Neusa Navarro Félix

A morte de Aurélio Batista Félix, em março do ano passado, chocou o automobilismo brasileiro e colocou em xeque o futuro da Fórmula Truck, criada por ele em 1987. As dúvidas, no entanto, se dissiparam quando sua esposa, Neusa, decidiu assumir o comando e iniciar uma nova era na categoria.

Sob a direção feminina, a Truck rumou pela primeira vez para fora do Brasil e deu a largada para o processo de internacionalização de sua marca. Buenos Aires foi o primeiro destino. O Chile caminha para ser o próximo. “Com certeza vamos levar para outros países. O Chile pode ser um destino sim, mas ainda não temos os lugares definidos. E como não tem nada certo ainda, prefiro não divulgar, gosto das coisas bem definidas”, afirma Neusa Navarro Félix, viúva de Aurélio e atual presidente da Fórmula Truck.

Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, a dirigente faz mistério sobre os valores que rondam a competição, fala sobre as dificuldades encontradas para manter o controle após o falecimento do marido e avisa: a categoria não está à venda. “Eu não tenho o intuito algum de vender a Truck. A família está toda envolvida, nossos três filhos estão trabalhando aqui. Me sinto responsável por continuar o sonho do Aurélio”, enfatiza Neusa.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

Máquina do Esporte: A F-Truck, tradicionalmente, lota os autódromos por onde passa. Como a categoria consegue reverter a presença de público em renda?

NF: O nosso público é fiel. A categoria não é só corrida, é um show. Temos várias opções de entretenimento em cada etapa. As pessoas ficam das 9h às 15h nos autódromos. E assim, além de cativar o torcedor, a gente consegue criar uma rede de consumo.

ME: Atualmente, quais sãos as fontes de receita da categoria?

NF: Nós faturamos com bilheteria, patrocinadores, venda de hospitality center nos autódromos, além das lojas com a nossa linha de licenciados, que inclui bonés, camisetas e todo tipo de souvenir da Truck. Mas não posso contar o quanto nós faturamos, isso é segredo. O movimento é grande, mas a gente gasta muito também. Prefiro não falar sobre valores.

ME: Depois da morte do Aurélio, houve alguma queda nos ganhos? Alguma empresa deixou a categoria?

NF: A Bridgestone diminuiu o aporte, mudou a categoria de patrocínio, mas não sei se teve relação direta com o falecimento do Aurélio. Algumas empresas saíram, outras chegaram, e a gente conseguiu manter o mesmo nível financeiro de anos anteriores.

ME: A Truck sempre foi uma categoria muito identificada com o seu criador. Nesse sentido, quais foram as principais dificuldades encontradas para gerir a competição depois do desaparecimento do Aurélio?

NF: A ausência dele foi algo difícil de suprir. Foi complicado pensar que eu teria de assumir tudo o que ele fazia. Ao mesmo tempo, foi fácil pegar o comando porque ele deixou uma estrutura montada, cada pessoa está no lugar certo, na função certa. O negócio estava redondo, então só fui seguindo o organograma. Todos os funcionários se uniram e colaboraram para que a gente passasse bem por essa fase.

ME: Entre os rumores que surgiram nessa fase, está a venda da categoria. A Nascar, de fato, esteve prestes a adquirir a Truck?

NF: Algumas pessoas procuraram a gente, sim, mas prefiro não revelar os nomes. Acontece que eu não tenho o intuito algum de vender a Truck. A família está toda envolvida, nossos três filhos estão trabalhando aqui. Me sinto responsável por continuar o sonho do Aurélio.

ME: Uma das principais características da sua gestão é a internacionalização da marca Truck. A primeira corrida fora do Brasil foi disputada na Argentina no ano passado e voltará a acontecer neste ano. Existe algum projeto para levar a categoria a outros países, como o Chile, que já foi especulado para imprensa?

NF: Com certeza vamos levar para outros países. O Chile pode ser um destino sim, mas ainda não temos os lugares definidos. E como não tem nada certo ainda, prefiro não divulgar, gosto das coisas bem definidas. Quando divulguei que nós íamos para a Argentina é porque já estava tudo assinado.

ME: Falando em Buenos Aires, a prova está marcada para setembro, em plena epidemia da gripe suína. Existe alguma possibilidade de a corrida não acontecer?

NF: Só vamos cancelar se houver alguma orientação do Ministério da Saúde nesse sentido. Eles [competidores da Top Race, categoria argentina parceira da Truck] estiveram em São Paulo no fim de semana com todo um aparato médico, orientados para evitar o contágio. Vamos fazer a mesma coisa quando formos para Buenos Aires, mas ainda não iniciamos as ações de prevenção com nossa equipe.

ME: Quem acompanha automobilismo, normalmente, é fã de velocidade, algo que não é encontrado nas corridas da Truck. O público que segue a Truck é diferente de quem vai a outras categorias?

NF: Já teve isso no início, falavam que era uma categoria para caminhoneiros. Isso mudou muito e os amantes do automobilismo passaram a freqüentar nossas corridas. E isso mudou não apenas no que se refere ao público, mas também para pilotos. Temos sido procurados por vários pilotos jovens, é o início do processo de renovação.

ME: Qual é a situação atual do contrato com a Bandeirantes para a transmissão das corridas? NF: Nosso acordo vai até 2012 e está tudo tranquilo por enquanto. Temos um programa próprio no BandSports, chamado Truck Show, que vai ao ar toda sexta-feira, às 10h. A Band é um canal esportivo, estamos satisfeitos com a nossa exposição lá.

ME: A presença da Débora Rodrigues, que ganhou destaque por fazer parte do Movimento dos Sem Terra (MST) e chegou a posar para a Playboy, ajudou na divulgação da categoria? NF: Todas as pessoas que são famosas ajudam a divulgar qualquer esporte ou evento. Até hoje as pessoas perguntam se a Truck é onde corre a Débora. Ela foi muito importante no início, não só por fazer parte do mundo das celebridades, mas por ser a única mulher no grid.

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