Paulo Mundel

O corintiano é roxo. E o flamenguista?

No próximo dia 24 de março o clube carioca vai lançar para a imprensa o seu terceiro uniforme, que três dias depois chegará às lojas. A camisa, que será usada em jogos do clube durante a temporada, é mais uma iniciativa dos grandes clubes do país em criar uniformes que fogem das suas cores tradicionais.

Desde o final do ano passado, quando a camisa 3 do Palmeiras virou uma febre de vendas e sinônimo de inovação no marketing do futebol, os clubes começaram, juntamente com seus fornecedores de material esportivo, a buscar novidades no design do uniforme para seu torcedor.

No final do mês de janeiro, o Corinthians apresentou a camisa roxa, simbolizando a paixão pelo clube da segunda maior torcida do país. Há poucas semanas o Santos mostrou o uniforme inteiro azul, que entrou em campo na última quinta-feira contra o Mirassol. E, agora, será a vez de o Flamengo mostrar uma camisa diferente.

A inovação na produção de uniformes é um desejo antigo dos fornecedores, sedentos por aumento na vendas e reconhecimento como marca de vanguarda. Além disso, a terceira camisa permite que a marca estreite ainda mais a relação com o clube.

Essa é a visão de Paulo Mundel, diretor de futebol da Nike do Brasil. Em entrevista à Máquina do Esporte, o executivo conta que a idéia de fazer a camisa diferente é conseguir contar uma história do clube patrocinado e, com isso, conquistar ainda mais o torcedor.

?Com as camisas 1 e 2, que são as tradicionais, a gente não consegue contar uma história, não consegue fazer essa conexão direta. A camisa 3 nos permite contar essa história. Isso é muito legal?, diz Mundel, que descarta porém criar tanta novidade assim numa das mais tradicionais camisas do mundo, a da seleção brasileira.

Leia a seguir a entrevista com o executivo.

Máquina do Esporte: De onde surgiu a idéia de criar uma camisa roxa para o Corinthians?

Paulo Mundel: O objetivo é oferecer ao torcedor corintiano uma homenagem. É prestar uma homenagem ao corintiano roxo. Ainda mais nesse momento de superação do clube, é importantíssimo que a gente demonstre esse carinho que é o mesmo carinho que a torcida está demonstrando.

ME: Patrocinar dois clubes grandes traz sempre um problema, que é o ciúme de um clube em relação aos lançamentos feitos para o outro. A Nike pretende fazer algo parecido para o Flamengo?

PM: Claro. Nós tratamos de forma personalizada cada clube. Então a história do Corinthians está diretamente ligada ao momento que o clube atravessa, e o que nós vamos contar na camisa três do Flamengo será com certeza uma história muito legal ligada ao passado do clube. Prevemos o lançamento no final de março e, com certeza, o torcedor flamenguista vai adorar também.

ME: Cada vez mais o tradicionalismo tem sido quebrado dentro dos clubes e nos torcedores. O que representa para a empresa o lançamento de um terceiro uniforme? É a possibilidade de aumentar as vendas?

PM: Mais do que uma opção de aumentar a venda, é uma opção de contar a história do clube, de momentos importantes. O exemplo do Corinthians acho que deixa isso bem claro, porque é um momento de superação do time. Com as camisas 1 e 2, que são as tradicionais, a gente não consegue contar uma história, não consegue fazer essa conexão direta. A camisa 3 nos permite contar essa história. Isso é muito legal.

ME: Para a marca Nike a camisa 3 é também uma mostra do DNA da empresa, que sempre esteve ligada à inovação, não?

PM: A Nike é uma empresa que sempre está buscando novidades, inovação. Tanto que essa camisa 3 tem a mesma tecnologia da 1 e da 2. Ela não é uma camisa à parte. Ela está inserida dentro de um contexto, de uma história de inovação e tecnologia.

ME: O Barcelona, outro patrocinado pela Nike, sempre apresenta camisas diferentes. É possível fazer isso, também anualmente, para o mercado brasileiro?

PM: É possível fazer isso. Principalmente no caso da Nike, com Corinthians e Flamengo, são clubes ricos em história, ricos em tradição. E isso nos permite fazer essa conexão. A preocupação é sempre com o clube e com o torcedor.

ME: Uma das maiores críticas feitas à Nike e às grandes multinacionais que patrocinam outros clubes é em relação à demora para a chegada da camisa às lojas. Obviamente não é possível fazer da noite para o dia uma camisa. Quais são as etapas desse processo até a camisa ir para a loja?

PM: Tudo o que é feito, é desenvolvido com o clube. Em nenhum momento a gente vai lançar um produto sem que tenha a aprovação do clube. No caso da camisa 3 do Corinthians, é a mesma coisa. Nós aprovamos com o clube, os desenhistas da Nike buscam a inspiração na história ou no momento do clube, eles absorvem toda essa história, desenvolvem o desenho, desenvolvem o protótipo, aprovamos com o clube e aí então que a gente lança para o mercado.

ME: Com a camisa a Nike consegue estreitar ainda mais a sua ligação com os clubes?

PM: Com certeza. As camisas 1 e 2, sendo a tradicional, a gente não pode fugir muito daquela aprovação. A camisa 3, e você lembrou muito bem do Barcelona, permite que a gente faça essa ligação, que a gente cria essa energia que é muito peculiar aos estádios de futebol, principalmente no Brasil. Quem freqüenta estádios, sabe a energia que é criada dentro deles. Então dessa forma a gente consegue fazer essa conexão com as cores, a história, e essa energia que é gerada dentro dos estádios.

ME: E a seleção brasileira? Existe alguma possibilidade de se lançar um terceiro uniforme da seleção?

PM: Acredito que não. A quantidade de jogos que é feita pela seleção é bem menor do que a de um clube. Os clubes jogam campeonatos estaduais, Copa do Brasil, Libertadores, Brasileiro… É muita coisa. A seleção tem apenas as Eliminatórias e alguns amistosos, além da Copa do Mundo. Então tem de manter a tradição. Tem de ser a ?Canarinho? ou a azul.

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