Paulo Scaglione

A Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) comemora o crescimento da modalidade no país. No último ano, a entidade registrou um aumento de 20% no número de pilotos inscritos, variável usada pela entidade para medir a força do esporte.

Apesar desse bom desempenho, o sucesso do automobilismo ainda não se transformou em investimentos. Neste ano, por exemplo, a Renault não irá mais patrocinar uma das principais categorias do país, que levava o nome da empresa.

“É muito difícil, pois para fazer um campeonato, uma empresa [do ramo automobilístico] precisa contar com parceria das revendas. Você já conseguiu comprar um Fórmula em uma revenda? Então a iniciativa tem que ser da fábrica e, além de ter um projeto, precisa ter um presidente que goste da coisa. Precisa ter diversos aspectos positivos para dar certo. É muito complexo”, explica Paulo Scaglione, presidente da CBA.

Apesar disso, o mandatário da entidade destaca a evolução da Stock Car e da Fórmula Truck no país, e aponta que essas serão as categorias de maior destaque do Brasil neste ano.

Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Paulo Scaglione fala ainda sobre a possibilidade de a Fórmula 1 deixar o Autódromo de Interlagos, comenta os trabalhos realizados para o país receber uma etapa da MotoGP e diz que as federações “ainda não estão 100% como a gente gostaria”.

Leia a seguir a entrevista na íntegra:

Máquina do Esporte: Como o sr. avalia a última temporada do automobilismo brasileiro?

Paulo Scaglione: O automobilismo teve um crescimento significativo, que ultrapassa a casa dos 20%. Em Isso é muito bom, se for levado em conta a época de indecisões e indefinições financeiras que passamos. Apesar disso, o automobilismo não teve um crescimento em todas as modalidades, principalmente naquelas em que o encerramento da temporada foi anunciado com antecipação.

ME: Qual o critério que a CBA se baseia para verificar um crescimento?

PS: A gente se baseia no número de pilotos. Em 2005, tínhamos 6847, e fechamos 2006 com 7432. Uma pessoa só tira a carteira de piloto se for realmente correr, pois ela não dá desconto em cinema ou restaurante, por exemplo. Por isso, esse crescimento é real, não hipotético.

ME: O sr. citou que algumas modalidades não cresceram. O kart seria uma delas?

PS: O pessoal de São Paulo diz que o kart está acabando. Então fizemos um levantamento detalhado sobre o kart. A modalidade registrou um crescimento de 25% no número de pilotos. Porém, o que aconteceu é que houve uma divisão de campeonatos. Isso não gerou uma diminuição no número de corredores, mas sim uma descentralização de grupos.

ME: Além disso, houve a desistência da Renault…

PS: A Renault veio ao Brasil em 2002 com um contrato firmado junto a um promotor [PPD Sports, de propriedade de Pedro Paulo Diniz]. Esse acordo era de cinco anos e não era renovável. E o que aconteceu foi exatamente isso. Todo mundo sabia que após cinco anos isso deixaria de existir ou existira por conta própria. Mas isso foi uma decisão da matriz, que englobou também a Fórmula Renault na França. Não foi um caso isolado no Brasil.

ME: E como fazer para que o automobilismo brasileiro seja atrativo para empresas?

PS: É muito difícil, pois para fazer um campeonato, uma empresa [do ramo automobilístico] precisa contar com parceria das revendas. Você já conseguiu comprar um Fórmula em uma revenda? Então a iniciativa tem que ser da fábrica e, além de ter um projeto, precisa ter um presidente que goste da coisa. Precisa ter diversos aspectos positivos para dar certo. É muito complexo.

ME: Dentro desse cenário, a Stock Car então parece se diferenciar, pois conta com diversos patrocinadores…

PS: A modalidade ainda é um balão de ensaio, mas tem tudo para dar certo. A Stock Car quer se aproximar do que é feito nos Estados Unidos pela Nascar, mas nós não temos ainda uma infra-estrutura para chegar perto disso. Demanda uns três anos para se tornar realidade. Mesmo assim, hoje em dia, é uma categoria top, que atrai mais público e lota os autódromos. Essa mudança para multimarcas fez com que houvesse o interesse de outras montadoras. Isso vai dar um visual muito competitivo.

ME: O sr. falou sobre a falta de infra-estrutura. Como melhorar os autódromos brasileiros?

PS: Todos os autódromos, com exceção do instalado em Curitiba e os dois do Rio Grande do Sul, pertencem às prefeituras. Portanto, não tem como buscar dinheiro da iniciativa privada para aplicar nos autódromos. O que nós vamos fazer é uma classificação e, mediante isso, autorizar os eventos, como faz a FIA [Federação Internacional de Automobilismo]. Quando isso começar a acontecer, eu tenho certeza que as prefeituras vão se mexer para incluir seus autódromos nos calendários.

ME: Por falar em autódromo, existe a possibilidade de Interlagos deixar de receber o GP Brasil de Fórmula 1?

PS: Eu não tenho esse receio, desde que todas as exigências sejam cumpridas. Mas eu acredito que não vá sair de Interlagos nos próximos anos. No ano passado tivemos problemas de asfalto, o que não irá acontecer novamente agora. O prefeito [Gilberto Kassab] é um entusiasta dos esportes de motor. Então ele já está solicitando um recapeamento da pista para que não tenha nenhum tipo de problema.

ME: Então, além da Fórmula 1, o Autódromo de Interlagos também pode receber uma etapa da MotoGP?

PS: Como o autódromo tem a homologação da FIA, precisa mandar para eles as modificações que serão feitas, para ver se não vai impossibilitar a realização da Fórmula 1. Eu já encaminhei esses papéis há um mês e agora eles estão analisando para ver se é viável ou não. Não dá para prever o resultado, pois é uma parte de engenharia que envolve curvatura, ângulo, posicionamento de baias, entre outros fatores.

ME: Há seis anos à frente da CBA, como o sr. avalia o trabalho das federações ligadas ao automobilismo?

PS: Tivemos uma mudança brusca de administração. É difícil você mudar uma coisa que está estagnada e ligar todas as engrenagens ao mesmo tempo para funcionar. Essa fase já passou. Todas as federações estão em ritmo de crescimento. Prova disso é que as filiações de novos pilotos são feitas nas federações. Elas não estão 100% como a gente gostaria, mas dentro da capacidade operacional de cada, elas fazem seu papel.

ME: Existe algum problema específico com alguma federação?

PS: Desde que assumi a CBA, desfiliei quatro federações, mas depois filiei outras três. A única que ainda não foi filiada é a de Santa Catarina, que não conseguiu apresentar toda a documentação necessária.

ME: Para a temporada 2007, qual a modalidade que o sr. aposta que terá o maior crescimento?

PS: Eu aposto em duas: na Stock Car e na Fórmula Truck. A Truck está ganhando cada vez mais espaço, além de ter um respeito muito grande de seus patrocinadores. Eu tenho certeza que essas duas vão repetir o bom desempenho apresentado no ano passado.

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