Mari Leandrini

A notícia de que uma empresa baseada em São Caetano do Sul pagaria R$ 23 milhões por três anos e meio de contrato com o Vasco, substituindo a Reebok, foi o grande baque do mercado esportivo nesta semana. Relativamente desconhecida até então, apoiada somente em clubes com torcidas menores, a fabricante de material esportivo Champs ganhou notoriedade e cercou de polêmica o acerto com o clube carioca.

Entre as principais questões levantadas, estão o ?anonimato? da empresa, os altos valores do novo contrato e, também, a entrada de um novo concorrente no cada vez mais disputado mercado de fornecimento de material esportivo para clubes de futebol.

Na semana que passou, nem mesmo o acerto com o São Caetano aplacou a curiosidade das pessoas em conhecer e entender melhor a Champs, que ainda estaria próxima de acertar com mais três clubes das primeiras divisões do Campeonato Brasileiro para fortalecer sua marca no país.

O plano da empresa é ambicioso. Braço da Leandrini Indústria e Confecções Ltda., a Champs pretende se tornar a maior marca esportiva do país em cerca de cinco anos, e aposta no binômio marca-fábrica para alcançar seus objetivos.

?Somos uma empresa de mais de 50 anos, consistente e familiar. A marca surgiu porque sempre confeccionamos para os outros, e acabamos ganhando know how. Como temos essa estrutura, podemos oferecer muito mais agilidade e diversidade de produtos?, diz Mari Leandrini, dona da fabricante, em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte.

As propriedades estariam atraindo mais clubes para o rol de patrocinados da Champs, que atualmente conta com 19 agremiações espalhadas pelo Brasil e com o Ibiza, da Espanha. Segundo os executivos do Grande ABC (a empresa é sediada em São Caetano), dois clubes da Série A e um da Segunda Divisão estão próximos de um acordo. Os executivos não admitem, mas o Vitória está negociando e pode acertar nos próximos dias.

?Eu não posso falar sobre isso. Em 2008 tive procura de dois clubes grandes, mas não pude nem negociar porque já tinha me comprometido com outros, e tenho de manter um planejamento para poder me sustentar?.

E os altos valores podem ser os grandes atrativos. Empolgada com o mercado esportivo atual, cujo nível financeiro é considera baixo, a Champs promete crescer ainda mais em 2009.

Leia a seguir a íntegra da entrevista com a executiva:

Máquina do Esporte: Como surgiu a Champs e quais são as ambições da marca?

Mari Leandrini: Respeitando todos os nossos concorrentes, a tendência da marca é crescer cada vez mais. Queremos fechar com o maior número de times possíveis. Somos uma empresa de mais de 50 anos, consistente e familiar. A marca surgiu porque nós sempre confeccionamos para os outros. Com isso ganhamos um know how muito grande e daí surgiu a Champs. Hoje nós estamos atendendo bem ao mercado, tentando ganhar nosso espaço e conseguimos esse ápice com o Vasco. Isso vai servir para que os clubes vejam que aqui no Brasil tem produtos com a mesma qualidade do exterior.

ME: Quais produtos a marca oferece atualmente?

ML: A marca é focada no futebol, mas tem uma linha de academias, de assessórios esportivos como bolas e mochilas. Nós trabalhamos muito com artigos de prática de futebol e ainda com uma linha de passeio.

ME: E o patrocínio a clubes de futebol, especialmente os grandes, é o caminho para que a marca consiga o espaço desejado?

ML: Com certeza. Uma fusão de marcas, entre você e o clube, alavanca muito a imagem. No futebol é isso. Tem de atender bem, aplicar uma logística adequada, tratar bem o torcedor. Para ser arrojada e agressiva, queremos ser a primeira marca nacional. A projeção nossa é de quatro a cinco anos. Isso porque hoje nós somos, ao mesmo tempo, marca e fábrica, o que nos dá uma agilidade muito grande.

ME: E o que esse binômio marca-fábrica pode trazer de diferencial para a Champs?

ML: Sem dúvida no atendimento. O presidente ou o departamento de marketing de um clube vão querer fazer uma camisa comemorativa, e nós demoramos muito pouco tempo para atendê-los. A viabilidade e a rapidez é o diferencial. Além disso, a grade contratual é toda entregue ao clube. Assim, em seis meses todo o material previsto em contrato está pronto.

ME: Essa aposta, porém, não é inédita. Hoje existem outras fábricas no Brasil que também contam com essa propriedade para ganhar espaço. O que a Champs oferece de diferencial em relação a essas empresas, que já não sofrem com burocracia?

ML: Nós vamos trabalhar com todo o respeito, mas vamos aproveitar onde deixarem o espaço. Nós apostamos em tecnologia, entrega e atendimento. Isso preza muito hoje em dia. Os clubes sofrem muito com marcas que demoram pra entregar o produto, não pagam os royalties justos.

ME: E qual é o papel do Vasco nisso tudo? Ele é uma mola propulsora?

ML: Como você disse, o Vasco é um grande clube e em qualquer divisão ele vai alavancar as vendas, assim como vários outros que foram para a Série B, como Grêmio, Botafogo, Palmeiras e Atlético Mineiro. Além de sermos patrocinadores, nós vamos ser parceiros. E temos pé-quente. Normalmente conseguimos o acesso com vários clubes pelo país. Neste ano foi assim com o Avaí e o Guarani. E nós estamos torcendo muito para que o Vasco consiga as vitórias nas próximas rodadas e os outros clubes também ajudem.

ME: O que é mais importante no planejamento da empresa, grandes como o Vasco ou os clubes menores, com visibilidade e demanda inferiores?

ML: Com certeza são as grandes equipes. Nós temos filhos pródigos dentro de casa, como o Bragantino, por exemplo. Eu jamais deixaria o Bragantino porque para mim ele é tudo. O Marcos [Chedid, presidente do clube] é uma figura muito importante para nós. Não deixaria os clubes pequenos, mas a intenção é fazer um filtro, e a idéia é trabalhar com esse modelo.

ME: Vocês têm pretensões de atuar em outras modalidades?

ML: Não. Sou uma pessoa apaixonada pelo futebol. Sempre gostei e jogo futebol. Por isso foquei minha empresa só para o futebol.

ME: O acordo feito com o Vasco é um dos mais rentáveis do Brasil. Dá para dizer que a Champs briga com as atuais líderes não só como marca, mas também financeiramente?

ML: Ela tem suporte total. Um dinheiro lícito. Dá para brigar sim. É que o mercado estava muito aquém do que as marcas estavam oferecendo. O futebol está crescendo. Hoje você já vê, por exemplo, mulheres e crianças no estádio, pessoas usando roupas do time em todo lugar. Todo mundo quer camisa de futebol. Só que as marcas se esqueceram de elevar o clube nesse processo. O Corinthians, por exemplo, merecia muito mais e o Flamengo também, por serem as maiores marcas do Brasil.

ME: Esse poderio pode favorecer na briga pelos principais clubes?

ML: Pode sim. Eu tive a procura de dois clubes grandes nesse ano. Só que, pelo meu planejamento, eu tive de deixar para o próximo ano, até para poder honrar meus compromissos. Todo mundo vai ter de olhar o mercado com outros olhos.

ME: E qual o peso do fator desconhecimento da marca? Muitos clubes rejeitam o negócio por se tratar da Champs? Existe esse preconceito?

ML: Existe sim. Mas tudo bem. O Bill Gates começou em uma garagem com o Windows, e outras marcas também começaram pequenas. Uma Nike foi surgindo aos poucos, pedindo espaço no mercado. Só temos de entrar no mesmo caminho. Pode incomodar? Pode. Mas a minha empresa trabalha com muito respeito no mercado.

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