Marcus Brier

O investimento necessário para a criação de uma nova categoria automobilística é considerável, e a falta de interesse da mídia pelo rali faz com que o superávit seja apenas um nome distante. Mesmo assim, a Peugeot criou, em 2003, sua copa própria. Apesar da distância do grande público, a política revelou-se um sucesso, e hoje virou uma ferramenta importante no marketing da empresa.

Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Marcus Brier, diretor da Peugeot Sport Brasil, conta que valores o evento agrega à marca. Para ele, a plasticidade, a ligação com a natureza e a busca constante por um evento justo são características da competição.

?Quando a gente faz o evento, a gente sempre busca a perfeição. Então, nós não queremos que um amigo do diretor tenha preferência na parte esportiva. Nós não podemos levantar esse tipo de suspeita. Por isso hoje nós somos tão bem avaliados?, disse Brier.

Atualmente, a Copa Peugeot é dividida em duas partes distintas. A competição propriamente dita é o rali de velocidade, que é complementada por um traçado especial, mais lento e cuidadoso, seguido por clientes convencionais, que levam seus carros para a prova. Esta versão da disputa é a regularidade, que funciona como o marketing de relacionamento do evento.

Para Brier, o potencial dessa ativação é tão grande que as duas competições podem tomar rumos distintos. Segundo o executivo, a procura das concessionárias pelo evento tem sido tão grande que a Peugeot já imaginava uma ampliação do circuito.

?Hoje eu tenho várias capitais querendo receber a prova, e a tendência é que a gente consiga atingir esse nível de independência. Normalmente, o público só vai à concessionária em momentos ruins, como quando o carro quebra. Com isso, nós estamos mudando essa história?, disse Marcus Brier.

Leia a seguir a entrevista completa:

Máquina do Esporte: Que valores a Copa Peugeot agrega para a montadora?

Marcus Brier: Os competidores conseguem formar uma imagem de forte ligação com o esporte. Eles são os nossos formadores de opinião, e por isso temos de tratá-los bem, já que juntos eles são o espetáculo. Já no regularidade o foco é o cliente final. São coisas bem diferentes. Ali, eu faço relacionamento, enquanto a velocidade traz a parte técnica, de força da marca para andar na terra, por exemplo.

ME: Que caminho vocês imaginam para o rali de regularidade no futuro?

MB: Hoje a regularidade está crescendo de uma forma que eu acho que ela vai se tornar independente. Lógico que a velocidade traz a mídia, porque é lindo, tem aquele contraste com a natureza. Isso gera muito interesse do público. Mas hoje, o rali de regularidade está em outro nível. Na primeira etapa deste ano, por exemplo, eu tive quase 100 carros disputando a prova. A tendência é que o evento chegue a outras capitais, porque as concessionárias perceberam a importância e querem que a gente leve o nosso circo para lá. O público está acostumado a ir à loja somente em momentos ruins, como quando o carro quebra. Com isso, nós estamos mudando essa história.

ME: E na parte da velocidade? Como fazer para garantir um evento de qualidade?

MB: Quando a gente veste o evento com o logo da empresa ele tem de ter qualidade. Por isso nós buscamos tanto a perfeição. Ele não pode, por exemplo, favorecer o amigo do diretor, porque se for assim ninguém vai querer participar. Por isso somos tão rigorosos com a estrutura e o regulamento esportivo. Nós já chegamos a desclassificar pessoas por uma pastilha de freios alternativa. Nós temos esse rigor para mostrar que o esporte é o mais importante.

ME: Voltando ao início da Copa Peugeot. Naquele momento, a promoção do modelo 206 era um dos objetivos da montadora?

MB: Olha, a fábrica começou no Brasil em 2001, e o 206 foi o primeiro carro produzido no Brasil, e sempre teve grande recepção entre as mulheres. Isso é ótimo, mas nós precisávamos também do público masculino. Nós tínhamos de mostrar os valores da marca. Era importante apresentar um carro mais forte, robusto e durável. Naquele momento, nós entendemos que o rali era a melhor coisa a ser feita. Hoje, isso evoluiu, e esses atributos vão entrando na cabeça do consumidor. É claro que hoje a Copa está em um nível bem mais elevado, mas essa colagem de valores ainda vale. Só que o espectro aumentou, e ela serve, por exemplo, para animar a rede de concessionárias a mudar sua percepção.

ME: Hoje a Peugeot tem alguns patrocinadores que ajudam a viabilizar o evento. Isso é fundamental para o projeto?

MB: Isso é imprescindível. É diferente você trazer um carro da Europa e colocar no Brasil. Mas queríamos que a categoria fosse acessível para formar novos pilotos e fortalecer o esporte. A acessibilidade financeira é a chave para isso. Por isso buscamos parcerias. Quem é o nosso público? São os executivos que encaram isso como hobby? Certo, então temos de reduzir os custos. Só que a logística é complexa e tem um custo muito alto. Como eles não vivem disso, temos de ajudá-los. Então, a gente se cercou de uma série de serviços. Hoje nós temos um suporte técnico aos pilotos. Vendemos todas as peças a preço de custo aqui, o que é um conforto a mais, porque o preço é subsidiado. Temos ainda um conselheiro técnico, que conhece o carro e ajuda as equipes a fazer o acerto. A Yokohama, por exemplo, traz toda uma estrutura de pneus. Outro parceiro fundamental é a Brazul, que e responsabiliza por todo o deslocamento do carro, que é sempre um custo considerável.

ME: E o que vocês fazem para facilitar a prospecção de patrocinadores para os próprios pilotos?

MB: Hoje nós não damos patrocínios, mas tentamos facilitar. O carro deles é mapeado, e eles tem alguns espaços em que o logotipo da empresa pode ser encaixado. Só que quanto mais parceiros nós temos, mais espaços do carro nós ocupamos.

ME: Vocês já possuem certo espaço na mídia, mas ainda não atingiram o patamar de necessidade, quando a imprensa se vê obrigado a cobrir os resultados de toda a etapa. Tem como mudar essa situação?

MB: Sempre dá para melhorar. O espaço para o rali no Brasil ainda é muito restrito. Salvo um ou outro evento é difícil. A gente briga com todo o resto pelo 1% que a Fórmula 1 e o futebol deixam. E para mim é difícil entender isso, porque o Brasil tem um potencial muito grande para esse esporte, que é muito plástico, muito bonito. Não entendo porque ele não tem um espaço maior. Eu tenho visto aumentar, mas ainda não temos espaço garantido.

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