Thadeus Kassabian

A corrida de São Silvestre estreia neste ano (2011) um novo percurso. Após décadas com início e fim na Avenida Paulista, centro financeiro da cidade de São Paulo, o percurso da prova irá terminar no Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32, no parque do Ibirapuera, outro símbolo paulistano. Para Thadeus Kassabian, essa não será uma quebra na tradição da competição, mas sim um resgate histórico.

Kassabian é proprietário e diretor de operações da Yescom, empresa responsável pela organização da São Silvestre. Para o executivo, a mais tradicional prova de São Paulo mantém a origem na largada da Paulista e, agora, fará uma homenagem em sua chegada. No Obelisco do Ibirapuera estão localizados os restos mortais do jornalista Cásper Líbero, idealizador da prova.

O que forçou a mudança foi o encontro entre a corrida e os preparativos para o réveillon na Avenida Paulista. Com o excesso de pessoas, a organização do evento passou a ficar prejudicada. “Nós temos que pensar em como criar uma dinâmica para conciliar esses eventos. Para a corrida, não é tão simples. Existem normas, regras para uma prova oficial para que se termine a corrida em segurança”, explicou Kassabian.

A mudança no trajeto encareceu a corrida. Como a corrida terá dois pontos principais, duas estruturas precisaram ser criadas. Esse novo processo deixou o orçamento da prova 50% superior em relação ao ano anterior. Por outro lado, a competição teve recorde de inscrição e terá espaço para uma maior recepção aos atletas que finalizarem a corrida.

Leia a entrevista na íntegra:

Máquina do Esporte: Qual é a expectativa para a primeira São Silvestre com o trajeto alterado?

Thadeus Kassabian: A expectativa é obter sucesso. Independente das mudanças, cada evento é um evento novo. Pelo clima deste ano, as expectativas são as melhores.

ME: E o que é sucesso em uma São Silvestre?

TK: Sucesso é realizar um bom evento, que satisfaça os participantes, os patrocinadores, a organização, os órgãos públicos. Tem que haver uma sinergia em todas essas partes para que haja um equilíbrio no atendimento de cada uma delas.

ME: Neste ano houve recorde de inscrição. Isso já é sucesso?

TK: Houve um recorde, mas havia um maior número de demanda anteriormente que não era atendida. Antes, tínhamos atletas que ficavam fora da corrida porque não tinham bom atendimento no pós-prova, o que foi corrigido. Como há maior espaço na chegada, os 25 mil participantes oficiais terão mais conforto, mais espaço, mais segurança ao chegar. Esse número é, na verdade, o número real da São Silvestre, sem uma demanda reprimida. E isso foi possível ao trazer o fim da prova para o Ibirapuera.

ME: Qual foi o aumento no faturamento com essas inscrições extras?

TK: Quanto aos valores, ao aumento do faturamento, isso é um assunto da Fundação Cásper Líbero, que realiza a prova. Mas, independente do aumento de faturamento, houve um aumento das despesas, cerca de 50% em relação às provas anteriores. Com a corrida ponto a ponto, ou seja, começa em um lugar e termina em um local diferente, há a necessidade de construção de duas estruturas, uma para a largada e uma para a chegada. Isso encarece. Quando olharmos para os cinco mil inscritos a mais, também temos que olhar para o aumento das despesas. A São Silvestre de antes tinha menos despesas.

ME: A mudança aconteceu, de fato, pelo réveillon?

TK: A questão principal foi o réveillon, mas há uma série de atividades na Paulista que reduziam o espaço, como o Natal, por exemplo. É bom ressaltar que a São Silvestre e o réveillon são dois eventos extremamente importantes para São Paulo. Com eles, há um aumento no faturamento com o setor hoteleiro, com o setor de serviços, com os restaurantes. São Paulo é uma cidade de eventos. Nós temos que pensar em como criar uma dinâmica para conciliar esses eventos. Para a corrida, não é tão simples. Existem normas, regras para uma prova oficial para que se termine a corrida em segurança.

ME: Existiam outras possibilidades? Como colocar a corrida mais cedo, por exemplo.

TK: O calor nessa época do ano é intenso, e mais cedo ele é mais forte. Para ter essa mudança, foram três anos de estudo, colocando segurança e conforto dos participantes como prioridade. Assim como colocar a prova mais cedo era inviável, outras sugestões também não tinham como acontecer. Falaram em virar a prova na esquerda na chegada da Avenida Paulista. À esquerda da Paulista tem seis hospitais, e a corrida atrapalharia a logística deles. Pensou-se também em colocar o palco do réveillon mais atrás, distanciando-se da chegada da corrida. Mas o palco é pensado estrategicamente para a saída do metrô. A mudança também não era viável.

ME: A Rede Bandeirantes instalou um estúdio no Ibirapuera e fez o obelisco ser seu pano de fundo. Agora, a São Silvestre termina no local, com transmissão da Rede Globo. Houve reclamação por parte da emissora carioca?

TK: A praça é muito grande e comporta a chegada de todos os atletas, com bom atendimento para todos. Além disso, o obelisco tem um significado para a prova que poucos conhecem. É lá que ficam os restos mortais de Cásper Líbero, idealizador da prova. Com a mudança, essa história foi preservada. A prova larga da Paulista e passa por diversos pontos importantes da cidade, como o Teatro Municipal, o Viaduto do Chá e Largo São Francisco. O lugar da chegada, o Obelisco, é onde acontecem vários eventos da cidade, inclusive é o local da chegada da Maratona de São Paulo. Então não houve qualquer problema com a Globo.

ME: A Yescom tem organizado uma série de corridas de rua no Brasil. Qual é a situação da São Silvestre nesse mercado do país?

TK: A São Silvestre conta com atletas dos 27 Estados brasileiros. Só a Maratona de São Paulo tem uma participação tão alta de atletas do país. Pela idade dela, pela tradição, pelo dia de São Silvestre… A São Silvestre e a Maratona de São Paulo foram os eventos que impulsionaram o mercado de corrida de rua no Brasil. Ela continua sendo a principal corrida do país e uma das principais corridas do mundo. A prova disso é o nível dos participantes, caso do Marílson (Gomes dos Santos), que já ganhou a Maratona de Nova York e não deixa de participar da São Silvestre.

ME: Além do trajeto, quais são as novidades da São Silvestre deste ano?

TK: A São Silvestre deste ano está com uma Expo no Ibirapuera, com 30 expositores. Essa Expo está ligada ao seguimento de corrida de rua, com empresas, atletas e patrocinadores. Neste ano, haverá fotos e vídeos de todos os inscritos oficialmente. Essas fotos poderão ser vista no site da prova, após a corrida. Além dos oito postos de água, serão distribuídos Gatorade em saquinho. Serão 30 ambulâncias e UTI. Só na Maratona de São Paulo tem uma estrutura tão grande.   

ME: A São Silvestre perdeu tradição com as mudanças?

TK: Tem gente que diz que sim, que a São Silvestre perdeu tradição com essa mudança de trajeto. A São Silvestre ganhou tradição, principalmente pelo fato de o Obelisco guardar os restos mortais de Cásper Líbero.   

Sair da versão mobile