Marcelo Izar Neves

O Morumbi já se prepara para a Copa do Mundo de 2014, que será no Brasil. A despeito de a Fifa ainda não ter confirmado sequer as cidades que receberão jogos do torneio, o estádio do São Paulo, incluído na candidatura paulistana ao evento, iniciou algumas obras para adaptar sua estrutura às exigências da entidade que gerencia o futebol mundial. Uma das iniciativas com essa perspectiva é o lançamento do espaço Unyco.

Construído no andar térreo do Morumbi, o camarote corporativo começou a funcionar na última quinta-feira, na vitória do São Paulo por 2 a 1 sobre a Ponte Preta. Trata-se de um espaço dividido em três ambientes, com um lounge, tribunas e cadeiras, idealizado para que empresas utilizem o estádio como cenário para reuniões ou encontros de negócios.

O projeto foi idealizado por Marcelo Izar Neves, filho do ex-goleiro Gylmar dos Santos Neves. Dono de uma agência de marketing esportivo, o empresário baseou-se no conceito de arenas dos Estados Unidos para criar um serviço VIP para empresas no Morumbi.

?O que mais chama atenção lá é que o dia do evento recebe tratamento de grande atração. Tenho um irmão que mora na Pensilvânia e chega ao estádio às 11h quando vai a um jogo às 17h. Ele faz isso porque valoriza o conforto, a comida, os brindes e as ações de fidelização que acontecem lá. O espaço Unyco tem muito a ver com isso?, comparou Izar Neves em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte.

O projeto do espaço Unyco prevê investimento de R$ 10 milhões em três anos. As cadeiras e tribunas foram construídas de acordo com especificações passadas pela Fifa, em modelo que deve ser seguido no restante do estádio. O camarote corporativo ainda apresenta como diferenciais os serviços de limpeza, segurança, climatização e catering, todos realizados em sistema de parcerias com outras empresas.

Antes mesmo de o espaço ser inaugurado, Izar Neves contabilizava 22 empresas dispostas a comprar vagas no camarote. A receptividade o animou até a buscar expansão. Apesar de não vislumbrar a criação de filiais em outros estádios, o empresário fará ação similar na Fórmula 1 e em torneios de tênis e pólo.

Leia a entrevista na íntegra a seguir:

Máquina do Esporte ? O espaço Unyco é um camarote corporativo para marketing de relacionamento, com serviço para fomentar a ida de torcedores com esse perfil ao estádio. Como surgiu esse conceito?

Marcelo Izar Neves – Tenho uma empresa de marketing esportivo há quase dez anos, mas sempre acompanhei futebol e sempre tive grande preocupação com a estrutura dos estádios. Procurei reparar no que é feito fora do Brasil, e os Estados Unidos são quem chama mais atenção nesse aspecto. O que mais chama atenção lá é que o dia do evento recebe tratamento de grande atração. Tenho um irmão que mora na Pensilvânia e chega ao estádio às 11h quando vai a um jogo às 17h. Ele faz isso porque valoriza o conforto, a comida, os brindes e as ações de fidelização que acontecem lá. O espaço Unyco tem muito a ver com isso.

ME ? Quais são os diferenciais que o espaço Unyco apresenta para concorrer com outros camarotes?

MIN – Nós temos um projeto diferente. Pegamos um espaço de mil metros quadrados, que tinha uma lotação média de 20%. Apostamos em uma arquitetura inédita, com três ambientes: cadeiras projetadas de acordo com os padrões Fifa, uma tribuna e um lounge mais descontraído, onde as pessoas podem conversar com mais tranquilidade. Além disso, temos um serviço de catering completo, com comida da Applebee?s e bebidas da Ambev. Montamos um ambiente climatizado, com 26 TVs de plasma de 50 polegadas, em um espaço coberto. Há equipes exclusivas de limpeza e segurança, além de banheiros privativos.

ME ? A reforma estrutural obrigou vocês a diminuírem a capacidade de público do espaço?

MIN – Tivemos uma queda para 800 lugares por conta do lounge. Mas contratamos um topógrafo para avaliar a visibilidade do espaço, para que não tivesse nenhum ponto cego. Ele indicou que o espaço tem um nível de 98% de visibilidade. Levantamos o piso em 1,60m para melhorar a visão do campo. Os fiscais da Fifa passaram pelo estádio, aprovaram a obra e esse padrão pode até ser seguido em mais lugares.

ME ? Os serviços do espaço Unyco são baseados em parcerias com empresas. Vocês montaram essa estrutura e depois ofereceram ao São Paulo ou conseguiram a chancela do clube e depois procuraram marcas para investir no local?

MIN – Nós negociamos primeiro com o São Paulo. Conversamos por um ano e meio até convencer o clube sobre o modelo de atuação no estádio. A diretoria aprovou um contrato de três anos, renovável por mais três. Em paralelo, uma equipe comercial começou a procurar parceiros e interessados desde outubro do ano passado. Hoje, além de uma parceria com a ABIH, temos 22 empresas que já manifestaram interesse de compra.

São dois tipos de parcerias: precisamos fechar com empresas que investiriam no local e procurar outras que comprariam espaço para seus clientes. Precisávamos disso para ter comida, bebida, ar condicionado, segurança, limpeza e eletrodomésticos.

ME ? Qual é a importância dessa parceria com a ABIH?

MIN – São 300 donos de hotéis, cada um com seus serviços. Eles ofereciam pacotes de visitas ao Playcenter, à peça Miss Saigon, mas não ao Morumbi. O Rio de Janeiro tem o Maracanã como ponto turístico, mas isso não acontecia aqui. Hoje, 40% do nosso espaço deve ser preenchido apenas com hotéis. Temos 450 hotéis em São Paulo. Se cada um comprar dez ingressos, teremos um aproveitamento de quase toda a arquibancada inferior. Isso sem falar que o turista que vem a São Paulo gasta, mas o entretenimento é subaproveitado. Estamos falando apenas de hotéis de São Paulo, mas podemos ter um anel inteiro no Morumbi para uso do turismo.

ME ? Quando falou sobre o projeto do espaço Unyco, o São Paulo ressaltou a utilização do espaço fora dos dias de jogo. De que forma vocês pretendem viabilizar isso?

MIN – Nos dias de jogo, o espaço é inteiramente meu. Nas outras datas, existe uma sociedade entre o São Paulo e a minha empresa para a utilização. O que acontece hoje em dia é que as pessoas procuram muito o São Paulo para fazer eventos no Morumbi, mas não tinham um local adequado no estádio. Agora o clube vai repassar e nós faremos.

ME ? Vocês fecharam uma parceria para cessão de telas de plasma com a Panasonic, concorrente da LG, empresa que patrocina o São Paulo. Não existe um conflito de interesses nisso?

MIN – Na verdade, o espaço é completamente independente do São Paulo. Não preciso propagar o nome da empresa que se associou a nós, mas procuramos uma série de parceiros em cada segmento e a Panasonic foi a primeira que quis entrar com as telas de plasma. O São Paulo nunca nos obrigou a seguir as marcas dele.

ME ? O espaço Unyco prevê um investimento de R$ 10 milhões em três anos para construção da estrutura e estabelecimento do produto, mas não tem participação garantida no Morumbi se o estádio realmente sediar jogos da Copa do Mundo de 2014. Qual é o risco de vocês ou seus parceiros serem alijados do evento?

MIN – Nós temos contrato por três anos, com possível renovação por mais três. Se isso acontecer, já estaremos no período da Copa do Mundo. Durante a Copa, o estádio passa a ser da Fifa. O projeto do São Paulo já prevê que o anel inferior será corporativo, e eles vão pedir para a Fifa que dê prioridade às empresas que já investem no local. Mas a decisão final é deles.

ME ? O lançamento acontece com o produto fechado ou vocês ainda projetam alterações na estrutura de acordo com a receptividade? Qual é a previsão de faturamento?

MIN – Nós estamos lançando o Unyco como projeto, até porque não existe um histórico no país sobre camarotes com esse perfil. Vamos acompanhar e sentir a reação do público para depois fazer os ajustes necessários, mas o modelo é esse. Quanto ao faturamento, esperamos ter um total de R$ 4 milhões por ano. Também acreditamos que essa conta de R$ 10 milhões vai cair. Fizemos uma estimativa de gastos com aluguel, obra e custo operacional, mas acreditamos que seja possível diminuir isso com a experiência. Queremos fechar o contrato com um lucro de cerca de R$ 4 milhões.

ME ? A Copa de 2014, que será no Brasil, promoverá um crescimento no investimento em estrutura de estádios. Vocês pretendem utilizar isso para disseminar o conceito do espaço Unyco em outras praças?

MIN – Inicialmente, até pelo nome, não temos esse projeto. Queremos algo que seja realmente Unyco, diferente. Teremos um espaço muito parecido na Fórmula 1 neste ano, além de competições de tênis e pólo. Pensamos em algo exclusivo por modalidade.

ME ? Quais ações de marketing vocês pretendem fazer para atingir o público necessário para o funcionamento do Unyco?

MIN – Nós queremos difundir a ideia de algo próximo da realidade da Europa. Lá, só vai ao campo quem tem condições. Quem não tem vê os jogos no pay-per-view, ao contrário do que acontece aqui. O Ajax monitora os filhos das pessoas que frequentam o estádio. Quando esses garotos completam 18 anos, ganham um carteirinha de acesso por seis meses para desfrutar da arena e criar um hábito de ir àquele espaço. Eles recebem uma série de coisas, como sorteio de brindes e viagens. Nós pretendemos fazer algo nessa linha. Vamos criar promoções para entrada em campo, sortear a bola de alguns jogos, levar um campeão antigo para falar com o público no Unyco. Temos algumas ideias para fortalecer esse conceito.

ME ? Qual vai ser o preço para ingressos do espaço?

MIN – Teremos um ticket médio de R$ 200, com mínimo de venda de dez ingressos. As pessoas ficam um pouco assustadas quando veem um valor desses para um jogo de futebol, mas tem um serviço completo e isso valoriza o produto. O que não vale é as pessoas pagarem R$ 300 para ver Miss Saigon. Nós valorizamos a permanência. As pessoas me perguntam a que hora devem chegar no espaço, com medo do que vai acontecer. Eu digo que tudo estará funcionando desde a abertura dos portões. Imaginamos que as pessoas passarão uma média de cinco horas por lá.

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