Luis Silva

A cidade possui indústrias, população com bom poder aquisitivo e mercado esportivo diversificado, dividido em futebol, futsal, basquete e corridas de rua. Entretanto, está distante dos grandes centros econômicos do país. Joinville, em Santa Catarina, surgiu como oportunidade de negócio para a VO2, agência de marketing esportivo.

A empresa é responsável por gerir o marketing do Araldite/Univille/Joinville, equipe de basquete da região, e do Joinville Esporte Clube, clube de futebol que conseguiu acesso à Série C do Campeonato Brasileiro na última temporada. “Os negócios no esporte estão descentralizando”, afirma Luis Silva, sócio da agência.

Em entrevista à Máquina do Esporte, o gestor falou sobre as dificuldades enfrentadas para fazer negócio em cidade afastada dos grandes centros. A falta de profissionais qualificados, por exemplo, é perceptível. A empresa busca colaborador para a área comercial, mas ainda não conseguiu encontrar o perfil adequado.

Outra peculiaridade de Joinville é a resistência de empresários para investir no esporte. “As pessoas da cidade têm dificuldade em aceitar, mas quando se mostra competência, profissionalismo, elas te abraçam”, prossegue o ex-jogador de basquete. “É um perfil mais rígido de investidor, mas isso está mudando”. 

Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:

Máquina do Esporte: A cidade de Joinville possui bom mercado para fazer negócios no esporte? Qual sua opinião sobre o potencial da região nesse meio?

LS: Eu fui à Joinville como atleta. Por minha formação profissional, apesar de ter conciliado faculdade de educação física, cursos na ESPM, fui como convidado em 2007. A equipe foi extinta, e aí surgiu a abertura para a VO2. A cidade já tinha histórico com basquete, porque tinha uma equipe, que nunca ganhou nenhum campeonato nacional, mas que foi referência como projeto bem sucedido. Isso nos favoreceu. Joinville tem muitas indústrias, é a Manchester brasileira, como nós falamos, e tem um PIB bastante elevado. Em contrapartida, o JEC é uma religião. Ele é a junção de dois clubes, Caxias e América, e fez 35 anos, com 12 campeonatos estaduais, apesar de não ganhar há 10 anos. A cidade consome muito bem o JEC. Outro foco, que é sucesso em adesões, é a corrida de rua. Parei de jogar basquete, e para manter a forma física comecei a correr, como atividade. Vim a São Paulo, a Buenos Aires, aos Estados Unidos, mas em Joinville ainda não tinha. Então também fizemos corridas de rua, 10k, a partir da minha experiência como consumidor de provas de outras regiões. A cidade gostou muito. O pessoal quer sair e identificou na prova segurança e conforto. O que posso dizer é que a cidade gosta muito de esporte, mas ainda há características da população que atrapalham, como pouco investimento de empresários. É uma praça cheia de esportes: basquete, futsal, futebol, corridas de rua e vôlei, que tínhamos até pouco tempo.

ME: Como você vê o esporte em cidades fora dos grandes centros? Existe um processo de profissionalização também nesses locais?

LS: Entendo que sim. Posso dizer, pelo futebol, que o interior de Santa Catarina é muito forte. Há equipes com orçamento, bem sucedidas, e nem preciso falar de Avaí e Figueirense. Também vemos fora nas corridas de rua. Vou disputar a Volta à Ilha, em Florianópolis, que já é uma das mais importantes. Os negócios no esporte estão descentralizando.

ME: Que tipo de esporte costuma ser mais rentável fora dos grandes centros? Por quê?

LS: O público é muito segmentado, e as empresas veem no futebol um universo muito grande. É um esporte passional, volátil, mas dinâmico. Os valores são expressivos, independentemente da realidade, e tudo acontece muito rápido. As demissões, os patrocínios, os sócios. O fato de estar num bom momento no campeonato alavanca consideravelmente número de sócios, vende mais camisas, tudo acontece muito rápido. A performance positiva alavanca muito rápido qualquer negócio no futebol. O basquete é mais condensado. Agora, no futebol, principalmente porque Joinville saiu da Série D para a Série C, queremos criar recursos para ter um time competitivo para a Série C.

ME: Explorar cidades fora dos grandes centros é um caminho mais acessível para agências de marketing esportivo?

LS: Todo esporte, entretenimento, é do momento. Todos os telejornais sinalizam com esporte, porque estamos na década do esporte. Toda cidade tem sua demanda, paixão por determinado esporte. A paixão por futsal aqui é esplendorosa. Guardadas as proporções, é algo que aconteceu com a VO2. A partir do momento que conseguimos mostrar seriedade, os recursos começaram a ser canalizados.


ME: Nacionalmente, já há queixas em diferentes lugares pela falta de mão de obra qualificada na área de marketing esportivo. Você enfrenta essa mesma dificuldade na hora de encontrar profissionais em Joinville?

LS: É uma necessidade. Encontramos falta de bons colaboradores em todas as áreas. Estou passando isso pela VO2. Temos o cuidado de crescer de modo sustentável, mas precisamos de alguém para a área comercial. Está muito difícil encontrar alguém com o perfil certo, não só pelo profissional, mas também pelo salário. Não temos condições de pegar um cara altamente qualificado, então pegamos uma estagiária para tentar treiná-la. Estou “sofrendo” com isso. Preciso de alguém para a área de frente, comercial, e não encontro. No operacional estou tranquilo, na assessoria de imprensa também, mas falta alguém que venda mais. Existem praças próximas de Joinville que demonstraram interesse em corridas de rua, como Blumenau, mas não consigo vender adequadamente porque falta essa pessoa.

ME: A relação com o basquete é uma maneira de tornar Joinville mais conhecida nacionalmente, como aconteceu com Franca, por exemplo? Se sim, que tipo de negócio pode ser gerado a partir dessa ligação?

LS:  O grande barato de Joinville é que existe uma comunidade envolvida. Como a cidade tem 600 mil habitantes com bom potencial econômico, ela consome muito basquete, algo que se vê pela média de público. Nós estamos acostumados com o mercado da TV não falar marcas de patrocinadores, e então esse envolvimento da cidade agrega bastante nesse sentido. Transformar Joinville em uma nova Franca não é a visão do nosso poder público, infelizmente, mas indiretamente isso acontece, e somos reconhecidos pelo basquete. Em nível nacional, onde vamos com o Alberto Bial [técnico da equipe de basquete], as pessoas perguntam de onde ele é, conhecem Joinville, e a cidade fica muito associada ao esporte. Mas ainda estamos muito longe de Franca. Há muita coisa para aprender e chegar lá. Mas o legal é que a cidade é mobilizada, como em Franca. Existe esse consumo da cidade de notícias de basquete, guardadas as proporções. Existe demanda, envolvimento. Envolvimento, aliás, é a palavra mais legal.

ME: Em uma cidade com esse envolvimento, como fazer o habitante se tornar consumidor de produtos de esporte?

LS: O futebol, como falei, já traz essa demanda. Fizemos camisa comemorativa de 35 anos e vendeu muito. O futebol é muito mais perecível, acontece mais rápido e está totalmente ligado à performance. Há situações em que o volume de uma semana que sucede um 4 a 0 no Avaí é a melhor semana em vendas da história. No basquete, procuramos fazer com o patrocinador um produto maior, nacional, porque esse é o intuito do Araldite. A Univille tem esse perfil de rejuvenescer marca, mostrá-la em Joinville, e está usando o basquete para isso. O que quero dizer é que usamos a imagem desses patrocinadores para desenvolver coisas mais legais. Faz parte dos planos deles criar outros produtos de varejo, basicamente voltados para o regional.

ME: O que quer dizer quando fala que empresários de Joinville investem menos?

LS: Joinville tem colonização alemã. O empresário ainda está começando a ver o esporte, e a VO2 tem contribuído para isso. Costumo dizer informalmente que as pessoas de Joinville têm dificuldade de aceitar, mas quando se mostar competência, profissionalismo, a cidade te abraça. É um perfil um pouco mais rígido de investidor, mas isso está mudando. Podemos dizer que é por causa da Copa do Mundo, desses grandes eventos, mas a VO2 também é um diferencial nessa mudança. Foi difícil mostrar isso para o JEC, mostrar que dá, porque eles tinham certa resistência a esse modelo de gestão. Isso está sendo mudado, não só por ser a década do esporte, mas também porque a VO2 já consegue passar para a região credibilidade. Conseguimos mostrar que há profissionais para fazer vários serviços de maneira profissional, com as partes fiscal, tributária, contratual etc. Esse é o grande negócio. A situação era difícil, mas estamos quebrando isso por meio do trabalho.

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