Leandro Valentim

Com nove anos de idade, a Outplan está prestes a dar os maiores saltos de sua existência. O controle da empresa, fundada em 2002, após ter sido adquirido parcialmente pelo Grupo RBS em 2008, foi tomado totalmente pela Geo Eventos, joint-venture entre a companhia gaúcha e a Globo. Agora, eventos esportivos gigantes são as metas.

A princípio, a empresa, voltada para gestão de arenas e venda de ingressos para eventos pela internet, está sendo reformulada para encarar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Nesta semana, 18 profissionais foram demitidos. O intuito de Leonardo Ganem, novo presidente da Geo, é reduzir custos para ganhar fôlego financeiro.

Em termos de software, a agência de eventos pretende lançar no segundo semestre nova versão do programa utilizado até então, de modo que futuros produtos e benefícios possam ser introduzidos. Com iniciativas nesse sentido, o plano é se preparar para auxiliar a Fifa na gestão das arenas da Copa de 2014, e o cenário é otimista.

A entidade máxima do futebol já teve a Outplan como parceira em piloto no Mundial de futebol de salão em 2008. A Visa, parceira de longa data da empresa, é patrocinadora tanto da Copa quanto dos Jogos Olímpicos. E como a Fifa precisará de suporte de empresas brasileiras para se adaptar ao país, a Geo quer estar consolidada no mercado.

Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Leandro Valentim, diretor da Geo e responsável pela unidade de arenas, detalhou como a agência pretende se fortalecer, no que pretende investir nos próximos anos e quais foram as dificuldades enfrentadas até o momento. A Outplan, enfim, está pronta para encarar desafios ambiciosos.

Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:

Máquina do Esporte: Como funcionou a aquisição da Outplan? Ela já pertencia à Geo Eventos anteriormente, não?

LV: Primeiro temos que lembrar que a Outplan começou como software house, lá em 2002, que nasceu para ser um site de venda de ingressos de futebol. Eles desenvolveram um sistema, e quem se interessou em investir foi a Visa, em 2006. Eles começaram devagar, primeiro no Figueirense, depois no Palmeiras, até que em 2008 a RBS comprou 30% da empresa. Quando a Geo Eventos foi constituída, a Outplan passou a fazer parte da joint-venture. Agora nós assumimos o controle da Outplan.

ME: A Geo comprou os outros 70%?

LV: Não posso dizer exatamente qual a parcela que compramos, mas hoje temos o controle da Outplan.

ME: Então vocês possuem pelo menos 51%.

LV: Isso.

ME: E o que mudou na Outplan com a direção de vocês?

LV: Nós temos atuado em dois conjuntos, dois blocos. O primeiro é na parte operacional, para devolver a empresa ao propósito que ela tinha quando foi criada, que era a área de tecnologia. Ela foi mudando de atuação por uma série de razões. Agora, estamos arrumando a casa, trazendo gestores, reorganizando nosso software, para reforçar a área de tecnologia novamente. Para o segundo semestre, estamos planejando lançar um novo software, muito melhor do que o nosso atual, com novos produtos. Iremos permitir, por exemplo, a compra de combos. Quando um torcedor compra um ingresso, ele já vai ter a opção de comprar um pacote que vem com ingresso, camisa oficial e outros produtos do clube. Por isso, e esse é nosso segundo bloco, estamos voltando a falar com os clubes para expandirmos nossa atuação.

ME: Com a proposta de vender combos, atrair clubes deve ser uma tarefa mais fácil, pois vocês oferecem mais uma maneira de escoar produtos licenciados, não?

LV: Sim. Estamos preparando o sítio para lá na frente fazer propostas redondas a todos os clubes. Hoje, já temos nove conosco. Nós queremos levar o torcedor para o estádio, esse é nosso objetivo. Queremos que ele deixe de pegar filas para conseguir ingressos, que ele não tenha que sentar naquele piso duro das arquibancadas e que não precise usar aqueles banheiros sujos com os quais estão acostumados. Até para ir no banheiro tem fila, e nós queremos acabar com isso. Com o acesso ao estádio pelo cartão de crédito, já matamos as filas para poder entrar. É bem legal, mais seguro. Nossa linha é hospitalidade. De 2007 a 2010, estivemos com o Palmeiras, depois fechamos Setores Visa também no Morumbi, no Santos, mas o contrato acabou. Aliás, isso é algo que precisa ser esclarecido. O contrato que tínhamos com a Visa foi renovado, mas ele mudou. Não há mais Setor Visa. A Visa ainda tem exclusividade nos cartões, apesar de que quem tiver outros cartões também pode entrar, mas tem que pegar fila. A Visa saiu de todos os setores Premium, e agora estamos negociando, oferecendo os naming rights desses espaços a outras empresas.

ME: Como estão essas negociações? Estão no início, no fim?

LV: Eu diria que estão no meio. Dizem que no Brasil não há referência para venda de naming rights. Aconteceu apenas uma vez, no Atlético-PR, com a Kyocera, mas foi algo rápido.

ME: E algo que envolveu outras propriedades, como marca na camisa, então não é exatamente uma referência.

LV: Isso. Mas há um case de naming rights no Brasil. O Setor Visa pegou. Ouço várias pessoas do meio dizendo que nenhum naming right pegou até agora, mas o Setor Visa pegou, porque a torcida o chama assim. Como estão surgindo novos estádios, muitos com planos muito modernos, com o padrão Fifa, estamos confiantes em conseguir vender os naming rights desses setores nessas novas arenas.

ME: Como há muitos times reformando ou construindo estádio, como Palmeiras, Grêmio, Corinthians, esses são os times que serão procurados primeiro por vocês?

LV: No que diz respeito ao setor premium, vamos procurar primeiro aqueles que não têm estádio ou obras previstas, porque nós investimos no clube, nós bancamos essa reforma, então ajudamos a viabilizar a arena.

ME: E como vocês pretendem reaver esse investimento?

LV: Com a venda dos naming rights.

ME: Como funciona esse modelo? Vocês investem e o retorno em naming rights é todo de vocês, ou esse valor será repartido com o clube?

LV: Ainda não posso dizer exatamente como vai funcionar, mas todo negócio que fazemos busca retorno para nós e para o clube. Somos muito parceiros. Esse é um negócio que gera receita para o clube, porque ele passa a vender mais ingressos, mais produtos.

ME: Como vocês decidem qual clube se encaixa no que vocês procuram ou não? Há algum critério, como ser da primeira divisão?

LV: Não estamos em busca apenas de primeira divisão, até porque já trabalhamos com um que está na segunda, que é o Sport. Nós estamos em busca de público ou potencial para que esse público cresça.

ME: Então se um clube como o Santa Cruz, que tem boa média de público, quiser fazer negócio, haveria interesse?

LV: Sim, esse é um bom exemplo. Nós também nos interessamos por camarotes, como já estamos fazendo hoje no Vasco, mas estamos apostando muito nesses setores. Outro foco de investimento é o sócio-torcedor. Estamos estudando para trabalhar nessa área.

ME: Era justamente minha próxima questão. O que vocês pretendem fazer com programas de sócio-torcedor?

LV: Hoje, há no mercado dois modelos. Apesar de não haver uniformidade e existirem vários tipos de sócios-torcedores, conseguimos enxergar dois modelos. O primeiro é aquele que dá a cadeira ao associado, o segundo é o que dá preferência na compra do ingresso e um desconto. O problema do primeiro é que, para clubes que têm alta adesão de torcedores, perde-se dinheiro em grandes jogos. Imagine aquele clássico, que naturalmente tem uma procura muito grande, ter só dez mil ingressos à venda. É claro que para clubes menores e jogos menos procurados, vale a pena para antecipar receitas, mas nosso modelo vai resolver isso. Vamos começar a resolver esse problema no Figueirense e no Avaí.

ME: Qual é o caminho que vocês vão tomar para resolver isso?

LV: Queremos dar benefícios a quem disser que não vai à partida.

ME: O Internacional já tem tentado introduzir isso. Será algo similar à ideia deles?

LV: Será melhor que o do Inter. Eles são uma das nossas referências no assunto dentro do Brasil, porque estamos estudando essa área. Buscamos vários exemplos na Europa, fora do país, e também dentro, para descobrir o que pode funcionar. Direi como irá funcionar nosso sistema quando ele estiver pronto, mas digo que é melhor do que o do Inter. Nós temos a vantagem de que o sócio já vai ter à disposição a tecnologia que usamos.

ME: Comparar com países de fora não é arriscado? Culturalmente, nosso torcedor não tem o costume do torcedor do Barcelona, que avisa se irá ou não à partida e sente que ajudou o clube com isso.

LV: Nós apenas buscamos referências lá fora. Estamos adaptando o que vimos lá à cultura brasileira. Esse é um erro que o pessoal costuma cometer. Vejo dirigentes falando de season ticket e já estimando vender 80%, 90%, logo no primeiro ano. É preciso ir mais devagar. Nós estamos estudando a cultura brasileira. Não só em termos de Brasil, mas também de Estado para Estado, porque os costumes mudam a cada região, e como nós estamos em vários clubes, em vários Estados, temos a condição de entender isso.

ME: Há algum outro foco no esporte?

LV: Nós desejamos, como foco, melhorar o acesso aos estádios. Até por isso, estamos desenvolvendo uma nova catraca, chamada FCP03, e já estamos trocando em alguns estádios. O Vasco já vai ter essa catraca, que tem uma tecnologia nova, mais rápida, pronta para receber novos produtos. Uma das coisas que ela já está pronta para liberar o acesso via celular, embora ainda não tenhamos esse serviço.

ME: Nesse um ano de existência da Geo Eventos, quais foram as apostas que deram errado? O que não funcionou?

LV: Não digo do que não funcionou, mas encontramos dificuldades, sim. Uma delas é a cultura dos nossos dirigentes, de não abrir a temporada, mostrar a renda. Quando eles recebem a tabela, seria mais fácil se já pudéssemos dividir quando serão os clássicos, quando terão jogos menores, para estruturar o season ticket. Isso ainda é difícil. Outra coisa é que o dirigente precisa promover o jogo. Muitos ainda pensam que é só paixão pelo futebol e nada mais, que o torcedor aguenta ir ao estádio nas condições de hoje porque ama o time. Isso tem que mudar. Eles têm que chamar o torcedor para o jogo, resolver problemas, planejar melhor. Mas isso é algo que está em transição. Já vejo muito dirigente mudando de postura, até por causa da cobrança da imprensa, mas também pela necessidade. Outro problema que tivemos é com a diferença entre as culturas no Brasil. Em São Paulo, o torcedor já está mais acostumado a comprar pela internet. Aqui já se tem esse hábito, mas isso é mais difícil em outras cidades. Nosso desafio é reduzir ao máximo o caos das filas, então é importante que o torcedor experimente a compra pela internet. Quando ele tenta uma vez e vê que funciona, conta para os outros. Um caso interessante, em São Paulo, é o Palmeiras. O Setor Visa, entre todos os setores do estádio, sempre teve mais público, proporcionalmente. Mesmo sendo mais caro, custando R$ 49, enquanto o ingresso custava R$ 20, muita gente preferia pagar mais caro para ter conforto.

ME: De olho em 2014 e 2016, como vocês estão se preparando? Qual será o papel da Geo Eventos nesse período?

LV: Em relação à Outplan, teremos oportunidades. Nós já fizemos um piloto, com a Fifa, de venda de ingressos no Mundial de futsal de 2008. Nesse piloto, nós cuidamos da venda de ingressos para eles. Nós recebemos recentemente o Jean Pierre Koeltgen, diretor de hospitalidade da Fifa, encarregado pelos ingressos, porque eles vieram aqui falar de Copa do Mundo, e eles deixaram a mensagem de que vão precisar de apoio. Hoje, a Fifa vende ingressos no mundo inteiro, mas eles vão precisar de suporte no Brasil para entender o mercado. Nós estamos nos preparando para ocupar essa função. Hoje, já há uma conversa para que isso aconteça. Nós temos uma vantagem, um cliente em comum, que é a Visa. A Visa é patrocinadora da Copa, e é nossa cliente, então isso facilita. Quando olhamos para os Jogos Olímpicos, temos a mesma vantagem, porque a Visa também é patrocinadora das Olimpíadas. Então há oportunidades.

ME: Quem é a concorrente que está no mesmo patamar que vocês, que pode atrapalhar esses planos?

LV: Hoje, a BWA, que é bastante tradicional e tem bom mercado.

ME: A área de entretenimento da Geo tem negócios com a Som Livre, que também pertence à Rede Globo. Há algum braço da Globo que hoje oferece sinergia à Geo na área de arenas?

LV: Não.

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