Juliana Poli

A equipe de basquete de Bauru, vencedora do prêmio fair-play no último Novo Basquete Brasil, elite brasileira na modalidade, possui fato curioso no que diz respeito à gestão. A diretora de marketing do clube, Juliana Poli, é também a diretora de marketing do principal patrocinador, a empresa de alimentos Itabom.

A companhia detém a cota máster do Bauru Basketball Team, algo que lhe dá o direito de ocupar naming rights e expor a marca no uniforme do time. O acordo foi fechado recentemente por mais uma temporada em negociação que Poli avalia como “complicada”, mas bem sucedida.

“Apresentamos à Itabom o retorno com o primeiro ano máster, analisamos a viabilidade financeira e conseguimos aprovar esse projeto para mais um ano”, conta a diretora. “Nós nos envolvemos de tal forma que havia um tempo não parávamos para pensar o que é basquete e o que é Itabom, mas conseguimos tirar de letra”.

Para o futuro, como diretora do Bauru, Poli pretende fortalecer a equipe por meio da continuidade de jogadores que se mostraram boas apostas, e ampliar receitas com o projeto “Amigos do Basquete”. Como diretora da Itabom, busca a ativação do patrocínio e o fortalecimento da marca na região de Bauru, no interior de São Paulo, onde a companhia atua.

Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Poli ainda revela a possibilidade de jogar partidas em novo ginásio, o “Panela de Pressão”, para cumprir exigências da Liga Nacional de Basquete (LNB). Segundo normas da entidade, o local da decisão do campeonato nacional deve possuir ao menos três mil lugares.

O reconhecimento ao bom trabalho realizado pela diretora surge da própria LNB, por meio do gerente-executivo Sérgio Domenici, que a convidou para integrar o conselho de marketing da entidade. Domenici ainda pretende enviar Poli aos Estados Unidos, em intercâmbio, para colher informações da maior liga de basquete do mundo, a NBA, que possam ser adaptadas à realidade brasileira.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

Máquina do Esporte: Em que pontos a gestão de um clube ajudou no trabalho em uma empresa e em que pontos aconteceu o inverso?

Juliana Poli: Na Itabom, trabalhamos com planejamento estratégico, planos de ação, projeto organizados, então sinto que isso facilitou para trabalhar no Bauru. Até então, não existia a organização de hoje, com diretoria estruturada, assessoria de imprensa, direção de marketing. Como são todos voluntários, todo mundo só via o que estava ao alcance. O trabalho que venho fazendo na Itabom, com planos e projetos, eu trouxe para o basquete. O que me ajuda na Itabom é a questão do design, algo que faço no basquete ao desenhar os uniformes. Antigamente, enquanto estava somente na Itabom, eu não precisava me preocupar, porque tinha um assistente responsável por isso. Hoje tenho de pegar todos os trabalhos – uniformes, layout, placa, banner – e, para não sobrecarregar meu assistente, aprendo com ele como realmente mexer na parte de design. Isso ajuda a crescer bastante. Há também o networking. A Itabom ajuda bastante nisso e é bem legal para os dois lados.

ME: Por que o Bauru é um bom negócio para a Itabom?

JP: É um bom negócio para a Itabom no sentido que a Itabom fica em Itapuí. A cidade de Itapuí respira Itabom. E Bauru abraçou muito bem a Itabom, recebeu muito bem. Então queríamos retribuir para a cidade aquilo que a cidade fez por nós. Ter abraçado, recepcionado os produtos, a empresa. Existem pessoas que pensam que Itabom fica em Bauru. Quando decidi entrar no patrocínio esportivo, o primeiro fator a considerar foi esse: retribuir à cidade. O segundo ponto foi o fato de a Itabom já ter um projeto social voltado para o esporte, trabalhos com crianças carentes, cidadania por meio do esporte. Já temos uma característica muito forte com isso e sabemos que o esporte forma grandes cidadãos. Para os jovens, o esporte faz com que tenham mais disciplina, regras, e a Itabom sempre apoiou muito isso. Caiu como uma luva. Realmente é muito gratificante. Está sendo muito gratificante por agregar, somar, não deixar o basquete enfraquecer.

ME: Por que a cidade de Bauru é tida como estratégica pelo Itabom?

JP: Bauru é estratégica para o Estado. Ela já parte pela questão geográfica, pois fica no centro de São Paulo. Também é estratégica para nós porque temos clientes em Bauru e em cidades próximas. Bauru também é a cidade onde o presidente da Itabom mora. Mas nós não trabalhamos só com Bauru. Também estamos em Pederneiras, com estabelecimento que irá ficar pronto no ano que vem. Serão mais 200 funcionários diretos em Pederneiras.

ME: Quais são os planos da empresa para ativar o patrocínio?

JP: Nosso principal foco é o basquete. A ativação é algo que não conseguimos fazer no primeiro ano porque era muita novidade, nos envolvemos muito. As ações que gostaríamos de fazer, não fizemos. Agora, as ações serão muito voltadas para o social. Por exemplo, montamos um cronograma, um calendário, com dias festivos, como dia do meio ambiente, dia das crianças, datas importantes para a cidade. Iremos trabalhar voltados para a cidade. A população irá reconhecer o basquete, apoiar e, em contrapartida, ver a Itabom por trás de tudo. O principal serão as ações sociais.

ME: Até quando o patrocínio é válido e quais as perspectivas para o futuro?

JP: Nossos patrocínios são anuais, não fechamos mais do que isso. Renovamos até o fim da temporada 2010/2011, que deve ir até junho. Nossa intenção não é sair. Enquanto a Itabom puder e tiver condições de investir cada vez mais no basquete de Bauru, a intenção é continuar. Mesmo a gente passando por crises, como várias outras empresas, até porque a última crise ainda reflete. A europeia irá rebater no Brasil, mas mesmo sabendo disso, que não estamos em situação favorável, não queremos perder a oportunidade de crescer com a cidade. A perspectiva é continuar, não posso dizer por quantos anos, mas em nenhum momento pensamos em sair daqui a dois ou três anos. Enquanto der para investir, vamos continuar.

ME: Quais outras ações o Itabom tem ligadas ao esporte? Existe a possibilidade de patrocinar um rival do Bauru?

JP: Temos o Itabom na escola, uma estrutura de profissionais – professores, pedagogos, assistentes – hoje voltada para o futebol. É um projeto com crianças de sete a 15 anos, se não me falha a memória, voltado para o social no sentido de fazer com que crianças carentes entendam tudo o que o esporte pode favorecer, por meio da cidadania, respeito, igualdade, compreensão. Todos são valores que tentamos passar por meio do esporte. Hoje só o futebol está nesse projeto, mas há intenção de aumentar para vôlei, basquete, futebol de salão, de areia, já temos espaço para isso.

ME: Qual é a importância do desempenho do time para o sucesso do patrocínio?

JP: Sem dúvida é muito importante. Analisamos que, desde que o basquete voltou, não ganhamos títulos, mas cada vez mais estamos nos fortalecendo. O legal é que a cidade reconhece isso. Estamos montando equipe para poder ter entrosamento. Nosso objetivo é sempre ter equipe forte que jogue por muito tempo junto. A cidade reconhece isso, não à toa apelidaram os jogadores de “guerreiros”. Reconhecem que a Itabom não abandonou o barco. Os jogadores se esforçaram, é até emocionante porque eles se mataram para ganhar e não deu por um ou dois pontos, e a sociedade de Bauru reconhece isso, ficam todos em pé, aplaudindo. Essa percepção é muito legal e reflete para a Itabom. É sempre bom saber que as pessoas reconhecem o trabalho em longo prazo. Obviamente ganhar é maravilhoso, será gratificante pelo trabalho duro, mas, em contrapartida, é legal que a sociedade veja que não é só ganhar, mas também ter força de vontade e ver o trabalho que está estampado no rosto de cada jogador.

ME: Como funcionou a negociação de patrocínio entre Itabom e Bauru? Você tomou todas as decisões ou houve outras pessoas envolvidas?

JP: É bem complicado. Estamos muito envolvidos. Não quero perder o basquete, mas como Itabom, preciso analisar qual o retorno que o basquete traz. É muito difícil. Na verdade, até hoje, o primeiro ano foi o mais difícil. Conseguir ver essa diferença, separar, mas consegui muito bem. Apresentamos ao marketing da Itabom o retorno com o primeiro ano máster, analisamos a viabilidade financeira para isso e conseguimos aprovar esse projeto para mais um ano. Mas é bem complicado porque a gente se envolve de tal forma que há um tempo não parávamos para pensar o que é basquete, o que é Itabom, era tudo uma coisa só. A verdade é que conseguimos tirar de letra e apresentar os resultados de forma correta. O maior retorno é institucional. Há retorno financeiro, mas o institucional era o principal objetivo. Fortalecer a marca da Itabom na região. Não adianta nada abrir mercado para outras cidades se o interno não está 100% fortalecido. Quando pensamos na ideia, não consegui enxergar cota que não a que leva o nome. É uma confusão, mas analisamos bem como Itabom, apresentamos à presidência, e tudo deu certo.

ME: Ainda em relação ao patrocínio, como funcionou a negociação de valores entre Itabom e Bauru, com você estando dos dois lados?

JP: É estranho, mas o projeto novo está com cotas reajustadas e os reajustes são feitos com toda a diretoria do basquete, com o presidente e comigo. Analisamos o que o basquete precisa para chegar à final do Paulista. A análise foi principalmente com base no que o basquete precisa, e não o que a Itabom pode pagar. Com qual valor a Itabom pode investir? O basquete precisa de X. Se a Itabom pode ou não, não vamos nos preocupar. Se a Itabom não pode pagar, vamos atrás de outro. Nossa preocupação era analisar o que o basquete precisa e não o que a Itabom pode pagar no basquete, esse é o ponto. Analisamos com a comissão técnica, pensamos no valor para conseguir montar equipe para alcançar as finais do Paulista, depois nos preocupamos com o marketing. “Vamos correr atrás para bancar esse X”, foi o que pensamos. Mas para a Itabom só interessa a cota máster.

ME: Como funcionam as cotas do “Amigos do Basquete”?

JP: O Amigos do Basquete funciona assim: empresas de pequeno e médio porte que não querem entrar no uniforme, mas que querem colaborar, podem comprar cotas com valores mais baixos. A empresa então tem banner no ginásio, tanto no Ginásio do Luto quanto no Panela de Pressão, um projeto que virá no futuro. É uma cota voltada para banner de quadra, bem mais organizado, com estrutura de metal. A cota principal tem dimensões de 3 por 2,20 e a secundária, 1,50 por 90. Então são banners relativamente grandes. Oferecemos visibilidade no campeonato inteiro. Serão 12 meses de visibilidade para as pessoas. O Luto comporta 800 pessoas, então argumentamos dessa forma. O que pesa mais é o sentimental. Querer colaborar com o esporte é mais pessoal.

ME: Qual é o projeto relacionado ao ?Panela de Pressão?, que você citou?

JP: O ginásio Panela de Pressão é de outra época e tem espaço para 3,5 mil pessoas. É um outro nível de ginásio. Ele fechou há algum tempo porque é particular, pertence ao dono do Nordeste, clube de futebol da região. Ele era locado e, depois que fechou, não foi utilizado por nenhuma modalidade ou pela prefeitura. Então imagine quantos problemas de piso e telhado ele tem. Agora, no ano passado, surgiu a oportunidade de voltar para lá. Caso a gente alcance a final, precisamos de um ginásio com três mil lugares ou não poderemos jogar aqui. Como estamos melhorando no campeonato, a intenção é sempre melhorar mais. Melhorar o ginásio, trocar o piso, o teto, reestruturar para conseguir jogar lá. O projeto está aprovado mas não está em andamento por problemas que não tenho conhecimento. A intenção é voltar para lá. Se será locação da prefeitura, se será uma parceria entre eles, se será uma parceria com o basquete, não sei. Se a prefeitura abraçar, servirá para todos os esportes, e não só para o basquete, mas isso não está decidido. Em quais moldes serão firmados a parceria e o contrato ainda não foi decidido.

Sair da versão mobile