No Roda Viva, da TV Cultura, presidente do São Paulo confirma que não renovará com Adidas

Julio Casares, presidente do São Paulo, durante o Roda Viva - Reprodução / TV Cultura

O presidente do São Paulo, Julio Casares, afirmou, durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (11), que não renovará contrato com a Adidas para a próxima temporada. O vínculo atual, que começou em 2018, será encerrado no final deste ano. Há atritos entre o clube e a fornecedora de material esportivo há alguns meses.

“Nossa fornecedora atual é uma grande marca, marca mundial. Mas, infelizmente, é de conhecimento que teve falhas terríveis. No plano ético, temos contrato até o final do ano. E claro que estamos conversando com outras marcas. Mas num plano diferente. O São Paulo tem que ser objeto de desejo dessa marca, quiçá que seja um contrato exclusivo no Brasil”, afirmou o dirigente.

Segundo Casares, o São Paulo quer uma parceria com uma marca que pense no clube 24 horas por dia e crie peças específicas para o Tricolor Paulista.

Precisamos ter essa comunhão e vai voltar a ter. O contrato acaba no final do ano, e estamos no mercado e muito adiantados com uma grande marca. Temos que ter uma marca de ressonância internacional, mas que pense no São Paulo 24 horas.

Julio Casares, presidente do São Paulo

O dirigente também criticou a ação da Adidas de fazer camisas supostamente parecidas para os times brasileiros parceiros da empresa.

“Em uma camisa do Outubro Rosa, por exemplo, a marca faz a mesma camisa para meu clube e para outros clubes que ela patrocina, e muda só detalhes. Quero identidade visual, quero criação. Eu já tive isso com outra marca que foi um grande sucesso nos títulos do Campeonato Brasileiro de 2006, 2007 e 2008”, afirmou o dirigente, referindo-se à Reebok, fornecedora de 2006 a 2012, que recentemente retornou ao mercado brasileiro em uma parceria com o Botafogo.

Procurada, a Adidas não quis comentar sobre as críticas feitas pelo dirigente são-paulino.

Dívidas

O presidente do São Paulo também comentou a questão das dívidas do clube. Segundo ele, os débitos estão, atualmente, abaixo dos R$ 700 milhões.

“Quando nós chegamos, as dívidas tinham um patamar. Depois de dois anos de gestão, conseguimos diminuir 12%. Um dado importante é que o São Paulo tinha três anos que apresentava déficit e depois apresentamos superávit”, afirmou Casares.

O dirigente falou que é preciso equalizar a gestão da dívida com a formação de uma equipe competitiva, capaz de ganhar títulos e agradar os torcedores.

Se eu trabalhar apenas nesta redução drástica da dívida, posso ter um revés no âmbito esportivo.

Julio Casares, presidente do São Paulo

“Se investir mais em atletas e na competitividade, [o investimento] vai ser atenuado por um crescimento que hoje é um fato: a bilheteria nos dá uma resposta, a premiação nos deu outra resposta, o [programa de] sócio-torcedor, o Morumbi como casa de shows. O que eu quero é autoestima do torcedor, que quer ganhar jogos e ter conquistas”, defendeu.

Para Casares, quando o São Paulo divulgava balancetes trimestrais, eles mostravam uma situação apenas daquele momento, que não refletia o faturamento do clube ao longo do ano. Há verba de patrocínio, premiações e direitos de TV que o time só ganha em determinados meses, o que compensa um possível prejuízo em meses em que a arrecadação é mais baixa.

“Quando você apresenta balancete de três meses, é muito sazonal. Naquele momento, pode aparecer uma dívida muito grande, que depois é recuperada com a venda de um jogador. Só que, naquele momento em que é divulgado, cria-se uma notícia: o São Paulo estourou em dívidas. Isso me compromete operação financeira, parcerias e outras questões”, ponderou.

“Prefiro esperar o balanço oficial porque aí você tem o resumo de tudo e do quadro verdadeiro”, completou.

Liga

Casares também afirmou que os clubes podem perder uma oportunidade histórica de criar uma liga. Hoje, há divisão entre dois grupos: a Liga do Futebol Brasileiro (Libra), que é integrada pelo Tricolor Paulista, e a Liga Forte Futebol (LFF).

“Nós conseguimos, junto à CBF [Confederação Brasileira de Futebol], a homologação da liga para o Campeonato Brasileiro. Só que virou uma guerra entre bancos e investidores, e os clubes ficaram sucumbidos a isso. Hoje, temos nove clubes da Série A na Libra, que é onde estão São Paulo e Flamengo, e outros clubes que estão com outro tipo de investidor. O que estamos lutando é para tentar unificar”, contou o dirigente.

O presidente do São Paulo revelou que os times da Libra já lançaram concorrência para a venda dos direitos de transmissão dos times da Série A que o integram. Sem unificação, essa negociação será apenas dos jogos das equipes em casa, graças à Lei do Mandante.

“O que temos hoje de concreto? Temos o encaminhamento da venda de direitos de transmissão na TV aberta, pay-per-view, TV fechada e plataformas de internet desses nove clubes da Libra. Vamos dizer o seguinte: vamos discutir os melhores valores”, afirmou o cartola, que aproveitou para criticar a falta de padrão de qualidade nos estádios do Brasileirão.

“Claro que gostaria que a coisa fosse muito mais rápida para o bem do futebol. Temos gramados ruins, vestiários horrorosos, iluminação muito precária. E como vai vender isso para o exterior? O Maracanã foi fechado agora”, analisou Casares, referindo-se ao péssimo estado do gramado do estádio em que jogam Flamengo e Fluminense.

SAF

O dirigente também comentou as razões pelas quais o São Paulo ainda não se interessou em montar um projeto de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), como fizeram clubes como Botafogo, Vasco e Cruzeiro.

Eu não demonizo nem a SAF, nem o sistema associativo. Quando eu cheguei, em 2021, o caos era tão grande que, se eu fosse vender o São Paulo, teria que entregar o clube por uma dívida, o que infelizmente alguns clubes fizeram.

Julio Casares, presidente do São Paulo

“Hoje, temos uma SAF que lidera o campeonato [Botafogo], e temos outras SAFs que estão na faixa de rebaixamento [Coritiba e Vasco]”, acrescentou.

Casares, porém, não vê a curto prazo a possibilidade de o São Paulo se tornar uma SAF.

“Acredito que o São Paulo vai discutir isso em algum tempo, com pilares de reconstrução trabalhados. O São Paulo poderá trabalhar num outro sistema de capitalização do futebol, que é o nosso objetivo”, disse o dirigente, ressaltando que não foi procurado por nenhum investidor para se tornar uma SAF.

Apostas

Casares também defendeu as punições impostas pela Fifa aos jogadores que participaram de um esquema de manipulação de jogos em benefício de um grupo de apostadores.

“Uma coisa é uma pessoa jogar, outra é um profissional do esporte jogar e depois cometer um crime. Isso é repugnante. O São Paulo repudia esse tipo de coisa. Apostar está dentro da configuração humana. Agora, quando vê situações como essas de simularem situações de jogo, não dá. Hoje, a Fifa determinou punições, e apoiamos isso”, enfatizou o dirigente.

Por fim, Casares ainda lembrou que não é só o São Paulo que conta com patrocínio de uma casa de apostas (Sportsbet.io), mas quase todos os times da Série A do Brasileirão (o Cuiabá é a única exceção). Para ele, é necessário a regulamentação desse segmento.

“Vejo positivamente a regulamentação [das apostas], talvez a criação de uma secretaria específica. Mas a punição tem que ser exemplar. 90% dos clubes têm marcas de apostas dominando o campeonato. É um fato novo dentro do Brasil”, finalizou.

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