Marcus Duarte

Mais importante do que conseguir manter a reestruturação do clube, é permanecer na Série A do Campeonato Brasileiro. Essa é a percepção de Marcus Duarte, executivo de marketing do Flamengo, para o futuro do clube na próxima temporada.

Na seqüência da “Entrevista da semana”, Duarte fala sobre o que espera do marketing do clube para o ano que vem, e afirma que, sem um estádio próprio, o Flamengo deixa de ganhar uma receita considerável. Leia a seguir:

Máquina do Esporte: O fantasma do rebaixamento atrapalha os planos de marketing do Flamengo?

Marcus Duarte: Um possível rebaixamento na análise de marketing tem que ser separado em dois segmentos. Um é a perda de visibilidade e força em suas propriedades. Pode perder um pouco no valor de patrocínio de camisa e na renovação do contrato de fornecimento de material esportivo. Obviamente que tudo isso tem uma percepção diferente do mercado. Por outro lado, com o time na Segunda Divisão, é possível, se o marketing trabalhar de forma correta, fazer uma série de outras ações promocionais com a torcida. Temos alguns exemplos no Brasil de clubes que foram rebaixados e isso despertou novamente a paixão da torcida.

ME: O que é mais importante hoje para o clube: evitar o rebaixamento ou se estruturar fora do campo?

MD: Não cair é fundamental. É o principal objetivo. O clube hoje já vive um trabalho de reequilíbrio das finanças desde 2003. O motivo da crise técnica do futebol hoje não é por causa da crise financeira, como no ano passado.

ME: Os maus resultados do futebol influenciaram negativamente a campanha do CT?

MD: Se o futebol estivesse melhor, o resultado da campanha seria melhor. Mas o balanço foi excelente. Superou em muito nossas expectativas. Pensávamos em vender 10 mil camisas e 11 mil pulseiras. Já vendemos mais de 90 mil pulseiras e as camisas estão se esgotando neste mês. O resultado foi mais do que atingido. E o produto de toda essa ação apresentaremos no dia 19.

ME: O que já está planejado em termos de marketing para 2006?

MD: Vamos apresentar em breve o projeto de televendas. Vamos criar uma ação para comemorar os 25 anos do título mundial. Vamos continuar o projeto das camisas históricas, que já foi lançado neste ano. Esperamos estar no ano que vem com nossos contratos de patrocínios principais, Nike e Petrobras, renovados. E tentar fazer com que o mercado volte a enxergar o Flamengo como uma empresa importante para se investir.

ME: Essa visão “pés nos chão” fica apenas no departamento de marketing ou está presente em outros setores do clube?

MD: Já temos alguns departamentos hoje com essa ciência. Aos poucos sentimos que existem pessoas querendo profissionalizar a gestão do clube. Trazer profissionais capazes realmente. Não diminuímos a nossa marca, mas também não desvalorizamos. Isso serve como um alerta interno. Precisamos nos organizar para voltar a ser o Flamengo da década de 80. Uma prova disso é nosso próprio departamento de marketing, que foi criado novamente em fevereiro. Em oito meses de trabalho muitas coisas foram feitas. Isso é resultado de uma equipe séria, honesta, profissional e voltada para resultado.Respeitamos a política do clube, mas não queremos nos envolver, nem tentar entendê-la. Nosso foco é vender da melhor forma a marca Flamengo.

ME: Como é a autonomia de trabalho do departamento de marketing no Flamengo?

MD: Hoje trabalhamos para quatro clientes internos: os sócios, o futebol, o remo e os esportes olímpicos. Todas as solicitações que vêm do clube nós estamos prontos para atender. Questionamos, damos sugestões, mas atendemos o que é pedido de uma forma geral. Pouco nos influenciamos aqui pela política do clube. Quando nos posicionamos de forma técnica, mostra que não veio para fazer política e sim para trabalhar. Estamos blindados com relação ao movimento político do clube.

ME: Quanto tempo é necessário para o torcedor comum perceber o trabalho de marketing feito no clube? Isso é factível?

MD: É factível, mas não vou negar que depende muito de algumas condições. É igual a um chefe de família que primeiro tem que se preocupar com os custos fixos e depois pensar em supérfluos. É uma questão de prioridade. Não vou negar que o torcedor comum, que não é sócio, obviamente tem que estar vivendo um momento de paz com o futebol para perceber os benefícios do marketing. Uma ação de televendas, uma promoção no estádio, entre outros. Quando o futebol vai bem e o marketing está bem estruturado, aí sim temos o cenário ideal para o torcedor perceber esse trabalho.

ME: A falta de um estádio próprio atrapalha o trabalho do marketing?

MD: Muito. Teríamos várias propriedades nossas. O relacionamento com os torcedores seriam definidos internamente. A ações com os patrocinadores e empresas seriam maiores. O São Paulo é o exemplo. Visitei o Morumbi algumas vezes e lá tem vários camorotes alugados por empresas. Isso dá muita liberdade para ações de marketing. Todas as empresas gostariam de ter sua marca associada a de um clube como Flamengo, sem nenhum ufanismo.

ME: Com relação aos direitos de transmissão, o departamento de marketing tem influência?

MD: Isso nunca foi tratado pelo marketing, ficou sempre com a presidência. Vamos ter uma noção se o Flamengo, assim como os outros clubes, ganha bem ou não depois do trabalho que está sendo desenvolvido para o Clube dos 13. Isso vai dizer à Globo e aos clubes se as cotas são justas. Sempre disse que a percepção se cada clube ganha muito ou pouco deveria vir da própria Globo. Não adianta eu querer um valor se o estudo de retorno da Globo mostra que eu mereço menos. Até hoje os argumentos para pedir mais ou menos nunca foram consolidados. Essa consultoria vai mostrar aos clubes números concretos. Acho que isso vai diminuir a chiadeira.

Leia o complemento desta entrevista.

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