Faltando menos de um ano para os Jogos Olímpicos de Pequim, os chineses trabalham em ritmo frenético para ultimar os detalhes daquela que deve ser a mais cara e grandiosa edição da história da competição, com números compatíveis com a superlatividade do país.
Para Luiz Augusto de Castro Neves, embaixador brasileiro na China, a quantidade de novas construções na cidade impressiona, assim como os custos para realizar a melhor Olimpíada de todos os tempos.
“A China é um enorme canteiro de obras. O montante investido já supera, de longe, os US$ 10 bilhões”, disse o diplomata, destacando que o valor é referente apenas às melhorias feitas na cidade, não englobando a infra-estrutura esportiva. No total, o evento deve consumir US$ 34 bilhões (R$ 75 bilhões).
Morando há quase três anos na capital chinesa, o embaixador brasileiro afirma que a população local abraçou a competição e espera ansiosa pelo início das disputas, marcado para o dia 8 de agosto de 2008.
“Eles estão muito orgulhosos com o fato de sediarem os Jogos Olímpicos do ano que vem. Eu noto um engajamento muito grande por parte do governo, das empresas e do povo para que tudo corra bem”, afirmou Neves.
Em entrevista concedida ao programa “Negócios da China”, apresentado pelo editor executivo da Máquina do Esporte, Erich Beting, na Rádio Bandeirantes, Luiz Augusto de Castro Neves falou sobre as suas expectativas para o evento, mostrou-se preocupado com os níveis de poluição de Pequim e revelou os preparativos da embaixada para receber os turistas brasileiros no país.
Leia a seguir a íntegra da entrevista:
Máquina do Esporte:Como o senhor avalia a festa feita para marcar o início a contagem regressiva para os Jogos Olímpicos de Pequim? O povo chinês está animado com a possibilidade de receber um evento como esse?
Luiz Augusto de Castro Neves: Eu creio que sim. Estou morando em Pequim há quase três anos e, nos últimos dois, a preparação para a competição tem sido intensa, os símbolos olímpicos e os preparativos para os Jogos estão em toda parte, não apenas os trabalhos de terrenação dos estádios e dos locais de disputa, mas também de embelezamento da cidade, de construção de novas vias, serão construídas duas novas linhas de metrô. Enfim, esses melhoramentos todos que costumam ocorrer em uma cidade quando ela é sede de um evento tão importante.
ME: O senhor tem idéia do montante investido para melhorias na cidade, não no que se refere à áerea esportiva, mas em infra-estrutura para Pequim? Sem as Olimpíadas, haveria esse investimento e essa aceleração de obras como está acontecendo agora?
LACN: Talvez não seja tão direcionado para as Olimpíadas como parece. A China é um enorme canteiro de obras. O montante investido já supera, de longe, os US$ 10 bilhões.
ME: Esse valor é além do investimento esportivo?
LACN: Claro. Além dos investimentos em equipamentos esportivos e em estádios. À parte também existem outras obras que não estão diretamete ligadas ao evento, mas que estão sendo inauguradas agora e que certamente terão um papel importante nos Jogos, como o Teatro Nacional e o novo aeroporto, que é duas vezes e meia o tamanho do terminal atual.
ME: O povo chinês tem demonstrado satisfação com essas novas estruturas? Pequim, principalmente, comprou a idéia dos Jogos?
LACN: Eu acho que sim. Conversando com as pessoas na rua, eu percebo que eles estão muito orgulhosos com o fato de sediarem os Jogos Olímpicos do ano que vem. Há uma coisa curiosa que é a proliferação de cursos de boas maneiras, sobre como receber os estrangeiros, as pessoas estão estudando outras línguas para conviver melhor com outros povos e para eliminar hábitos que não são bem vistos no Ocidente e que, de certa forma, estão arraigados à cultura chinesa. Eu noto um engajamento muito grande por parte do governo, das empresas e do povo para que tudo corra bem.
ME: Qual é a expectativa da ida de brasileiros para Pequim? O senhor já tem esse levantamento e existem algum trabalho sendo realizado pela embaixada brasileira nesse sentido?
LACN: Há sempre uma expectativa muito grande em relação à ida de brasileiros para a China, para ver os Jogos e para fazer turismo evidentemente, já que é uma viagem tão longa, para um país tão distante. Do nosso ponto de vista, estamos reforçando o setor consular, departamento que dá assistência ao brasileiro. Teremos uma grande presença de brasileiros, não sei exatamente quantos, mas certamente haverá alguém que perderá passaporte ou qualquer outro tipo de problema e que entrará em contato conosco para pedir algum tipo de apoio. Também estamos montando uma equipe de auxílio para aqueles que forem a Pequim para trabalhar, como é o caso dos meios de comunicação brasileiros.
ME: Comparando com eventos esportivos anteriores, como a Copa do Mundo e outras edições das Olimpíadas, sempre foi possível notar uma grande identificação com a cultura brasileira, com produtos característicos do país à venda, entre outras coisas. Na China é diferente?
LACN: O que é mais conhecido na China, e em qualquer outro lugar, é o futebol brasileiro. Quando nós falamos que somos brasileiros, os chineses sempre citam os nossos jogadores. No canal de esportes da televisão chinesa, de vez em quando, passam jogos do Campeonato Brasileiro e amistosos do seleção. Existe uma curiosidade em relação ao Brasil que, como eles dizem por aqui, é um país em igualmente em desenvolvimento e quase tão grande como a China, ainda que com a população sete vezes menor.
ME: É exagero dizer que existe problema para se respirar em Pequim devido aos níveis de poluição?
LACN: Não chega a dar problemas respiratórios, mas a quantidade de particulas em suspensão é muito grande. A situação melhora quando chove, aí lava a atmosfera. Os chineses se comprometeram a chegar às Olimpíadas com níveis de poluição bem mais baixos. Aliás, tem baixado progressivamente. E poluição vem não só da emissão das fábricas ao redor de Pequim, mas também da quantidade imensa de obras. Há muita poeira e como o clima aqui é muito seco, fica aquela bruma que nos impede muitas vezes de ver o sol.
ME: Neste ano, a quantidade de chuva na China foi acima do normal nesses últimos dois meses. É possível que essa situação se repita em 2008? Existe infra-estrutura para suportar algo similar durante as Olimpíadas?
LACN: Creio que existem sim. Pequim é uma cidade muito plana, não tem problemas de encostas ou de montanhas. A cidade tem uma infra-estrutura urbana razoável, embora tenha crescido muito nos últimos anos. A quantidade de obras de modernização, de galerias subterrâneas, galerias pluviais é muito grande e deve ajudar nessa questão.
ME: Eventos esportivos de grande porte têm como tradição impulsionar o turismo nas cidades sedes. O que o senhor pode destacar de positivo e de negativo em Pequim?
LACN: A cidade de Pequim é muito antiga, milenar. Arquitetônicamente, é um lugar muito bonito, não só falando da parte moderna, que abrange os grandes edifícios, as grandes torres de vidro, com construções muito arrojadas, mas também da parte histórica, como a Cidade Proibida, que demanda um dia inteiro de visita, ou a própria Muralha da China, além de alguns outros locais famosos. Do ponto de vista negativo, a poluição é o traço mais marcante para quem vai visitar a cidade, mas estima-se que para as Olimpíadas já esteja melhor.