabilidade?
HJ: Você sabe, eu não posso de contar. É um segredo! Mas a grande questão é que nós estamos construindo um crescente e saudável plano de inovação. Em produtos, mas também em manufaturados, em processos, em design. Todas essas coisas flutuam no mercado. Há duas, três semanas atrás, nós anunciamos uma parceria estratégica com uma empresa de tingimento sem água. É uma empresa pequena que criou um jeito inovador de tingir vestuário sem usar água. Se isso for usado em larga escala, ele tem um impacto massivo no consumo de água, não só com a Nike, mas com toda a indústria. Então você vai começar a ver esse tipo de inovação surgindo. No Brasil em 2016, nós pretendemos chacoalhar o mundo.
ME: E a Nike já trabalha pensando nisso?
HJ: Sim, é claro. O Brasil é um lugar muito excitante para nós porque existe um apetite pela sustentabilidade, e há uma grande oportunidade para nós trabalharmos no país pensando em inovações sustentáveis. E o amor ao esporte é contagioso no Brasil.