Luciana Pombo

Desde que o Atlético Paranaense anunciou que cobraria as transmissões de seus jogos das emissoras de rádio, a iniciativa ganhou diversos adjetivos. Por um lado, há quem classifique a taxa de R$ 15 mil por jogo como esdrúxula, absurda e ilegal. Por outro, há quem considere a atitude ousada e frutífera.

O próprio clube reconhece que a medida é ?antipática?, mas não teme as reações adversas. Pelo contrário. O Atlético diz que a cobrança faz parte do processo de valorização de sua marca. E mais: avisa que outras mídias podem entrar no mesmo barco.

?Estamos elaborando uma proposta de comunicação que inclui, por exemplo, uma agência de notícias. Queremos ter essas opções à disposição e temos várias ações sendo estudadas nesse sentido?, revela Luciana Pombo, diretora de comunicação do clube, rechaçando que haja censura ao trabalho da imprensa:

?Não se trata, de forma alguma, de cercear a liberdade de imprensa, é importante frisar isso (…) sei o quanto é difícil trabalhar nesse meio. O Atlético só quer garantir o fortalecimento da sua marca?, destaca a jornalista que, curiosamente, tem passagens pelas principais emissoras de rádio da capital paranaense.

Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Luciana Pombo explica como o Atlético chegou aos valores da proposta feita às rádios e diz que a polêmica não irá arranhar a imagem do clube.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

Máquina do Esporte: A notícia da cobrança pelos direitos de transmissão dos jogos do Atlético Paranaense nas rádios pegou todo mundo de surpresa na última semana. Quando o clube começou a discutir essa questão?

Luciana Pombo: Começamos um estudo em junho do ano passado. Quando a fase jurídica desse estudo foi concluída, iniciamos uma pesquisa mercadológica. A mídia, logicamente, foi pega de surpresa. Mas esse assunto foi muito debatido internamente antes de se tornar público.

ME: A Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (Aerp) prometeu levar o caso à Justiça. Outras entidades manifestaram seu repúdio contra a decisão do Atlético. Como o clube pretende lidar com a repercussão negativa da cobrança?

LP: Ir à Justiça é normal, quem se sente lesado tem o direito de fazê-lo. Nós já esperávamos por isso e não estamos preocupados. O Atlético está bem embasado juridicamente. Tudo isso já havia sido pesado antes, pois se trata de rádio, que é uma mídia muito forte. Mas alguém tinha que correr o risco.

ME: A polêmica pode, de alguma forma, arranhar a imagem do clube?

LP: Creio que não. O Atlético já tem a fama de clube pioneiro, que inicia as brigas e sai em busca do que acredita. Essas discussões fazem parte da nossa história. O torcedor é apaixonado por esse Atlético e nos apóia nessa decisão.

ME: Se entre os torcedores não há nenhum tipo de rejeição, o Atlético não teme ficar estigmatizado para os investidores?

LP: De forma alguma. Nos dois casos, acho que o efeito é justamente o contrário. Nós valorizamos o nosso produto e, por isso, sempre tivemos grandes parceiros comerciais ao nosso lado.

ME: Os clubes de futebol são donos de várias propriedades de mídia, não apenas dos direitos de transmissão dos jogos. Existe a questão da imagem, por exemplo. O próprio Atlético justificou a taxa dizendo que não poderia entregar, de graça, um produto tão caro como o futebol. Depois da cobrança às rádios, como o Atlético vai lidar com as outras mídias?

LP: Nós estamos elaborando uma proposta de comunicação que inclui, por exemplo, uma agência de notícias. Queremos ter essas opções à disposição e temos várias ações sendo estudadas nesse sentido. Nosso presidente [do Conselho Deliberativo, Mario Celso Petraglia] já disse durante a coletiva que ?medidas antipáticas? devem vir por aí, mas isso precisa ser feito. Não se trata, de forma alguma, de cercear a liberdade de imprensa. O trabalho da imprensa sempre vai ser respeitado, é importante frisar isso. Sou jornalista e sei o quanto é difícil trabalhar nesse meio. O Atlético só quer garantir o fortalecimento da sua marca.

ME: Algumas rádios não se posicionaram tão radicalmente contra a taxa em si, mas consideram o valor exorbitante. Como o Atlético chegou aos números que constituem a proposta?

LP: Nós pesquisamos as cotas dos principais programas esportivos. Somamos esses valores e chegamos a uma cifra que varia entre R$ 100 mil e R$ 120 mil. As esses números, acrescentamos os custos com funcionários e a lucratividade que as emissoras devem ter. Assim, chegamos à conclusão de que R$ 15 mil por jogo seria razoável, um valor dentro das possibilidades das emissoras.

ME: O prazo para que as rádios fechem o contrato de transmissão se encerra na próxima semana. Alguma emissora já entrou em contato com o Atlético?

LP: Temos duas emissoras interessadas. Uma delas, inclusive, já acertou tudo, mas falta o reconhecimento em cartório para concretizar a negociação. Com a outra, temos uma reunião marcada para a próxima terça-feira. Só então vamos anunciar os nomes.

ME: Então não há risco de não haver transmissão nas rádios neste ano?

LP: Nenhum. Existia, inclusive, a possibilidade de o Atlético arrendar espaço nas rádios para transmitir seus jogos. Esse era o nosso plano B. Se acontecesse de ninguém mostrar interesse na proposta, compraríamos um horário e usaríamos nossa equipe da web rádio para fazer as transmissões. Tínhamos tudo planejado para o caso de dar errado. Ainda bem que não será preciso.

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