Dida, Digão, Cafu, Serginho, Emerson, Kaká, Alexandre Pato e Ronaldo. Com mais três jogadores, o Milan conseguiria montar um time completo – e de qualidade – apenas com os atletas nascidos no Brasil que integram seu elenco.
A ligação entre o atual campeão da Europa e o futebol brasileiro é antiga, com identificação e interesse mútuos. Em função disso, o clube italiano estreitou suas relações com o país também fora de campo, ao contratar a Golden Goal Sports Ventures para ser sua representante oficial em território verde e amarelo e em toda a América do Sul.
Um dos mentores desse trabalho é Mauro Corrêa, diretor-executivo da empresa. Aos 31 anos, o paulistano revela em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte que a parceria com o time de Milão aguçou a curiosidade de algumas equipes nacionais, interessadas em aplicar o mesmo modelo de gestão e de marketing no país.
“Em função da visibilidade do trabalho realizado com o Milan nós temos sido procurados por vários clubes locais para realizar ações semelhantes. Existe um potencial enorme de negócios a ser desenvolvido localmente, e acreditamos muito na indústria esportiva brasileira”, afirma o executivo, que tem uma visão otimista sobre o futuro desse mercado no Brasil:
“Alguns fatos são importantes de serem destacados: os Jogos Pan-Americanos e ao que tudo indica a Copa do Mundo 2014 impõem novos desafios e abrem muitas perspectivas de novos negócios para a indústria em geral. Existe também uma convergência da indústria esportiva com a indústria do entretenimento, e isso também cria novas perspectivas”, destaca Corrêa, que faz questão de ressaltar a atuação de sua empresa na gestão esportiva, e não só no marketing.
Nesta entrevista, Mauro Corrêa fala sobre a ligação com o ex-jogador Leonardo e os trabalhos realizados com a Fundação Gol de Letra, além de contar sobre a atuação da empresa na gestão de camarotes e de traçar um panorama sobre o mercado brasileiro de marketing esportivo.
Leia a seguir a íntegra da entrevista:
Máquina do Esporte: A Golden Goal é a representante oficial do Milan e do Barcelona no Brasil. Como esses clubes chegaram até a empresa?
Mauro Corrêa: A Golden Goal é a representante oficial do Milan no Brasil e na América do Sul. Os direitos de representação do Barcelona na América Latina pertencem ao ex-jogador Bebeto, que desenvolve os trabalhos à frente da 94 Sports, sua empresa. Por sua vez, a 94 Sports trabalha em conjunto com a Golden Goal no desenvolvimento da plataforma de negócios do clube espanhol no Brasil. Organizamos recentemente um seminário local apresentando as propriedades disponíveis para patrocínios locais, semelhante com o que fizemos com o Milan no passado. O trabalho com o Milan, que vem gerando excelentes resultados para o clube, traz por sua vez uma nova onda de relacionamentos com outros clubes que querem desenvolver negócios na América Latina e vêem na Golden Goal uma boa plataforma para realizar parcerias e desenvolver as marcas por aqui.
ME: Em compensação, o portfólio da empresa não tem nenhum clube brasileiro. Qual a razão da aposta pelo mercado internacional?
MC: Temos ótimos relacionamentos e alguns projetos em desenvolvimento com alguns dos principais clubes brasileiros, e que nos possibilitarão a introdução de alguns conceitos inovadores no mercado brasileiro em um futuro próximo. Mais do que isso, os clubes estrangeiros, como o Milan e o Barcelona, também se interessam pelas práticas de gestão realizadas aqui para poderem traçar paralelos e, futuramente, certas linhas de intercâmbio. Por outro lado, ao trabalharmos com grandes clubes estrangeiros, podemos aportar novos conhecimentos ao mercado brasileiro, e futuramente agregar mais valor à gestão dos clubes locais, passando por todas as atividades que compõem a gestão de uma organização esportiva, e que vão além do marketing esportivo. Trabalho esse que tornem as propriedades e os produtos da indústria esportiva mais valorizados. Esse é o nosso posicionamento e a nossa proposta de valor.
Ao que parece, a relação com o Milan é mais estreita, com o desenvolvimento de vários projetos no Brasil. Parte dessa proximidade deve-se à ligação da Golden Goal com o ex-jogador Leonardo?
MC: A relação com o Milan é de fato muito estreita, pois começou antes mesmo da abertura da Golden Goal. Iniciamos com o Milan Junior Camp, programa de férias temático de futebol no qual o Milan é líder no mundo – hoje mais de 11 mil crianças participam em mais de 25 países. O Brasil, em dois anos, já é responsável por 10% desse contingente, e alcançamos seis cidades em 2007. Além disso, trouxemos o Milan Park ao Brasil, que contou com mais de 20 mil visitantes em 90 dias de evento, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Aos poucos, nosso planejamento estratégico é migrar do lado do entretenimento puro para um programa com aspectos mais técnicos. Para o segundo semestre de 2007, por exemplo, lançaremos a versão localizada do website do Milan no Brasil – além da tradução que já é feita para o português, teremos conteúdo local para a comunidade brasileira, como chats, fóruns, e-commerce, entre várias outras novidades – sempre com conteúdo oficial. Os próximos passos incluem a criação de centros de intercâmbio de técnicos e possivelmente alguns aspectos do Milan Lab. O relacionamento com o Leonardo é ótimo, mas as duas coisas foram se desenvolvendo de modo paralelo e independente. No final tudo acaba se complementando.
ME: Nessa gama de programas relacionados ao time italiano, destacam-se o Milan Camp Junior e o Milan Park, focados no público infantil e na área de entretenimento, ambos com sucesso. Por qual razão as equipes nacionais não investem nesse tipo de projeto?
MC: Acho que existem algumas razões que dependem da particularidade de cada clube brasileiro. Em geral, uma característica que limita o potencial dos clubes por aqui é a ausência de departamentos profissionais de marketing que permitiram dar foco às ações e imprimir muito mais velocidade na sua implementação. Boas idéias existem. Outro ponto importante de mencionar é que o Milan Junior Camp, por exemplo, é um projeto de complexidade de implementação razoavelmente alta, e com baixíssima margem ao clube. No Brasil, percebemos que os clubes ainda estão em um estágio anterior, focando sua energia em projetos e iniciativas de maior valor agregado, o que é natural.
ME: Existe a possibilidade de a Golden Goal, no curto prazo, ampliar a atuação para times brasileiros?
MC: Sim, e já estamos trabalhando nesse sentido. Em função da visibilidade do trabalho realizado com o Milan nós temos sido procurados por vários clubes locais para realizar ações semelhantes. Existe um potencial enorme de negócios a ser desenvolvido localmente, e acreditamos muito na indústria esportiva brasileira.
ME: Atualmente, a Golden Goal gerencia vários camarotes em estádios do país, como o Golden Box, no Maracanã, e a Sala Raí, no Morumbi. Esse é um mercado em expansão dentro do futebol brasileiro?
MC: Em franca expansão. Basta ver a evolução nos últimos três anos. Cubes como São Paulo, Palmeiras, Santos, Internacional e Grêmio são alguns dos que lançaram seus camarotes nesse período e tiveram excelentes resultados. Descobriram o mercado de hospitalidade corporativa no esporte no Brasil e isso é muito bom, pois, diretamente, gera para os clubes uma receita securitizada e, indiretamente, uma série de outros negócios. Interessante notar que o mercado de hospitalidade corporativa no Brasil tem características únicas, pois os projetos arquitetônicos permitem um grau de liberdade único em comparação com os padrões europeus e norte-americanos. Isso permite às empresas desenvolverem propostas ainda mais customizadas aos seus clientes e parceiros de negócios, maximizando o retorno. Por fim, com a rápida expansão do mercado, hoje nos deparamos com um novo desafio: uma segunda onda de inovação, como espaços de múltiplos usos. A Sala Raí nasce com essa preocupação e com um conceito revolucionário.
ME: A empresa planeja trabalhar, nessa área, em outros centros esportivos?
MC: Sim, pretendemos. Com o know-how que adquirimos nos últimos dois anos podemos oferecer uma série de serviços aos administradores dos estádios e aos usuários de camarotes, desde uma consultoria para definição da precificação de venda dos camarotes, passando pelo processo de captação até a operação.
ME: Qual é a função da Golden Goal dentro da Fundação Gol de Letra? Qual a importância para a agência de atrelar sua imagem a um dos projetos sociais ligados ao esporte mais bem sucedidos do país?
MC: Hoje, temos uma ligação institucional com a Fundação Gol de Letra e passamos a organizar a partir desse ano o Torneio Gol de Letra, uma excelente ferramenta de relacionamento corporativo. Introduzimos a edição do Rio de Janeiro e de São Paulo. Além de proporcionar às empresas a chance de jogarem em palcos sagrados como o Maracanã e o Morumbi, permitiremos a possibilidade de trocarem passes com grandes ídolos, do presente e do passado. Além de estreitar o networking e terem benefícios fiscais com as doações, as empresas participantes contribuem para projetos sociais importantes como os projetos da Fundação Gol de Letra nas comunidades do Caju (RJ) e da Vila Albertina (SP).
ME: Em linhas gerais, como está o mercado para as empresas de marketing esportivo no Brasil?
MC: Na verdade, não somos uma agência de marketing esportivo, mas sim uma empresa de gestão esportiva. Nosso trabalho vai além da adequação de propriedades de marketing ligadas ao esporte a investidores. Mais do que isso, trabalhamos em diferentes projetos vários aspectos ligados a gestão propriamente dita, indo desde o planejamento estratégico até a estruturação de modelos financeiros e de financiamento ligados ao esporte, passando pelo marketing e vaias outras atividades. Sobre o mercado esportivo no Brasil, o vemos em geral muito promissor, com muitas oportunidades. Alguns fatos são importantes de serem destacados: os Jogos Pan-Americanos e ao que tudo indica a Copa do Mundo 2014 impõem novos desafios e abrem muitas perspectivas de novos negócios para a indústria em geral. Existe também uma convergência da indústria esportiva com a indústria do entretenimento, e isso também cria novas perspectivas. Além disso, ao olharmos melhores práticas em outros mercados, é fácil percebermos que há muito a ser feito por aqui, e isso é uma excelente notícia a todos na indústria: veículos de mídia, clubes, federações, atletas.
ME: O futebol continua no centro das atenções, inclusive na Golden Goal. Para as empresas que atuam no ramo, não existe o risco de saturação?
MC: No momento, ousamos pensar que a saturação ainda está distante, pois o mercado de gestão esportiva no Brasil ainda encontra-se em uma fase incipiente, seja pelo número pequeno de empresas existentes seja pela gama de oportunidades que existem. Todo mundo concorda que o futebol brasileiro ainda tem muito o que evoluir. Tanto nas estruturas de gestão quanto nos potenciais de receita. Então não há como pensar em saturação enquanto este mercado não atingir o seu potencial total.