A Copa do Mundo de 2014 está cada vez mais próxima do mercado brasileiro. Sempre relevante no mundo do futebol, o país cresce à medida que a organização do evento mais importante da modalidade vai tomando forma. Na última semana, a parceira mundial de licenciamentos veio a São Paulo, trouxe o cobiçado troféu da competição e deixou a capital paulista com a promessa de mais de 200 lojas especiais e pelo menos um escritório.
Apesar de planejar suas ações especificamente para a Copa de 2010, que será realizada na África do Sul, o Global Brands Group não esconde que a atração pelo Brasil é maior que em outros tempos. Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Mark Matheny, CEO da empresa, falou sobre a importância do país para a Fifa.
?O Brasil está no grupo de países que merecem uma atenção maior da nossa parte. Nós passamos mais tempo por aqui desenvolvendo produtos locais que em outros lugares?, disse o executivo.
A poucos meses do início do evento, a Global Brands trabalha até o calendário da competição. No cronograma da empresa, três fases distintas merecem uma atenção especial, tanto em termos de desenvolvimento de produtos específicos como forma de abordagem para o consumidor.
A primeira é a atual, que é tratada como preliminar e foca produtos mais genéricos, que utilizam as imagens do troféu e da mascote da Copa. Na segunda, que começa com o sorteio dos grupos, a Global Brands aproveita a proximidade do Natal e trabalha com as linhas nacionais, para, no terceiro momento, vender absolutamente tudo.
?De março a julho a gente é o nosso melhor momento. E mesmo depois do Mundial, nós podemos continuar aproveitando o potencial dos campeões, o que representa quase uma quarta fase?, disse Matheny.
Leia a íntegra da entrevista a seguir:
Máquina do Esporte: Como a crise financeira pode afetar o trabalho de vocês?
Mark Matheny: Eu não posso falar pela Fifa e nem pelos parceiros da Fifa. Eu não sei o impacto que vai ter, se é que terá algum, mas a vantagem que temos em relação a outras marcas é que as pessoas estarão interessadas na Copa do Mundo. Nós seremos menos afetados. Se você quiser comprar alguma coisa relacionada à Copa do Mundo, será produto nosso. E essas coisas não são as primeiras opções de ninguém, porque não são tão caras. As mais caras é que serão afetadas pela crise. Em termos de esporte, vai ter um impacto em alguém, mas não será tão difícil para nós. Mas estamos a mais de um ano do evento, então é difícil saber alguma coisa.
ME: Como funciona o sistema de parcerias de vocês? Vocês regionalizam a produção ou na maioria das vezes tem parceiros globais?
MM: Nós temos mais parceiros do aquele número que apresentamos para vocês [nove]. Ali, nós só tentamos dar um exemplo. Nós combinamos parceiros globais com alguns regionais, e vamos pensando no nosso trabalho dessa forma, encaixando os acordos conforme a nossa necessidade.
ME: E de que forma vocês trabalham com a gama de países com os quais vocês podem trabalhar? Vocês atuam em todos ou fazem uma escolha?
MM: Nós estamos focados em diversas áreas. Nós desenvolvemos as guias mestras da marca e também os produtos. Em alguns países, nós localizamos a ação ou passamos mais tempo trabalhando com produtos especiais, como o Brasil, mas temos uma linha global que é repassada para todo o mundo. México, Argentina, Estados Unidos e Itália, por exemplo, são países com potencial. Temos também a Ásia, com Índia, China e Japão. Todos esses países somam menos de 20 nações. Nós fazemos os nossos produtos globais chegarem a todo mundo, mas temos um plus local em algumas pequenas regiões.
ME: Na apresentação de vocês foi possível perceber a intenção de uma exploração maior do potencial de São Paulo. Existe a possibilidade de a empresa abrir uma filial aqui?
MM: Nós temos um plano, mas ainda não temos um escritório. Agora, deve ser aqui, porque eu não nos vejo implantando um escritório em nenhum outro lugar, e bem antes da Copa do Mundo de 2014.
ME: Como é feita a apresentação do produto ao consumidor? Existem lojas físicas oficiais da Fifa pelo mundo ou isso chega em outros estabelecimentos?
MM: Nós desenvolvemos os produtos e os lançamos em algumas lojas. Nosso escritório central é em Cingapura, e a partir dali nós controlamos todo o projeto. Existem dois tipos de loja, a oficial da Fifa, que propaga a cultura do futebol, e a loja de eventos, como a da Copa do Mundo. Nós teremos varias dessas últimas espalhadas pelo mundo, e certamente algumas no Brasil. É importante dizer que depois do evento elas fecham novamente, diferentemente das lojas oficiais da Fifa, que ficam para sempre.
ME: E vocês tem planos de trazê-las para o Brasil?
MM: Nós teremos cerca de 200 ou 300 lojas de evento, e também pretendemos trazer uma loja oficial. É um dos motivos da nossa presença aqui hoje.
ME: A Fifa lançou uma estratégia diferente em 2006, que foram as fanfests. Como vocês trabalham com essas situações?
MM: Nós também temos os direitos de merchandising sobre elas. Nós faremos parte do programa de lançamento da Fifa, mas ainda estamos trabalhando em cima disso. A Fifa está tentando expandir esses eventos. Agora, isso só compete a eles. Nós só estamos os apoiando.
ME: Na apresentação de vocês, falou-se em três períodos distintos em um calendário de Copa do Mundo que seriam fundamentais. Você pode explicar isso melhor?
MM: Bom, nós temos uma gama de produtos que podemos vender imediatamente, como troféus, mascotes e coisas do tipo. A linha nacional também, porque tem as cores do país combinada com o emblema da Fifa. As pessoas que apoiam o Brasil vão querer comprar aquilo. Isso pode ser vendido de agora até o fim do evento. A segunda fase começa quando você vai chegando mais perto, a partir do fim desse ano, quando os grupos forem escolhidos. Esse é o verdadeiro pontapé inicial, inclusive para o merchandising. É logo antes do Natal, que é uma ótima época para vendas. A grande fase, lógico, vai de março até o fim de julho, quando nós podemos vender simplesmente tudo. Esse é o momento em que as lojas de evento serão abertas. E isso vai, inclusive, além da Copa. Nós podemos manter os produtos, por exemplo, no país campeão, o que representaria quase uma quarta fase.
ME: Na segunda fase, quando você está muito perto do começo, já tem um número menor de países envolvidos, porque eles já foram selecionados. Isso reduz o seu mercado?
MM: Cada país tem uma mentalidade diferente. Existem muitos que não se classificam para a Copa do Mundo, que só tem 32 nações. Nós temos o direito de vender, por exemplo, uma série de produtos na Ásia, que não tem tantos participantes assim. Lá, eles são fãs do Brasil, do México. Eles são apenas fãs de futebol. Você vive em um país que está sempre entre os primeiros do futebol, só que lá eles tem de ter um segundo time. Muita gente na China, por exemplo, é fã do Brasil, e nós podemos usar isso.
ME: No histórico de marketing das Olimpíadas, o COI teve, em determinado momento, que negociar com todos os Comitês Olímpicos Nacionais para poder fazer um programa comercial. Você sabe se a Fifa teve de passar por isso também?
MM: É totalmente diferente. As Olimpíadas dividem o poder com os anéis, com os Comitês Nacionais. A Fifa tem todos os direitos sobre a Copa do Mundo no planeta inteiro. É claro que não os da seleção nacional. Você não pode usar o logo, mas as cores e a bandeira tudo bem. No caso do Brasil, por exemplo, nós fazemos camisas amarelas com o emblema da Fifa, mas não com o da CBF. É uma coisa mais de lifestyle, e não técnico. Não é o kit oficial do Brasil, que é da Nike. Isso não é o nosso trabalho.
ME: Vocês podem trabalhar com os parceiros oficiais da Fifa? Existe essa possibilidade?
MM: Varia muito. Nós temos essa possibilidade, mas funciona como uma colaboração. Nós trabalhamos, por exemplo, com a Adidas em uma série de ações para a popularização do futebol. Mas cada um tem seu próprio negócio.