O discurso do São Paulo foi uníssono. Um lugar historicamente conhecido como o túmulo da cultura estava sendo conectado a um dos maiores símbolos da mesma. A inauguração da livraria Nobel no estádio do Morumbi, na última segunda-feira, foi vista pelos dirigentes tricolores como uma mostra do distanciamento da agremiação para os rivais. Para a empresa, pode ter sido o início de uma história de sucesso.
Por enquanto, os planos ainda são tímidos. Para conhecer melhor o novo terreno, a Nobel foca sua atenção no recém-inaugurado estabelecimento no Morumbi Concept Hall. O projeto de implantação de um conceito de shopping center atrai a livraria, e a ausência dele distancia.
Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, Sérgio Milano, diretor de operações da Central de Franquias, que gerencia a marca, revela apreensão e cautela com a possibilidade de ampliação do projeto com o futebol. Uma nova loja em São Paulo está praticamente descartada, e a entrada em outros Estados depende do êxito no Morumbi.
?Faz todo o sentido, mas você tem de pesar se vai ter o diferencial que está sendo oferecido para nós hoje. Se for um lugar que só tenha o jogo o investimento não se sustenta?, disse o executivo.
Para que isso aconteça, no entanto, a Nobel terá de colocar a mão na massa. Além do investimento inicial de R$ 500 mil, a livraria vai se mexer para movimentar o mercado em torno do seu novo estabelecimento. A aposta principal é na aquisição de livros inéditos sobre esporte e centralização de lançamentos da área.
?A ideia é que todos os livros apareçam lá. Estamos fazendo um trabalho forte com as editoras para que elas tenham à disposição o mesmo serviço da inauguração, com estacionamento, manobrista, outras opções de lazer?, adianta Milano.
Leia a íntegra da entrevista a seguir:
Máquina do Esporte: O que levou vocês a acertarem com o São Paulo por um espaço no Morumbi Concept Hall?
Sérgio Milano: A gente viu um potencial no exterior, com os estádios se tornando verdadeiros shopping centers. Para o negócio, nada melhor do que misturar razão com emoção em um evento de compra. Quando o cara está com o coração envolvido ele tende a gastar muito mais por você. É óbvio que a gente espera uma boa venda na loja, nós não temos dúvida de que ela vai pagar os custos. Mas o que vai trazer para a imagem da marca também é algo muito legal. A gente viu na inauguração o número de pessoas que estão interessadas. E todos os jogos decisivos acontecem no Morumbi. Acho que a gente tem de ter essa visão emocional na decisão.
ME: E dá para imaginar outras lojas além daquela do Morumbi?
SM: Se os estádios realmente virarem um shopping, com certeza. O São Paulo tem o diferencial de olhar na frente dos demais. Nossa parceria foi bem feita, com um bom investimento. A gente não tem restrições, mas tem de ser feito nesse modelo.
ME: Os demais Estados estão nos planos também, ou até outro estádio em São Paulo?
SM: Nas outras cidades dá para pensar. Mesmo aqui a gente não descarta. É que não tem por que a gente pensar em fazer em São Paulo, do mesmo jeito, tão cedo. Agora, nos outros Estados faz todo o sentido. Mas a existência do modelo vai pesar. Se for um lugar que só tenha o jogo, aí o investimento não se sustenta. Nesse caso, é melhor fazer o camarote. E esse lado de camarote também é importante dentro do que a gente conseguiu, porque a maior parte dos nossos franqueados e fornecedores é de São Paulo. Fora de São Paulo, o lado shopping center vai ganhar uma importância ainda maior.
ME: Como vai funcionar o camarote de vocês no Morumbi?
SM: No dia a dia ele fica aberto, com o Café Donuts ali. No jogo, os nosso convidados ficam sentados naquela área, e a porta de vidro fica fechada, assim como o café. A gente vai usar parte como camarote e parte para venda de passaporte, como o Santo Paulo Bar já faz. É até bom porque quem gerencia o Café Donuts é a GRSA, que também faz o Santo Paulo Bar e é nosso franqueado em aeroportos e rodovias pelo Café Donuts.
ME: E quanto à livraria, como diferenciá-la das demais, até para que ela contribua com o movimento do Morumbi Concept Hall?
SM Nós vamos fazer muitos lançamentos lá, e não só de livros de futebol. A ideia é que todos os grandes lançamentos aconteçam ali. Estamos com um trabalho forte com as editoras para que elas tenham o mesmo serviço da inauguração, com estacionamento e manobrista. Isso tudo para tentar transformar o local em um pólo esportivo. Queremos que o consumidor enxergue aquilo como uma coisa complexa. E é possível fazer isso. Você não imagina o que tem de lançamento, que às vezes é de editora pequena, que poderia acontecer no Morumbi.
ME: É fácil perceber que toda a comunicação de vocês é feita como Central de Franquias. Como funciona a relação da marca Nobel com o Café Donuts e a própria Central de Franquias?
SM:A Nobel e o Café Donuts pertencem a um fundo de investimento. A Globo não tem rádio, jornal e tudo aquilo mais? A Central é a parte comum a todos esses órgãos que nós temos no fundo. Todas as marcas estão ligadas a essa central de serviços que é a Central de Franquias. Por exemplo: já que a livraria do Morumbi ia ter um café, pegamos a nossa marca de cafés para esse fim. Temos ainda um plano de colocar no outro lado da loja um engraxate da Sapataria do Futuro, como forma de promover a marca. Isso tudo está sendo negociado.