Toni Sando

Em Interlagos já é possível ouvir o ronco dos motores. Até domingo, o autódromo será o centro do automobilismo mundial. Cercada de glamour, a Fórmula 1 traz a São Paulo muito mais do que carros, pilotos e exposição. Traz dinheiro.

A expectativa é que vários setores da economia, capitaneados pela rede hoteleira, movimentem R$ 260 milhões apenas neste fim de semana na cidade, valor 15% superior ao registrado no ano passado. Crise? Isso é coisa do passado.

?O que deu para perceber com clareza nesse período é que a Fórmula 1 em São Paulo tem dois públicos: o final, que assiste à corrida pelo prazer esportivo, e o corporativo. As empresas utilizam muito a Fórmula 1 para fazer relacionamento, acaba virando um evento de network, e não esportivo. Isso dinamiza o esporte, com certeza. Mas se houve alguma diferença em virtude da crise, talvez tenha acontecido na proporção desses públicos, nada mais?, afirma Toni Sando, diretor-superintendente do São Paulo Convetions & Visitors Bureau (SPCVB), fundação sem fins lucrativos mantida pela iniciativa privada para incentivar o turismo na capital paulista.

Nesta entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, o executivo fala sobre a importância do evento para a cidade, destaca a maturidade do turismo paulista e refuta os impactos da crise para a Fórmula 1 em São Paulo. ?O nosso termômetro são os hotéis, e eles estão cheios?, conclui Sando.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

Máquina do Esporte: O São Paulo Convention & Visitors Bureau divulgou nesta semana uma previsão de impacto de R$ 260 milhões na cidade neste fim de semana. De onde vem esse número?

Toni Sando: Os números são oficiais da SP Turis e se baseia na estimativa de arrecadação do ISS [Imposto Sobre Serviço}, ou seja, é a somatória de tudo o que é gasto na cidade em determinados setores nesse período. Quando você traz isso para a economia local, falando de hospedagem, eventos e transportes, é que dá para saber o peso desse custo. No fim, esse valor corresponde ao dinheiro novo que entra na economia de São Paulo.

ME: No ano passado, em plena crise, o impacto econômico girou em torno dos R$ 200 milhões. Mesmo com a instabilidade do mercado financeiro, deu para perceber alguma evolução para o Grande Prêmio do Brasil?

TS: Nossa estimativa é 15% maior em relação ao ano passado. O nosso termômetro são os hotéis, e eles estão cheios. O que deu para perceber com clareza nesse período é que a Fórmula 1 em São Paulo tem dois públicos: o final, que assiste à corrida pelo prazer esportivo, e o corporativo. As empresas utilizam muito a Fórmula 1 para fazer relacionamento, acaba virando um evento de network, e não esportivo. Isso dinamiza o esporte, com certeza. Mas se houve alguma diferença em virtude da crise, talvez tenha acontecido na proporção desses públicos, nada mais.

ME: Como está a taxa de ocupação dos hotéis neste ano?

TS: Na região da Berrini (avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini], que concentra a maior parte dos pilotos e equipes devido à localização. Ali é parte da rota da Fórmula 1. Os turistas se concentram mais na região da avenida Paulista, lá a ocupação está em 80%.

ME: O fato de o Brasil ter recebido etapas decisivas nos últimos anos influenciou nesse crescimento econômico, mesmo em meio à crise financeira?

TS: Em termos de público, não. Tem mais gente querendo ir ao autódromo do que capacidade para receber pessoas. Se tivesse mais espaço, aí sim. A crise teve outro impacto para o turismo na Fórmula 1, relacionado ao tempo de reserva. As pessoas deixaram para definir a viagem na última hora.

ME: Nas últimas semanas, o secretário de esportes de São Paulo, Walter Feldman, e o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho, disseram que a F-1 proporciona o melhor momento do turismo para a cidade em todo o ano. De fato, esse é o principal período para o setor na região?

TS: São Paulo não tem mais data ou mês especial. É claro que o evento esportivo dinamiza mais, mas aqui a gente não tem mais o problema da sazonalidade. São mais de 1,5 mil eventos cadastrados. As coisas acontecem todo dia, toda hora.

ME: Do ponto de vista turístico e econômico, a cidade aproveita todo o seu potencial neste fim de semana?

TS: A verdade é que São Paulo já está aquecida pelo próprio paulistano. A qualquer dia da semana, você encontra filas em casas de espetáculos, restaurantes, bares… A cidade está muito dinâmica, o que é ótimo. O turismo força o aquecimento da economia, gera mais negócios. Nós fazemos uma série de cursos de capacitação nesse sentido. O turismo paulista está maduro.

ME: Quais são as principais áreas impactadas com a Fórmula 1?

TS: Em primeiro lugar, são os hotéis. Depois vêm as casas de entretenimento, espetáculos e bares. É um círculo, uma coisa acaba levando a outra do ponto de vista turístico. O que mais me chama atenção, contudo, é o número de empregos diretos gerados pela corrida. São sete mil postos de trabalho, só a prefeitura dispõe de mais de quatro mil vagas. Movimenta muita mão-de-obra.

ME: Quantos turistas são esperados na cidade neste fim de semana?

TS: A previsão é de que 90 mil pessoas de fora de São Paulo acompanhem a prova, o que é bastante significativo. Afinal, nos três dias de evento, a Fórmula 1 recebe 140 mil pessoas. Os turistas representam mais da metade desse público.

ME: Quais são os eventos que têm impacto semelhante na cidade?

TS: A Fórmula 1, sem dúvida, é especial. Paulistano adora carro. Acho que esse é lugar que mais tem carro no mundo. Por isso, junto com a Fórmula 1, teremos feiras ligadas ao automobilismo, como o Salão de Logística e Transporte, o Salão Duas Rodas, Salão do Automóvel… todos no mês de outubro, perto da corrida. Nós temos uma campanha chamada ?São Paulo é tudo de bom?, que é protagonizada pelo Emmerson Fittipaldi., tem tudo a ver né? Esportivamente falando, não há nada que possa ser comparado à Fórmula 1, mas temos o SP Fashion Week e as viradas culturais que trazem bons públicos.

ME: A Fórmula 1, então, é o principal evento da cidade?

TS: Sim, mas existem duas formas de se medir o impacto de um evento na cidade: o movimento de gente e o poder econômico dessas pessoas, o quanto elas gastam aqui. Em termos de público, o maior evento da cidade é a Bienal do Livro, que tem mais de 800 mil pessoas. Só que o público que frequenta a Bienal é formado, em sua maioria, por estudantes, sem poderio econômico. O Salão do Automóvel traz mais de 600 mil pessoas. A Fórmula 1 tem público de 140 mil pessoas, mas essas pessoas gastam muito, têm alto poder aquisitivo, que pagam hotéis caros, e movimentam vários setores da economia. Portanto, a Fórmula 1 é o maior evento em movimentação econômica da cidade. É um evento incomparável.

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