Marcos Marinho

Após o caso de manipulação de resultados no futebol, que teve como principal personagem o ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho, o tema de profissionalização em torno dos árbitros passou a ser discutido com mais afinco. Especialistas acreditam que essa seria uma boa forma de impedir escândalos como o que aconteceu no ano passado.

O coronel reformado Marcos Marinho, que atualmente preside a Comissão de Arbitragem da Federação Paulista de Futebol (FPF), também acredita nesta teoria. Porém, o ex-responsável pelo policiamento nos estádios de São Paulo acredita que a atual legislação, além da falta de recursos, acaba sendo um entrave para a adoção de um modelo profissional entre os juízes de futebol.

“A profissionalização seria o ideal. Dentro do que o esporte demanda, o árbitro deveria ser mais bem preparado. Mas isso envolve custos muito altos. Além disso, a lei trabalhista atual também não ajuda muito”, afirmou Marinho.

Mesmo assim, a Federação Paulista implantou um sistema inédito no país para que haja uma melhor preparação de seu quadro de arbitragem. Entre as medidas está, inclusive, um estudo realizado pelo Incor que analisou aspectos físicos, biológicos e psicológicos dos 378 árbitros do estado. Desse total, dois não se enquadraram no perfil e foram encaminhados para que novos exames fossem feitos.

Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Marcos Marinho detalha outras medidas adotas pela FPF após o “caso-Edílson”, explica quais soluções podem ser adotadas para que haja um processo de profissionalização dos árbitros, e critica o rigor do Código de Ética & Bons Costumes dos Árbitros, reformulado pelo Sindicato dos Árbitros do Estado de São Paulo.

Leia a seguir a entrevista:

Máquina do Esporte: Após o escândalo que envolveu dois árbitros da Federação Paulista, quais medidas foram adotas pela entidade para evitar casos semelhantes?

Marcos Marinho: Houve uma mudança total na estrutura. Nós criamos a ouvidoria de arbitragem e a corregedoria. A ouvidoria é um local para denuncias contra árbitros, que podem ser feitas por qualquer um, além de ouvir também possíveis críticas feitas por dirigentes contra os árbitros. Uma vez feita a denúncia, a corregedoria é que será responsável pela investigação para apurar a veracidade desta denúncia. Além disso, a corregedoria também é responsável pela verificação de toda a documentação dos árbitros.

ME: E a questão do ranking?

MM: Essa é outra medida implantada neste ano. Criamos um regulamento, com um ranking de avaliação dos árbitros. Conforme o desempenho dentro de campo, a sua posição pode melhorar ou piorar. Além de servir para termos um controle dos nossos árbitros, também é usado como forma de estímulo aos juízes.

ME: Nos trabalhos de aperfeiçoamento da arbitragem também está o estudo encomendado ao Incor …

MM: Nós nos preocupamos com a parte técnica, a parte física, e estamos enfatizando um trabalho de monitoramento da parte psicológica também. Para isso, fizemos um convênio com o Incor, para que eles realizassem um trabalho junto ao nosso quadro. Foram feitos testes, entrevistas e pesquisas de campo para ver qual seria o perfil ideal dos árbitros. Em cima desse trabalho foram verificados aqueles que não deveriam continuar no quadro e aqueles que precisariam de um reforço.

ME: Algum árbitro foi barrado por conta de um resultado negativo no levantamento feito pelo Incor?

MM: Dois casos não foram recomendados. Eles estão fazendo novos exames e se for confirmado que eles não preenchem o perfil desejado por nós, eles serão desligados. Nós buscamos em nossos árbitros qualidades como liderança, capacidade de decisão, equilíbrio, personalidade forte e autoridade.

ME: A profissionalização dos árbitros é uma necessidade?

MM: A profissionalização seria o ideal. Dentro do que o esporte demanda, o árbitro deveria ser mais bem preparado. Mas isso envolve custos muito altos. Além disso, a lei trabalhista atual também não ajuda muito. Os clubes e a federação ainda não têm como fazer isso. Estamos oferecendo suporte, uma espécie de semi-profissionalização.

ME: A obtenção de um patrocínio não poderia ser uma solução para a falta de recursos para uma profissionalização?

MM: Esse é um assunto que nós ainda estamos discutindo. Por enquanto, o caminho que nós encontramos é dar suporte para que o árbitro possa trabalhar em paz. O que eu estou fazendo é criar uma blindagem em torno do árbitro, para que ele trabalhe tranqüilo.

ME: O que é preciso fazer para que se resgate a credibilidade do trabalho dos árbitros?

MM: Existe um trabalho de fiscalização. Eles sabem que hoje estão sendo monitorados. Temos um quadro de observadores, que analisa a desempenho deles. O árbitro que quiser continuar tem que trabalhar duro, estar em boa forma, pois cada performance é avaliada criteriosamente. é selecionar melhor os árbitros, aqueles que tem aptidão. Vamos separar o joio do trigo, pois queremos apenas aqueles que têm mais capacidade e aptidão.

ME: A federação tem planos de expandir o trabalho com os árbitros para o cenário nacional?

MM: Tenho contato com Edson Rezende [presidente da Comissão de Árbitros da CBF], e ele está vendo o trabalho e tirando as coisas positivas, como o ranking, por exemplo. Eu acredito que ele está de olho em todas as experiências que estamos promovendo e, quem sabe, ele possa até melhorar o que estamos propondo aqui.

ME: Como você vê a reformulação do “Código de Ética & Bons Costumes dos Árbitros”, organizado pelo Sindicato dos Árbitros do Estado de São Paulo?

MM: Nós temos um regulamento com normas de conduta ao árbitro. Porém, elas são mais ligadas à missão do árbitro, como chegar mais cedo à partida, preparação para uma viagem, como se portar frente ao dirigente, isso é mais importante.

ME: Mas no documento elaborado pelo Sindicato existem algumas determinações, como a que proíbe mulheres de fumar em público …

MM: Isso é um certo exagero. O árbitro precisa ter lisura, se comportar adequadamente como um cidadão. Por conta da profissão que ele exerce, o árbitro tem que ter atenção com o seu comportamento, tem que ter moral, coisas que outras pessoas não precisam, necessariamente, ter tanto cuidado.

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