“Em 2013 estaremos fortalecendo nossas estratégias e planos estruturados, com foco na solidez financeira, redução da dívida, linha de produtos rentáveis e eficiência das nossas fábricas, para retomarmos o crescimento nesta competitiva indústria”.
A mensagem não poderia ser mais clara. Ela faz parte do relatório anual financeiro da Vulcabras|azaleia, apresentado aos investidores em 7 de março último, e que resume muito bem o processo pelo qual atravessa a maior fabricante de artigos esportivos do Brasil.
O autor da frase é Pedro Grendene Bartelli, alçado novamente à condição de presidente do grupo no processo de reestruturação que começou o ano passado, causou mais de 6 mil demissões além de fechamentos de fábricas mas que, aos poucos, vai recolocando a Vulcabras no ritmo de crescimento.
Em 2012, a empresa teve prejuízo de R$ 308 milhões no balanço financeiro, mas o resultado celebrado foi o do Ebitda, que é o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização. O índice dá a real noção de como a empresa tem conseguido fazer dinheiro. Por isso, os R$ 105,5 milhões de lucro, frente o prejuízo de R$ 99,5 mi do ano anterior, dão a mostra clara de que a Vulcabras está se reestruturando.
No cenário esportivo, essa mudança de comportamento da empresa teve reflexo direto especialmente dentro de campo. Depois de revolucionar o mercado nos últimos oito anos, com os patrocínios a São Paulo, Inter, Cruzeiro e Flamengo, hoje o grupo só continua com o acordo com o clube mineiro.
No último dia 30 de abril, encerrou a mais polêmica parceria no futebol, o contrato com o Flamengo, que custava cerca de R$ 21 milhões ao ano para a empresa mas que deu lucro em quase todos os anos desde 2009, quando começou a vigorar.
A intensa história com o Flamengo foi marcada pelo recorrente uso de ações para a ativação do patrocínio. E, como não poderia deixar de ser, o término da relação proporcionou mais uma iniciativa do gênero. A criação de uma camisa indestrutível, feita com materiais usados na confecção de coletes à prova de balas foi uma espécie de “grand finale” para o negócio que elevou a outro patamar a relação financeira dos clubes brasileiros com os fabricantes de uniforme.
Para Pedro Bartelle, diretor de marketing da companhia, esse era o meio de fechar o ciclo de forma a ratificar a condição da Olympikus de “parceira” do Flamengo e, mais do que isso, do esporte brasileiro.
“Esse vídeo fecha com chave de ouro nosso acordo. Ele serve para mostrar que essa relação da Olympikus com o esporte brasileiro não é uma relação que envolve só patrocínio. A gente é a marca que representa o esporte brasileiro, que representa o Brasil”, afirmou o executivo à Máquina do Esporte numa de suas primeiras entrevistas após o início do processo de reestruturação da Vulcabras.
A saída do Flamengo, embora traumática, resolve um “problema” para a Olympikus. Dentro do processo de enxugamento da empresa, investimentos vultuosos em patrocínio esportivo, no momento, estão descartados. Atualmente, os acordos maiores são com Cruzeiro (até dezembro de 2014) e CBV (até o fim das Olimpíadas de 2016). E a situação não deve mudar muito até o fim do ano que vem, segundo Bartelle.
Leia a seguir a entrevista com o executivo:
Máquina do Esporte: Como surgiu a ideia de fazer o vídeo de despedida do Flamengo?
Pedro Bartelle: Essa ideia foi uma forma de agradecer ao clube. A gente teve uma relação muito boa com o Flamengo, como tivemos com todos os nossos patrocinados. Essa foi uma relação que nós incorporamos para dentro da empresa, nos dedicamos muito. O Flamengo, por ter essa representatividade nacional, por ser esse grande clube, foi um clube com quem sempre fizemos grandes ações. Claro que tivemos muita sorte e competência também nesse caminho. Mas tudo fluiu muito bem. Nessa finalização não poderia ser diferente. Ela foi uma forma de terminar o acordo contando que criamos mais do que uma relação de negócios, criamos uma relação afetiva da própria empresa, com tudo o que foi feito. É um ciclo que se fecha e que quisemos eternizar.
ME: É um “adeus” ou uma espécie de “até logo” que vocês estão dando para o clube?
PB: Eu acho que é mais um até logo, porque a empresa continua desenvolvendo os seus produtos, continua empregando pessoas, patrocinando esportes e atletas. O dia de amanhã a gente não sabe.
ME: Por que o conceito de criar uma camisa indestrutível?
PB: Essa ideia partiu da nossa agência de publicidade, a DM9Sul e do pessoal de marketing da Olympikus. Eles pensaram no conceito de que teria de ser uma camisa que fosse eterna, que durasse para sempre. Decidimos fazer com os materiais mais resistentes que existem e fazer o vídeo para mostrar isso. Agora a gente vai entregar um presente ao clube, para colocar lá no museu, que nós também ajudamos a construir, essa nossa peça. Esse não deixa de ser um presente para o clube, para a torcida e para nós como empresa.
ME: Esse acordo com o Flamengo de fato foi muito marcante. Começou com a briga na Justiça para tirar a Nike, depois passou pelo sucesso do time campeão brasileiro de 2009 e encerrou de forma abreviada pela chegada da Adidas. Que balanço você faz desse período?
PB: Nós fomos sempre muito felizes com o contrato. Quando entramos no futebol, sempre tivemos como premissa que fosse um investimento que teria sua parcela de investimento em comunicação e marketing, mas que também teria de ser um negócio. No caso do Flamengo, tínhamos de deixar a empresa preparada para atender a demanda que o clube exigia. No primeiro ano, batemos o recorde de um milhão e meio de camisas vendidas, sendo que um milhão de peças foi apenas em seis meses [a Olympikus entrou no Flamengo em 1° de julho de 2009, ano em que o clube foi campeão brasileiro e bateu o recorde de 1 milhão de peças vendidas]. E durante todo esse período conseguimos atender a essa demanda.
ME: Atualmente a Vulcabras conta apenas com o patrocínio ao Cruzeiro, usando a Olympikus. Quando a marca voltará a investir no futebol?
PB: Temos três times na Argentina, que é um país com uma estratégia um pouco diferente. Aqui no Brasil, com a reestruturação, tivemos de focar nossos investimentos numa área mais comercial do que institucional. Acho que o futebol nos últimos anos foi muito inflacionado pelos eventos esportivos. Nós tivemos que focar não só na parte institucional como na comercial. Mas acredito que a Olympikus vai estar forte em 2015, quando acabar a Copa do Mundo, e em 2017, quando terminar as Olimpíadas. A gente vai ser uma marca que vai durar por muitos e muitos anos ainda. A relação com o futebol enfraqueceu por causa da reestruturação, mas nosso objetivo é de continuar patrocinando.
ME: Mas já dá para ter uma previsão de quando esses investimentos voltarão a ser feitos?
PB: Por enquanto o foco está em permanecer com os investimentos que já estão sendo feitos e ampliar isso, não só no futebol, mas em outros esportes com o tempo. Nós gostamos dessa responsabilidade de ser a maior marca de material esportivo do Brasil.
ME: Por que não foi possível concorrer com outras marcas nesses últimos anos?
PB: Veja um exemplo.Nós patrocinamos o COB por tantos anos [entre 1999 e 2011 a marca foi a fornecedora oficial de uniformes do comitê]. Com a proximidade dos eventos, tivemos de ficar um pouco fora de disputas que não fossem exatamente moldadas para as pretensões e estratégias da empresa nesse momento.
ME: A única propriedade forte que permanece em esportes olímpicos, que consagraram a Olympikus no Brasil, é o vôlei. Ele será o carro-chefe a partir de agora?
PB: Nunca tivemos o futebol ou a CBV como um carro-chefe. Claro que o futebol vende mais quantidade de camisas, mas o vôlei tem representatividade muito grande, com uma imagem muito boa. O COB não tem visibilidade tão grande, mas sempre nos trouxe muito retorno. Eu acho que a Olympikus sempre foi muito identificada no vôlei como uma marca muito benéfica para a modalidade. E isso é o que realmente importa. Mas nós somos uma marca de vários esportes, de produtos para a prática de todos eles, temos também outros patrocínios.
ME: Como anda o processo de reestruturação da empresa? De que forma ele interfere nesses investimentos?
PB: Começamos a reestruturação em julho do ano passado, contratamos a Galeazzi Associados, que foi responsável pela reestruturação do Pão de Açúcar e do Estadão há alguns anos, e temos algumas metas aqui dentro, principalmente de melhorar os resultados financeiros.
ME: Quando poderemos pensar em ver a Vulcabras voltando a investir em patrocínio esportivo de forma mais efetiva?
PB: Eu acredito que nós vamos fechar um bom ano de recuperação e provavelmente no ano que vem comece a fazer investimentos institucionais novamente. Neste ano não estamos orçando isso. E nosso orçamento para 2014 será feito a partir do segundo semestre. A curto prazo não conseguimos tomar essa decisão. A reestruturação já tem nove meses. E acredito que para 2015 a gente possa estar de novo na briga pelos principais clubes. Quem sabe até mesmo no Flamengo?
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