?Nike inova em estratégia por futsal?. ?Topper cria ação com futsal do Brasil?. ?Adidas prepara ações para o Mundial de futsal?. As manchetes citadas são todas da Máquina do Esporte na última semana e ilustram a movimentação das grandes marcas esportivas em torno da Copa do Mundo de Futsal, que será disputada no Brasil até o dia 19 de outubro.
Se depender da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS), o evento da Fifa servirá para inserir a ?indústria? do futsal do país em um novo patamar, aguçando o interesse dos patrocinadores para a modalidade.
?Nós preparamos todo um projeto para mostrar que o futsal é um bom produto não apenas para os fabricantes, mas também para os investidores em geral (…) Eu diria que as empresas desconhecem o potencial de mercado que tem o futsal?, afirma Hideraldo Martins, vice-presidente da entidade.
O dirigente ressalta ainda que o torneio pode ser a chave para realizar um dos sonhos da CBFS: ganhar um espaço maior nas emissoras de TV abertas, além de levar o futsal para um público ?diferente?.
?Esse sim é o nosso principal objetivo. Queremos e precisamos de mais espaço na mídia, principalmente na TV aberta. Se bem estruturados, todos os esportes podem garantir retorno às emissoras, assim como acontece com o futebol?, completa Martins, que liderou o Comitê Organizador Local (LOC, na sigla em inglês) do torneio.
Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, o dirigente diz que a ?angustiante? preparação para o torneio ? orçado em R$ 154 milhões – servirá como experiência para a Copa de 2014 e projeta futsal nos Jogos Olímpicos já em 2012.
Leia a seguir a íntegra da entrevista:
Máquina do Esporte: A realização do Mundial de futsal no Brasil despertou o interesse de algumas marcas ? como a Nike ? que não têm tradição na modalidade. Como a CBFS vê o crescimento do mercado ligado ao futsal?
Hideraldo Martins: Esse é o fruto da nossa organização interna para receber o Mundial. Nós preparamos todo um projeto para mostrar que o futsal é um bom produto não apenas para os fabricantes, mas também para os investidores em geral. Algumas das ações inéditas que nós realizamos ao longo da preparação para o evento foram para mostrar isso. A primeira delas foi o tour promocional pelas 27 capitais do país, fazendo a integração do esporte de alto rendimento com trabalhos sociais. Além disso, desenvolvemos o ?Lotação Esgotada?, que dá infra-estrutura para que as crianças possam assistir ao torneio, tanto aos jogos do Brasil, quanto das demais seleções. Então, nada disso está acontecendo por acaso.
ME: O senhor acredita que essa ascensão se mantenha após o Mundial ou é um fenômeno passageiro, apenas atrelado ao evento?
HM: Nós trabalhamos nesse sentido. O que precisa existir é a competência da CBFS para a manutenção desse trabalho daqui por diante. Precisamos profissionalizar nossa entidade para que esse momento não seja perdido. É preciso também dar uma atenção maior à Liga Futsal, profissionalizar a competição, porque é ela que vai dar prosseguimento às ações de mercado do Mundial.
ME: O futsal tem mais de dez milhões de praticantes ? e potenciais consumidores – no Brasil. Falta visão de negócios para essas empresas, que destinam a maior parte de sua verba e de suas ações ao futebol de campo?
HM: Eu diria que as empresas desconhecem o potencial de mercado que tem o futsal. Essa pesquisa que mostra dez milhões de praticantes no Brasil já está defasada, foi feita há três anos. O número é muito superior hoje em dia. Tão logo termine o evento, vamos apresentar uma pesquisa de campo para mostrar a todo mundo quais são as preferências do público ligado ao futebol: qual o melhor horário para que os jogos sejam transmitidos, por exemplo, ou qual material esportivo é o preferido dos praticantes. Queremos mostrar o tamanho real do futsal e o que ele pode oferecer de retorno para os investidores. E, para isso, vamos mostrar uma série de requisitos para balancear nossa entrada definitiva nesse mercado.
ME: O Mundial, então, inaugura uma nova era comercial para o futsal brasileiro?
HM: Com certeza. Tudo o que está sendo feito é altamente profissional, um espelho para o futuro. Vamos dar um passo muito importante para a consolidação da nossa modalidade no mercado.
ME: Na seleção brasileira, os atletas estão vetados de usar qualquer outra marca que não seja a Topper, fornecedora oficial de material esportivo da CBFS. Essa restrição não pode brecar o interesse de outras empresas pelos jogadores?
HM: Não vejo dessa forma. Nós temos um contrato de fidelidade com nosso patrocinador e respeitamos isso. Nós cumprimos tudo aquilo que escrevemos. Quando fechamos o contrato, o fizemos de forma que esse acordo fosse capaz de sustentar todo o grupo vestindo o material da empresa. É uma questão de custo-benefício. O patrocinador arca com um custo alto para ter essa exclusividade na seleção. As outras marcas precisam olhar para as nossas competições nacionais. O espaço lá é franqueado para que todo mundo possa participar. Todas as fabricantes têm acesso e podem fazer ações com os ídolos.
ME: Antes da competição, o senhor disse que o projeto era ampliar esse universo de praticantes para 48 milhões. O principal legado da realização do Mundial no Brasil será esse: a possibilidade de chegar a um novo público?
HM: É um deles, com certeza. Temos que lembrar que outras modalidades também trabalham nesse sentido. O futsal não pode dormir em berço esplêndido e parar no tempo. Precisamos mostrar nossa capacidade de expansão e de atração a um público diferente.
ME: Conseguir mais espaço na mídia também é uma das metas?
HM: Esse sim é o nosso principal objetivo. Queremos e precisamos de mais espaço na mídia, principalmente na TV aberta. Todas as modalidades, aliás, precisam disso. Se bem estruturados, todos os esportes podem garantir retorno às emissoras, assim como acontece com o futebol.
ME: O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, propôs a troca do futebol pelo futsal nos Jogos Olímpicos. A campanha a favor das quadras no lugar dos campos ganhar força a cada dia. Politicamente, o que falta para que o futsal seja incluído na maior competição esportiva do mundo?
HM Somente a boa vontade da Fifa. Essa declaração do presidente da CBF, que também é presidente do Comitê de Futsal da Fifa, foi um passo importante nesse sentido. Aliás, não só ele se manifestou favoravelmente ao futsal nos Jogos Olímpicos já para Londres, em 2012. O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, também mostrou ter entendimento do assunto. Para quem trabalha com futsal há tantos anos, como eu, é emocionante ver discursos desse tipo.
ME: Em termos de infra-estrutura, quais foram as principais dificuldades encontradas pela CBFS para realizar o Mundial no Brasil?
HM: Se formos comparar com a Europa, nossa infra-estrutura é precária. Ainda assim, tínhamos a certeza de que atenderíamos a todos as exigências da Fifa. Posso dizer que passamos por momentos angustiantes durante todo o processo. Só para ter uma idéia, estávamos tranqüilos em relação ao evento no Rio de Janeiro, porque o local escolhido era o Maracanãzinho. Na prática, tivemos que nos desdobrar para dar conta de todos os pedidos da Fifa. Sinceramente, eu me sinto assustado com o tamanho desse torneio. Não imaginava que fosse algo que demandasse tanto trabalho. Todo o corpo técnico da Fifa está no Brasil para acompanhar o Mundial. Só conseguimos dar conta do recado por causa da flexibilidade e da nossa capacidade de improvisação.
ME: A competição, fazendo a devida relativização, é uma prévia para a Copa do Mundo de 2014?
HM: Será um bom teste para o Mundial de 2014. Tenho certeza de que vai servir como experiência para quem está organizando o torneio. É claro que são públicos diferentes, as dimensões das duas competições também. Na Copa do Mundo de futebol, por exemplo, os atrativos turísticos têm muito mais relevância. Esse entorno é mais difícil. Mas, sem dúvida, podemos ser uma boa escola para 2014.